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França/Brasil

Estilos diferentes de Dilma e Lula são tema de crônica do Le Monde

“Ele é ele, eu sou eu”. Esse é o título de uma crônica assinada pelo correspondente do vespertino francês Le Monde no Brasil, Jean-Pierre Langellier, dedicada a comparar os estilos da presidente Dilma Roussef, e do seu antecessor, o ex-presidente Lula. A ordem da presidente aos seus ministros de não comemorar a data simbólica dos 100 primeiros dias de seu governo, dia 10 de abril, já é reveladora de uma mudança, observa o cronista.

Posse da presidente Dilma, em 1° de janeiro de 2011.
Posse da presidente Dilma, em 1° de janeiro de 2011. Reuters / Paulo Whitaker
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Dilma, como é chamada por todos, não tem do que se envergonhar nesses seus primeiros meses de governo, e até os jornais brasileiros, mais próximos da oposição, se derretem em elogios à presidente, escreve Langellier. Segundo ele, a presidente já começou a imprimir discretamente sua marca e autoridade à frente do estado brasileiro e até sua popularidade no início de mandato é maior do que a registrada no mesmo período por seu mentor político e padrinho, Lula.

As comparações entre o ex-presidente, chamado de superstar, e de sua afilhada política que viveu muito tempo na sombra, já se impõem. Em relação ao estilo, o contraste é total afirma o jornalista, fazendo um paralelo entre a oratória do carismático Lula, e sua enorme capacidade de improvisação em um discurso, e da sóbria Dilma, que não tem e não terá jamais a verve de Lula e prefere se limitar ao que está escrito no discurso preparado. A vantagem dessa previsibilidade, observa o cronista, é que Dilma não corre o risco de cometer gafes, como aconteceu com Lula.

Além de trabalhar em um ritmo acelerado, sem pausas até para almoçar e marcando reuniões até nas tardes de sexta-feira com seu gabinete, Dilma também não aceita rebeliões e é mais rápida, como demonstrou ao demitir três altos funcionários indisciplinados. Lula demorava a arbitrar conflitos pessoais e de poder, analisa Langellier.

Outra diferença observada pelo correspondente do Le Monde é que Dilma, com sua experiência de tecnocrata, governa o Brasil como presidente de uma grande empresa, isto é, apostando no rigor de um sistema de gestão para que o estado funcione e esteja em ordem. Exigente com ela mesma, Dilma age e raciocina em termos de objetivo e prioridades.

Imagem

A presidente também "encontrou" sua imagem pessoal, representada, segundo o jornalista, na foto oficial, com os cabelos curtos e maquiagem que dão brilho à sua face. E também através de suas roupas, principalmente em tons claros.

Mas é sobretudo com sua imagem política que Dilma é mais preocupada, escreve Langellier, lembrando que ela foi elogiada por ter visitado rapidamente o Rio de Janeiro, acompanhada de sete ministros e pisando na lama, durante a pior catástrofe natural do país, em janeiro. Lula, em uma situação parecida, teria demorado mais, sugere o jornalista.

A presença da presidente em dois programas de televisão apresentados por mulheres foi mencionada como exemplo de que ela privilegia, em sua estratégia de comunicação, realçar o papel feminino na sociedade e, na prática, valorizá-lo também ao promover mulheres em altos cargos da função pública. Nos 240 altos cargos da administração pública, 28% são ocupados por mulheres, ou seja, 75% a mais que durante a era Lula.

Na relação com a imprensa, Dilma também revelou distância do ex-presidente ao defender a independência dos veículos de comunicação e avisar, antes mesmo de assumir o cargo, que não quer brigar com a imprensa, enquanto Lula dizia em alto e bom som que a leitura de jornais lhe dava dores de estômago.

Muito presente nos discursos de Lula, Deus desapareceu nos discursos de Dilma que até ordenou a retirada de um crucifixo do gabinete presidencial para demonstrar que o estado brasileiro é laico.

A grande reviravolta política de Dilma em relação a Lula foi na diplomacia, lembra o jornalista, citando o voto do Brasil favorável a um relator para investigar a situação dos direitos humanos no Irã.

A crônica termina mencionando o descontentamento da presidente Dilma com a recusa de Lula em participar de um banquete em homenagem a Barack Obama que reuniu na mesa todos os ex-presidentes brasileiros. A atitude de Lula foi considerada deselegante por Dilma. Os dois mantém relações afetuosas e regulares, dizem seus assessores, o que não impede a presidente Dilma de expressar suas diferenças, conclui o jornalista do Le Monde.
 

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