Brexit, Frente Nacional e Guiana Françesa em destaque nos jornais franceses

A maioria dos diários franceses puxam para a primeira página a notícia do divórcio entre Londres e Bruxelas. O caso Le Pen e a Guiana Françesa são também os temas com mais destaque.

Tigrane Yegavian

O diário Libération apresenta uma primeira página sugestiva “ já nos fazem falta ou não". Enquanto Londres põe em marcha oficialmente a sua saída da União Europeia, o diário de esquerda imaginou dois cenários para o futuro do Reino Unido, numa alusão às vantagens e inconvenientes do Brexit.

No seu editorial, Laurent Joffrin sublinha que o Reino Unido age como uma ilha separada do velho continente, relativizando a importância do futuro deste país fora da União. Afinal de contas, o Brexit não pode ser considerado como uma catástrofe mas sim como um aviso para consolidar a solidariedade entre os países e os povos da União, fraquejados pela situação actual.

O Libération entrevistou o actual presidente do grupo liberal no parlamento europeu, Guy Verofstad, responsável pela negociação do Brexit. Segundo ele, os Estados membros têm de ter em conta os interesses da Irlanda, o país mais ameaçado pelo Brexit.

Por seu lado, o La Croix interessa-se pelas preocupações dos cidadãos britânicos radicados nos países do sul do velho continente. Em Portugal, onde se contabilizam 40 000 residentes britânicos, um correspondente do diário católico na cidade de Cascais encontrou-se com um inglês que, curiosamente, votou a favor do Bréxit. Enquanto em Espanha, onde existe a maior comunidade inglesa da Europa, com mais de 300 000 pessoas, há quem pense em renunciar a nacionalidade britânica para obter a espanhola.

Dá-se também destaque à política françesa: Valls escolhe Macron correndo o risco de implodir o partido socialista, titula o Le Monde, enquanto que o  La Croix questiona a coerência entre os candidatos e os seus programas respetivos. Por seu lado, o Libération escolheu Jean-Luc Mélenchon para “homem do dia”, sublinhando a sua dinâmica de aceleração neste última fase da campanha para a primeira volta das eleições presidenciais. Mélenchon, segundo o Le Monde, trabalha para afastar e marginalizar os comunistas no seio da sua formação política.

Enquanto cresce o sentimento de insegurança sobre o futuro da Europa, a campanha em França foi marcada este fim-de-semana por tensões entre a candidata da extrema-direita Marine Le Pen e a sua sobrinha, Marion Maréchal Le Pen. O Figaro revela que, em caso de vitória, a presidente da Frente Nacional não irá confiar um ministério à sobrinha, que criticou a sua “rigidez” em alusão à rivalidade entre Marion Maréchal e o número 2 do partido, Florian Filippot, braço direito de Marine Le Pen.

Por seu lado, o diário católico La Croix interessa-se pelo difícil posicionamento dos bispos franceses perante os candidatos, no âmbito de uma reunião que teve lugar ontem na cidade de Lurdes.

Marine le Pen também entra em destaque no Le Monde. O vespertino francês consagra a sua capa aos “negócios da Frente Nacional", ao publicar documentos que comprometem o partido de extrema-direita. O jornal revela correspondências e notas escritas pelo tesoureiro da Frente Nacional, que mostram a vontade do partido em realizar “economias” à conta do Parlamento europeu, com a justificação oficial de utilizar os mesmos fundos para revalorizar os salários dos assistentes parlamentares. Aymeric Chauperade, antigo alto responsável da Frente Nacional e eurodeputado, fala “de um sistema mafioso” comparando o seu antigo partido a uma “empresa privada com uma fachada ideológica” fim de citação.

Em relação à situação explosiva na Guiana françesa, território ultramarino alvo de graves tensões sociais, o diário l’ Humanité, foi entrevistar a politóloga Françoise Vergès. Segundo esta especialista do ultramar, a greve que sacude a Guiana é sintomática da crise que abala o conjunto do ultramar francês, “totalmente abandonados” por Paris. “Há um desejo de imaginar-se francês mas de outra maneira". 

Para o diário Libération, que entrevistou o escritor da Guiana françesa, Antonin Varenne, o clientelismo e a corrupção são factores importantes que explicam o agravamento dos problemas.

Por seu lado, o Figaro investiga as razões que levaram a população a sair à rua. Este território sofreu com a explosão do tráfico de drogas, com uma justiça impotente, com a circulação de armas que levaram ao aumento brutal da violência armada e com a incapacidade dos poderes locais para enfrentar este fenómeno. Segundo o diário conservador, 2016 fez explodir a violência, ao mesmo tempo que a única prisão do território ultramarino está saturada por prisoneiros oriundos dos países vizinhos.

Enfim, o La Croix anuncia a estreia do filme franco-senegalês “Felicidade”, um retrato deslumbrante de uma mulher solteira cujo destino é abalado pela notícia do acidente do seu filho adolescente. Rodado em Kinshasa, “Felicidade” foi premiado pela Berlinale e o FESPACO.