Acesso ao principal conteúdo
Argélia

Argélia: protestos contra 5° mandato de Bouteflika

Têm sido constantes os protestos contra o 5° mandato do Presidente Abdelaziz Bouteflika de 81 anos de idade, no poder desde 1999 e cuja saúde está muito debilitada, o acto será oficializado a 3 de Março fim do prazo para apresentação de candidaturas com vista às eleições presidenciais de 18 de Abril.

Presdiente Abdelaziz Bouteflika na inauguração em Argel da mesquita Ketchaoua, um dos seus últimos actos públicos a 9 de Abril de 2018.
Presdiente Abdelaziz Bouteflika na inauguração em Argel da mesquita Ketchaoua, um dos seus últimos actos públicos a 9 de Abril de 2018. REUTERS/Ramzi Boudina
Publicidade

O anúncio da candidatura de Abdelaziz Bouteflika às eleições presidenciais de 18 de Abril, foi feito por comunicado no passado dia 10 de Fevereiro e a partir do dia 22 do mesmo mês, milhares de pessoas manifestaram um pouco por todo o país, contra a sua candidatura, respondendo a apelos lançados nas redes sociais.

Um novo movimento de protesto dos estudantes surgiu na passada sexta-feira (23/02) no campus da Universidade de Argel, onde a polícia não pode penetrar, mas cercou-a com um forte dispositivo de carros e elementos das forças da ordem.

00:59

Protestos contra 5° mandato de Abdelaziz Bouteflika

No dia seguinte foram os advogados que saíram às ruas, domingo e segunda-feira (24 e 25/02) registaram-se protestos esporádicos e de novo esta terça-feira (26/02) milhares de estudantes manifestaram dentro das suas faculdades nas grandes cidades do país e na capital Argel mais de 500 estudantes manifestaram dentro da Universidade, aos quais se juntou um cortejo de vários milhares de pessoas.

Pela primeira vez desde sexta-feira a polícia não só colocou cadeados para os impedir de sair e por vezes utilisou gazes lacrimogéneos para dispersar os manifestantes, que ripostaram lançando pedras contra as forças da ordem, com palavras de ordem como "Não a um 5° mandato", "Bouteflika fora" ou ainda "Argélia livre e democrática".

Os manifestantes, foram apoiados pelos cidadãos que lhes ofereceram garrafas de água, dispersaram-se calmamente no final da tarde 

Esta segunda-feira (25/02) o primeiro-ministro Ahmed Ouyahia reagiu pela primeira vez aos protestos, admitindo que manifestar é um direito, ressalvou o número importante de manifestantes e que estas decorreram em ambiente de calma, mas alertou para os riscos de "possíveis e sérias derrapagens", apelando os argelinos à vigilância, mas na realidade as manifestações apesar de não serem proíbidas, são raramente autorizadas.

Pela quarta vez consecutiva, depois de 2004, 2009 e 2014 o seu director de campanha é Abdelmalek Sellal seu antigo primeiro-ministro duas vezes (entre 2012 e 2017) que anunciou esta segunda-feira (25/02) que a candidatura de Bouteflika será oficializada a 3 de Março, fim do prazo para apresentação de candidaturas, que serão em seguida examinadas a 10 de Março: resta saber quantas e quais serão as validadas.

As manifestações contra Bouteflika não são novidade na Argélia, país que escapou às chamadas Primaveras Árabes em 2011 e acreditou no seu vasto programa de reformas de 2014 - apesar de muito parcialmente cumprido - a novidade é que desta vez os protestos deixaram de ser sectoriais e passaram a ser globais, num país maioritariamente jovem e onde o desemprego atinge um terço dos jovens com menos de 25 anos, que nunca viram outro rosto na presidência do país.

Paralelamente 11 Associações de Estudantes lançaram através das redes sociais o seu apoio à candidatura de Abdelaziz Bouteflika.

Quase 54% da população argelina, de cerca de 15 milhões de habitantes, tem menos de 30 anos e Abdelaziz Bouteflika que está no poder desde 1999 e foi sempre reeleito com mais de 80% de votos, praticamente não é visto em público desde que em 2013 sofreu um AVC que teve sequelas publicamente desconhecidas, mas que o deixou paralisado, deslocando-se apenas em cadeira de rodas e quase mudo.

Paira o espectro da "década negra", período da guerra civil na Argélia, entre 1992 e 2002, à qual o Presidente Abdelaziz Bouteflika é tido como o homem que lhe pôs fim e reconciliou o país, mas após a época áurea da subida do preço do petróleo entre 2004 e 2014, durante a qual ele construiu importantes infra-estraturas, essencialmente rodoviárias e reduziu para 2% do PIB a dívida externa, a Argélia mergulhou de novo na recessão, apesar de ser o 3° produtor de petróleo em África e o 9° a nível mundial.

A ong Repórteres Sem Fronteiras - RSF - acusa o regime de estar a amordaçar a comunicação social e denuncia uma vaga de repressão sem precedentes contra josnalistas à margem das manifestações, que são presos, agredidos, vêm o seu material confiscado e dificultado o acesso à Internet.

Esta terça-feira (26/02) e pela primeira vez os orgãos estatais "cobriram" os protestos.

Na classificação mundial da liberdade de imprensa em 2018 feita pela RSF a Argélia figura no lugar 136 em 180 países.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.