Curdos iraquianos referendam eventual independência
Cerca de 5 milhões de curdos iraquianos estão hoje a votar num referendo sobre a eventual independência do Curdistão iraquiano, região autónoma desde 1992, quando caiu o regime de Saddam Hussein.
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Esta é uma consulta que quase ninguém quer – só Israel a apoia. UE, americanos e britânicos, e sobretudo Bagdade, Ancara e Teerão estão veemente contra o referendo. Defendem a integridade territorial do Iraque e já ameaçaram com represálias económicas e políticas.
A Turquia e o Irão têm levado a cabo exercícios militares junto à fronteira com o Curdistão iraquiano, e Ancara está hoje a dificultar a passagem de mercadorias e pessoas em Habur, no maior posto fronteiriço entre a Turquia e essa região do norte do Iraque.
Ancara ameaça também com sanções económicas, incluindo cortar com a passagem do petróleo do Curdistão iraquiano para os portos turcos no mediterrâneo, a principal fronte de receita do governo autónomo.
Massoud Barzani, líder dos curdos iraquianos, promoveu o referendo no meio de alguma contestação interna, de uma crise política – o seu mandato terminou em 2015 – e de uma crise económica grave devido à queda do preço do petróleo e ao cancelamento das transferências orçamentais de Bagdade, que já não se efectuam há alguns anos.
Barzani apela agora ao forte sentimento nacionalista dos curdos, e aproveita também o facto dos seus peshmerga – os soldados curdos – terem consolidado a sua presença no norte do Iraque com a retirada dos jihadistas do Daesh, incluindo em zonas disputadas entre Erbil, a capital do Curdistão Iraquiano, e Bagdade, que representam metade da área da região autónoma, como a cidade petrolífera de Kirkuk, coabitada por curdos e árabes, cujo estatuto não está resolvido.
O Tribunal Constitucional iraquiano já declarou o voto de hoje ilegal e sem efeito.
É pouco provável que Massoud Barzani, líder dos curdos iraquianos, declare imediatamente e unilateralmente a independência, mas será difícil parar o processo de secessão que hoje se aprofunda.
Será o princípio do fim do Iraque actual, um estado falhado desde a primeira Guerra do Golfo, e que só se tem mantido devido ao apoio americano.
Correspondência de Ancara
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