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Ex-ministro francês muda de endereço a cada dois dias 'para fugir da pressão'

A principal manchete de hoje é a primeira entrevista à imprensa do ex-ministro do Orçamento francês, Jerôme Cahuzac, após seu indiciamento na justiça por lavagem de dinheiro e fraude fiscal. O escândalo estremece o governo socialista de François Hollande e dá ao mundo a imagem de um chefe de Estado enfraquecido e superado pelos acontecimentos.

Capa dos jornais franceses, La Depeche du Midi, Les Echos e L'Humanité desta quinta-feira, 11de abril.
Capa dos jornais franceses, La Depeche du Midi, Les Echos e L'Humanité desta quinta-feira, 11de abril.
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Uma semana após ter confessado ter conta bancária não declarada em paraíso fiscal, depois de ter mentido durante quatro meses a Hollande e ao plenário do parlamento, Cahuzac afirma em entrevista ao jornal regional La Dépêche du Midi que muda de endereço a cada dois dias, fugindo da pressão da mídia e da opinião pública. Por telefone, Cahuzac explicou ao jornal que tem sido hospedado por familiares nas regiões da Normandia, Bretanha e Bordeaux, bem longe do centro da vida política em Paris.

Na entrevista, o ex-ministro, que pediu demissão do governo e já foi expulso do Partido Socialista pelo escândalo, afirma não ter decidido ainda se vai retomar seu mandato parlamentar como deputado. Quando entrou no governo, Cahuzac foi substituído na Assembleia por um suplente e agora que se desligou da pasta, pela lei ele tem até o dia 19 de abril para reassumir seu mandato parlamentar.

O clima na Assembleia não é favorável a um retorno de Cahuzac. O ex-ministro enriqueceu como médico, fazendo implantes capilares, antes de entrar na política. Segundo rumores, ele não declarava boa parte dos rendimentos com essa atividade. Em 1992, Cahuzac abriu uma conta no banco suíço UBS, protegido pela legislação do sigilo bancário na Suíça. Quando estourou o escândalo do UBS, ele teve medo de ser descoberto e transferiu sua poupança para Cingapura, um paraíso fiscal mundialmente conhecido.

O pronunciamento do presidente François Hollande ontem na televisão sobre medidas de moralização da vida pública é analisado pelos jornais.

O diário econômico Les Echos afirma que as propostas de Hollande fortalecem o arsenal legislativo de combate à fraude fiscal. O progressista Libération questiona se Hollande tem munição para fazer alguma coisa na França contra os paraísos fiscais e estima que o presidente não propôs nada de novo. Levar os bancos a declarar suas filiais em paraísos fiscais já vem acontecendo. Quanto a fechar o cerco aos correntistas europeus que escondem dinheiro em paraísos fiscais dentro do continente, Hollande não age sozinho, pois essa é uma demanda dos governos da Alemanha, Itália, Espanha e do Reino Unido.

O jornal comunista L'Humanité viu no discurso do líder socialista um pouco de moralidade e muita austeridade. Hollande deixou claro que não vai rever as medidas de rigor, nota o L'Humanité, apesar das críticas à explosão do desemprego. O católico La Croix julga que a fala de Hollande na TV não provocou o choque de moralização esperado e o presidente francês segue profundamente desgastado. Le Figaro faz um trocadilho com o slogan de campanha de Hollande, que era Mudança já. "Moral já", diz a manchete do diário conservador, bordão que mais parece piada na boca de um presidente enfraquecido.
 

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