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França/Brasil

França distingue "grito de denúncia" do povo Krenak

A fundação France Libertés vai premiar, este sábado, a campanha “Justiça para o povo Krenak” que tem vindo a denunciar aquele que é considerado o pior desastre ambiental do Brasil. Em Novembro de 2015, a ruptura da barragem de Mariana, no Brasil, provocou uma avalanche de milhões de metros cúbicos de lama tóxica ao longo de centenas de quilómetros, inundando aldeias e destruindo plantações, animais e o Rio Doce.

Rio Doce, contaminado pela lama tóxica, a desaguar no Oceano Atlântico. 24 de Novembro de 2015.
Rio Doce, contaminado pela lama tóxica, a desaguar no Oceano Atlântico. 24 de Novembro de 2015. AFP
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Geovani Krenak é o representante dos Krenak, um povo autóctone que hoje tem 120 famílias que vivem em sete aldeias nas margens do Rio Doce, em Minas Gerais. O “crime” de Novembro de 2015, com a ruptura da barragem de Mariana, destruiu seu o modo de vida deste povo e a campanha “Justiça para o povo Krenak” visa denunciar o que aconteceu e exigir a penalização dos responsáveis, nomeadamente a grande empresa de exploração mineira Vale.

Geovani Krenak, porta-voz do povo Krenak, vai receber o prémio da France Libertés-Fondation Danielle Mitterrand este sábado, em Paris, depois de ter participado, também na capital francesa, na Cimeira Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos.

07:55

Entrevista a Geovani Krenak, Prémio France Libertés

Em entrevista à RFI, Geovani Krenak explicou que o prémio distingue “o grito de denúncia do povo Krenak” e, mais do que isso, é um “prémio para a resistência dos povos indígenas” aos ataques ao meio-ambiente.

Essas pessoas da France Libertés viram que o povo Krenak está no último grito de denúncia. O prémio é para a resistência dos povos indígenas. Eu não vejo isso como um prémio para o povo Krenak, mas para os povos que defendem o rio, defendem a mata, defendem o meio-ambiente porque essas riquezas não são só necessárias para os povos indígenas. [Por exemplo] todos sabem da importância da Amazónia para o mundo. A Amazónia é o pulmão do mundo”, afirmou.

Com este prémio, Geovani Krenak espera que “o grito” tenha eco internacional para sensibilizar o mundo contra a degradação da natureza:

Vejam a luta que a gente está travando por algo que é de todo o mundo, por algo que é necessário para a sobrevivência de todo o planeta. Eu espero que essa homenagem cause uma reflexão nas pessoas para que vejam porque é que a gente está lutando”, continuou.

Geovani Krenak também participou, entre 29 e 31 de Outubro, na Cimeira Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos, em Paris, onde alertou para a necessidade de se proteger tanto a natureza quanto os povos indígenas. O apelo foi feito dois dias depois da eleição de Jair Bolsonaro a presidente do Brasil. Krenak teme que as políticas do novo presidente contribuam para o aumento da perseguição dos povos autóctones e para investida industrial sobre as terras, com a consequente destruição da natureza.

É triste a situação. É um momento de denúncia e, inclusive, de preparar para algo pior do que esse cenário actual. Ou seja, o número de assassinatos de indígenas pode aumentar. Pior no sentido de o território - que é por direito dos povos indígenas - ser tomado. O ministério do Meio Ambiente poderá deixar de existir”, indicou.

Geovani Krenak  também lembrou que “os verdadeiros activistas do mundo desde sempre são os povos indígenas”: “Porque desde a chegada de outras culturas ao nosso território, nós brigámos pelo território por entender que a Terra deve ser protegida, a natureza fornece-nos tudo o que a gente precisa sem precisar de a destruir.”

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