“O FMI não é só apagar fogos. Se há sinais de fumo, deve atacar desde o início”. As palavras são do economista angolano Francisco Paulo em reacção ao programa de assistência técnica do FMI iniciado esta semana em Angola. Para o investigador, o governo devia ter ido mais longe e pedido assistência financeira.
O Fundo Monetário Internacional iniciou, a 1 de Agosto, um programa de assistência técnica a Angola. Trata-se de um programa não financeiro que visa assistir na implementação de medidas de gestão macroeconómica e aumentar a credibilidade externa do país.
“Quando as contas de um país são apresentadas com o aval do FMI – que é uma instituição internacional credível – isso dá uma visão de transparência por parte do governo, que não tem nada que esconder. O que aconteceu com Moçambique quando se detectou que havia dívidas que não estavam registadas? Deu cabo da imagem do país”, explica o economista Francisco Paulo.
No entanto, o investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola admite que a intervenção do FMI “é um sinal de que é precisa cautela porque o FMI não é só apaga-fogo e se há sinais de fumo deve atacar desde o início”.
Para Francisco Paulo, “Angola perdeu uma grande oportunidade” porque “podia muito bem pedir um empréstimo ao FMI porque o FMI concede empréstimos a taxas de juro mais baixas no mercado”.
“Angola é membro do FMI, faz a contribuição das quotas, então tem direito ao financiamento pelo FMI a taxas de juro mais baixas no mercado”, reitera.
Ainda que “o país precise de dinheiro” devido à falta de diversificação da economia, Francisco Paulo considera que “o governo pode muito bem gerir o pouco dinheiro que tem” que, apesar de ser pouco, “em comparação com outros países da região é um orçamento milionário”.
O economista considera como “inviável” a recomendação do FMI de duplicar o preço dos combustíveis para eliminar os subsídios atribuídos à Sonangol "porque terá um impacto muito grande na vida dos cidadãos".
Sobre a implementação, prometida para 2019, do IVA, Francisco Paulo fala em “mais um imposto” e alerta que se devia dar “mais tempo para se permitir que as empresas tenham contabilidade mais organizada e que todas as unidades comerciais tenham a possibilidade de emitir factura electrónica”.
Quanto à evolução da economia sob a presidência de João Lourenço, o analista avisou que “ainda é cedo”.
“Pior do que está, não pode ficar. O povo não aguenta isso. É grave. Só quem vive em Luanda, em Angola, consegue sentir o problema que o povo tem em ter acesso à educação, em ter acesso à saúde, mesmo a compra de bens, serviços. Então, não pode piorar e o próprio presidente João Lourenço sabe disso”, concluiu.
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