Anfitrião da Rio+20, Brasil sofre críticas por Belo Monte e Código Florestal
O Brasil recebe a partir da semana que vem milhares de participantes e pelo menos 102 chefes de Estado para a Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20, no Rio de Janeiro. Embora o país tenha bons exemplos a dar para o mundo, é criticado por contradições provocadas pelo acelerado crescimento econômico registrado nos últimos 20 anos.
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Se por um lado, o Brasil conseguiu reduzir consideravelmente o desmatamento da floresta amazônica e defende ter a matriz energética mais renovável entre as principais economias, por outro, para se desenvolver, impulsiona projetos massivos de infraestrutura, incluindo hidrelétricas e estradas na Amazônia. Na ponta da língua dos ambientalistas estão projetos polêmicos que alcançaram repercussão internacional como o novo Código Florestal e a construção da usina Belo Monte. A usina, a terceira maior hidrelétrica do mundo, modifica o coração da Amazônia e ameaça povos indígenas que vivem em terras ancestrais no Xingu.
No momento em que o Brasil se prepara para acolher a cúpula da ONU Rio+20 para discutir a sustentabilidade do planeta, a hidrelétrica Belo Monte, o maior projeto de infraestrutura do País, orçado em cerca de 13 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 26 bilhões), é um exemplo dos dilemas que enfreta a sexta economia do planeta. Belo Monte, que teve a oposição de ambientalistas e celebridades, como o cantor britânico Sting e o cineasta canadense James Cameron, usará cimento suficiente para construir 48 estádios iguais ao Maracanã. A obra do canal de 20 km que desviará o rio irá remover terra equivalente ao Canal do Panamá.
O início da construção, há exatamente um ano, alterou a cidade de Altamira, a 40 km, e os municípios vizinhos, uma região ligada ao resto do país pela rodovia Transamazônica, que atravessa o estado do Pará. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA pediu em 2010 que as obras parassem para os índios serem consultados. O Brasil rejeitou o pedido, argumentando que as comunidades haviam sido informadas sobre as mudanças.
"Dizem que é uma obra de desenvolvimento, mas não atraiu mais dinheiro para os bolsos da população. Queremos nossos rios, a floresta", ressalta Antonia Melo, uma das principais vozes do grupo Xingu Vivo, que reúne ambientalistas e moradores contrários a hidrelétrica.
Modelo de crescimento
O professor da UNB Eduardo Viola, especialista em negociações climáticas, alerta que a usina de Belo Monte ou do Código Florestal são apenas exemplos de um modelo de crescimento que o Brasil precisa rever. “Na minha avaliação, estamos vivendo um retrocesso em desenvolvimento sustentável em relação ao que foi feito de 2001 a 2009. A questão dos transportes, por exemplo, é muito grave”, afirma Viola. “Estamos indo na direção oposta, com cada vez mais estímulo a um complexo automobilístico de todo o tipo de veículo, sem nenhum controle ambiental, que só piora a mobilidade urbana e a qualidade de vida das pessoas.”
Viola lembra, entretanto, que o país promoveu avanços importantes desde a Rio-92, como a redução drástica do desmatamento e o comprometimento voluntário de diminuição das emissões de gases de efeito estufa. O geógrafo François Michel Le Tourneau, especialista em Brasil na Universidade Sorbonne Nouvelle, prefere ressaltar estes pontos positivos.
“É claro que poderia ser melhor e a polêmica sobre o Código Florestal deixou vários rastros”, avalia Le Tourneau. “Mas nenhum país é completo quando se fala em meio ambiente. O Brasil tem vários trunfos: o desmatamento está caindo a cada ano mais e o Brasil desenvolveu um novo discurso em relação à economia verde, para pensarmos em novas formas de utilizar os recursos naturais.”
A conferência Rio+20 começa oficialmente no dia 13 de junho, porem a presença dos chefes de Estado e de governo vai ocorrer entre os dias 20 e 22.
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