Angola: "zungueiras" querem criminalização e indemnização às famílias
A morte a tiro pela polícia esta terça-feira em Luanda de uma "zungueira", levou à detenção de dois polícias por disparos indiscriminados, mas a Associação de Vendores Ambulantes quer também que as famílias das vítimas sejam ressarcidas.
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O assassínio a tiro esta terça-feira (13/03) por um polícia em Luanda da jovem "zungueira" ou vendedora ambulante Juliana Cafrique, ocorreu no quadro da Operação Resgate em curso em Angola desde Novembro de 2018 e o comandante-geral da polícia Paulo de Almeida que já pediu desculpas à sua família, afirmou que o agente que disparou está detido, será submetido a um processo disciplinar e criminal, que poderá culminar no seu afastamento da corporação, admitindo que ele "disparou perante uma cidadã indefesa".
Já o porta-voz do comando provincial da polícia de Luanda, Mateus Rodrigues afirmou esta quinta-feira (14/03) em conferência de imprensa que "nada justifica um disparo indiscriminado contra uma cidadã...e que dois agentes foram detidos e serão responsabilizados disciplinar e criminalmente".
Há registo de feridos e foram detidos pelo menos 18 suspeitos de envolvimento em acções de arruaça, danos maeriais e insurreição contra as forças de segurança.
José Ambrósio Cassamo, Associação Vendedores Ambulantes de Angola
A Associação Nacional de Vendedores Ambulantes, que tem 7.386 aderentes nas províncias de Luanda, Benguela, Bié, e Huambo, está a expandir-se para o Lubango e Moxico, e pretende ser a maior Associaçao de Angola.
Em Angola, o comércio ambulante, feirante e de bancadas é autorizado por lei, mediante em certo enquadramento, mas o presidente da Associação dos Vendedores Ambulantes, José Ambrósio Cassoma, afirma que o governo não a cumpre e sistematicamente dá ordem de repressão contra os vendedores informais.
Esta Associação pede desde há três anos um encontro com o governo para analisar a questão dos vendedores ambulantes - zungueiras, quinguilas e quitandeiras - na sua maioria do sexo femininio, sem ter obtido qualquer resposta, além da ordem de repressão policial, segundo o presidente da mesma.
José Ambrósio Cassoma afirma que esta não é a primeira morte de "zungueiras" no país e pediu o apoio da associação de advogados Mãos Livres, para apresentar uma queixa crime contra o governo Provincial de Luanda e a polícia, para obter por um lado a responsabilização criminal e a expulsão da corporação dos polícias implicados na morte de Juliana Cafrique, mas também para que as famílias das vítimas sejam ressarcidas.
Ana Nassapalo Kapoco, "zungueira" em Benguela
Ana Nassapalo Kapoco, de 22 anos de idade exerce a actividade de"zungueira" desde 2012, apesar de ter feito estudos e ter a ambição de ser enfermeira, não consegue emprego na província de Benguela onde reside, e é o único sustento da sua família de três bébés e cujo marido está no desemprego.
Pessoalmente ela nunca foi vítima de violência física, mas assistiu à repressão contra outras colegas, que viram as suas bancas destruídas pela polícia, que ou lhes confisca os bens ou pura e simplesmente os espalha pelo chão, provocando a sua perda e/ou estragos.
De recordar que o termo "zungueira" tem a sua origem etimológica na palavra "zunga" uma expressão da língua kimbundu, que em tradução literal para português significa circular, andar à volta ou girar e em jargão de Luanda e por extensão em Angola designa os vendedores ambulantes ou comerciantes de rua.
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