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Nigéria

Nigéria: dois septuagenários na corrida à Presidência

 A Nigéria vai finalmente este sábado escolher o seu Presidente, entre os 73 candidatos, os favoritos são o Presidente cessante Muhammadu Buhari e o antigo vice-Presidente Atiku Abubakar.

Muhammadu Buhari e Atiku Abubakar em 2014
Muhammadu Buhari e Atiku Abubakar em 2014 Photo: Pius Utomi Ekpei/AFP
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Adiadas poucas horas antes da abertura das urnas no passado sábado (16/02), pela Comissão Eleitoral Nacional Independente - INEC - que alegou problemas logísticos e de segurança, as eleições gerais inicialmente agendadas para 12 de Fevereiro, terão mesmo lugar este sábado (23/02) garantiu esta quinta-feira (21/02) a Comissão Necional Eleitoral
Independente - INEC.

Este adiamento custou ao país cerca de 1.5 milhões de dólares, segundo a Câmara do Comércio e Indústria de Lagos, devido ao encerramento do porto e aeroporto, viagens de milhares de eleitores para votarem nas suas zonas de origem e a deslocação de cerca de um milhão de agentes eleitorais em todo o país, a economia parou parcialmente na sexta feira (15/02) passada, havendo no entanto quem aponte para entre 9 e 10 milhões de dólares, o equivalente a 2% do PIB da Nigéria.

Esta sexta-feira (22/02) é dia de reflexão para os mais de 84 milhões de eleitores inscritos, que além do Presidente e vice-Presidente, vão eleger os senadores e deputados para as duas câmaras do parlamento para os próximos 4 anos, no mais populoso país de África, com 190 milhões de habitantes, entre os quais 87 milhões vivem abaixo do limiar da pobreza, apesar de a Nigéria ser o primeiro produtor africano de petróleo, que representa 70% das receitas públicas e 90% das receitas de exportações.

A eleição dos 36 governadores federais está agendada para 9 de Março, em vez de 2 como inicialmente previsto.

Num país minado pela corrupção e pela miséria, onde mais de 60% da população tem menos de 30 anos e vota muito em função da religião e etnia, os favoritos à presidência são dois septuagenários muçulmanos e Haussas : o Presidente cessante e ex-general Muhammadu Buhari com 76 anos de idade e problemas de saúde, candidato do partido All Progressives Congress - APC - que já dirigiu os destinos da Nigéria em 1983 durante a ditadura militar, cuja luta serà renhida com o seu histórico rival o empresário milionário mas com reputação de corrupto Atiku Abubakar de 72 anos, antigo vice-presidente do país entre 1999 e 2007, candidato do People's Democratic Party - PDP - partido dos dois ex-Presidentes Olusegun Obasanjo e Goodluck Jonatahan, que governou o país durante 16 anos.

Segundo o índice de percepção da corrupção avaliado pela ONG Transparência Internacional em 2018 a Nigéria figura na posição 144 nos 180 países analisados.

Estes dois dinossauros da política não deixaram de focalisar as suas campanhas na luta contra a corrupção, mas este argumento dificilmente seduz o eleitorado, de um país assolado pela violência inter-comunitária e criminalidade no sudeste petrolífero, mas não só, com frequentes ataques perpetrados por grupos jihadistas como Boko Haram activo sobretudo no Estado de Borno no nordeste do país, mas também o grupo Vingadores do Delta do Niger, que na semana passada manifestaram o seu apoio ao opositor Atiku Abubacar.

Os ataques de Boko Haram provocaram a fuga de mais de 2 milhões de nigerianos, que se refugiaram em vários campos na cidade de Maiduguri, capital do Estado de Borno, onde as autoridades garantem que o escrutínio vai decorrer, apesar de o conflito armado persisitir.

Os grupos rebeldes armados surgiram nos anos 2000 para exigir uma melhor distribuição da riqueza gerada pelo petróleo e foram parcialmente amnistiados pelo Presidente Goodluck Jonatahan, mas em 2015 quando Muhammadu Buhari chegou ao poder, prometeu suspender os acordos e a violência regressou ao país.

O sudeste da Nigéria tem reservas de petróleo e de gás estimadas em 70 mil milhões de barris - figurando entre as 10 maiores reservas mundiais - mas a região continua pobre e sub-desenvolvida.

Após décadas de exploração e de extrema pobreza, a população contesta a partilha das receitas petrolíferas com o resto do país, pelo que a questão do federalismo, vem à baila em cada nova eleiçao e o opositor Atiku Abubakar já se manifestou a favor de uma certa descentralização, em termos de poder e de distribuição das receitas.

O último escrutínio em 2015 também foi adiado por 6 semanas pelo governo do então Presidente Goodluck Jonathan decorreu sem grandes tormentos, enquanto em 2011 as eleições gerais foram adiadas duas vezes, uma delas quando a votação já tinha começado e a Nigéria foi então palco de violências pós eleitorais opondo cristãos e muçulmanos, que causaram mais de mil mortos.

Desta vez os dois candidatos favoritos às presidenciais Muhammadu Buhari e Atiku Abubakar assinaram na semana passada um "acordo de paz", prometendo não encorajar a violência e respeitar os resultados das urnas.

Devido à baixa do preço do petróleo a Nigéria sofreu em 2016 a pior recessão dos últimos 25 anos, mas a economia levanta-se passo a passo, segundo dados oficiais que apontam para um crescimento de 1,9% em 2018 e uma aceleração de 2,8% no terceiro trimestre, segundo dados divulgados oficialmente na semana passada, o que a oposição denuncia como uma manobra política, para convencer os eleitores de que o país está bem.

A Nigéria é um país profundamente dividido entre o sul maioritariamente cristão e o norte predominantemente muçulmano, onde centenas de comunidades cohabitam, um país instável, onde conflitos étnicos e criminalidade generalisada ameaçam constantemente a segurança nacional.

Desde a instauração do multipardarismo em 1999 a compra de votos é comum neste país, onde milhares de pessoas participam nos comícios apenas no intuito de receberem algumas nairas - a moeda local - ou bens alimentares e de primeira necessidade, distribuidos para alegada compra de votos.

 

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