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Artes

“Angola Janga”, uma história de resistência em BD

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A banda desenhada “Angola Janga”, de Marcelo D’Salete, retrata um dos mais conhecidos focos de resistência negra do Brasil colonial e acaba de ser lançada em Portugal, depois de ter sido editada em França. Neste programa, falamos também com Marcello Quintanilha, que lançou agora, em França, a BD “Luzes de Niterói”.

"Angola Janga", de Marcelo D'Salete, foi publicada em França em Abril de 2018.
"Angola Janga", de Marcelo D'Salete, foi publicada em França em Abril de 2018. "Angola Janga", de Marcelo D'Salete
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Neste programa, damos-lhe a conhecer os universos gráficos e as histórias de Marcello Quintanilha e Marcelo D’Salete, dois autores brasileiros que estão a seduzir o mercado editorial da banda desenhada em França.

Uma história de resistência: “Angola Janga” de Marcelo D’Salete

Marcelo D’Salete dedicou 11 anos da sua vida a escrever e desenhar “Angola Janga, Uma história de Palmares”, um símbolo de liberdade durante a escravatura. O interesse de Marcelo D’Salete pelo tema surgiu em 2004 durante um curso sobre a história do Brasil, nomeadamente, sobre a história da população negra no país, e o livro foi editado em 2017 no Brasil e este ano em Portugal e em França.

O mesmo tema inspirou-o a fazer outra BD sobre a resistência dos escravos no Brasil, “Cumbe”, editada em 2014.

Agora, “Angola Janga” aborda o Quilombo dos Palmares, formado no fim do século XVI, em Pernambuco, de mocambos criados por escravos que fugiram. Por mais de 120 anos, Angola Janga foi como um reino africano dentro da América do Sul que se organizou e resistiu aos ataques das forças coloniais portuguesas. A história de “Angola Janga”, que significa “Pequena Angola”, na língua banto quimbundo, inspira-se nos grupos de origem angolana que foram obrigados a ir para o Brasil.

"Palmares ou Angola Janga foi constituído por mais de 20.000 pessoas. Eles estavam criando uma outra forma de sociedade bem diferente do modo extremamente hierárquico, violento do poder colonial", descreveu.

Para Marcelo D’Salete, a banda desenhada tem sido uma ferramenta para falar do Brasil contemporâneo e do passado colonial com um olhar irreverente e artístico.

"É uma tentativa de falar sobre o Brasil, no presente e também no passado, de uma perspectiva periférica e negra. São quatro livros até agora. Começou com o livro "Noite Luz", em 2008, e depois o livro "Encruzilhada", de 2011. Estes dois livros são livros muito urbanos, falando sobre o período actual em grandes cidades como São Paulo. Depois, veio o livro "Cumbe", de 2014, e o livro "Angola Janga", de 2017. São todos trabalhos que, de certo modo, estão olhando para a nossa sociedade de uma perspectiva periférica, marginal e, em grande parte, negra", explicou.

“As epopeias pessoais” em “Luzes de Niterói” de Marcello Quintanilha

Outro ilustrador brasileiro, Marcello Quintanilha, acaba de lançar em França a banda desenhada “Luzes de Niterói” e está a apresentar a obra em várias cidades francesas. Galardoado, em 2016, no Festival Internacional de Angoulême com o livro “Tungsténio, o autor teve uma exposição recente no Festival de BD da Amadora, em Portugal, onde também apresentou Luzes de Niterói, uma história de aventura e de amizade.

"Luzes de Niterói é uma história de aventura, mas também uma história de amizade. É a história de dois colegas que observam alguém que está pescando com explosivos e se lançam ao mar para tirar algum benefício dos peixes que restaram (...) É uma história que se passa nos anos 50 e é baseada na vida do meu pai que era jogador de futebol profissional nessa época", contou Marcello Quintanilha.

Porém, os dois amigos vão ser "surpreendidos por uma tempestade que vai fazer com que a relação de amizade deles seja posta à prova" devido "ao medo e risco de vida a que são submetidos".

A revista cultural francesa Telérama escreveu, a propósito de "Luzes de Niterói", que "com Quintanilha a banda desenhada brasileira encontrou o seu Homero", algo que para o autor se deve "à associação de metáforas que existem na história".

"Vidas relativamente banais que poderiam ser entendidas por muitas pessoas como vidas banais adquirem um carácter de epopeia que exalta a magnificência da mitologia de cada pessoa (...) Eu acredito muito na epopeia pessoal de cada um dos indivíduos por mais quotidianas e comezinhas que possam parecer essas vidas", referiu.

 

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