Moçambique: Desviar ajuda "é um crime público"
Autoridades moçambicanas prometem reforçar a fiscalização e aplicar punições exemplares. Parlamento de Moçambique aprovou esta semana a criação de um grupo de trabalho para avaliar a transparência na assistência às vítimas do ciclone.
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Pelo menos três pessoas estão detidas na cidade da Beira por implicadas no desvio da ajuda humanitária para as vítimas do ciclone IDAI, anunciou com preocupação a Procuradoria-Geral da República.
"Estamos preocupados com desvios de donativos na província de Sofala. Como Ministério Público nós entendemos que é um crime público e o ofendido é o Estado. Não interessa quem esteja a doar esses bens", afirmou Joaquim Tomo. O porta-voz da Procuradoria provincial de Sofala anunciou ainda a abertura de uma linha verde grátis com o número 1407 para denúncias. "Não queremos que haja impunidade. A ideia de que as pessoas possam desviar esses bens sem que respondam", acrescentou.
"O deficiente é excluído em todas as vertentes" denúncia a Associação dos Cedos e Amblíopes de Moçambique que também se fez ouvir e apresentou queixas da exclusão dos seus membros na canalização da ajuda humanitária.
A Associação dos Cegos e Amblíopes de Moçambique na província de Sofala, através do seu presidente Alberto Campunze exige a inclusão e transparência na distribuição da ajuda aos afectados pelo ciclone IDAI como nos relata o nosso correspondente em Maputo, Orfeu Lisboa.
Correspondência de Maputo
As autoridades moçambicanas registavam esta quinta-feira 353 novos casos de cólera no centro do país, elevando para 2.094 o registo de pessoas que já foram infectadas no surto que se seguiu ao ciclone Idai. A percentagem de doentes curados é de 94%, havendo a registar duas mortes.
A União Europeia desembolsou um milhão de euros para o apoio às despesas logísticas da assistência humanitária às vítimas do ciclone Idai no centro de Moçambique, anunciou o Programa Alimentar Mundial.
Em declarações à agência de notícias portuguesa lusa, o arcebispo da Beira, Claudio Dalla Zuanna, afirmou que o ciclone Idai foi um acontecimento devastador, mas que pode dar lugar a um renascimento do centro de Moçambique. "É preciso ajudar a população a melhorar a qualidade das habitações, construindo estruturas mais seguras", justificou o arcebispo da Beira.
"Construir tendo presente a experiência de outros países que passam por estas calamidades naturais", disse, reclamando a aposta numa "reconstrução inteligente", por oposição às construções precárias habituais.
O Papa Francisco vai visitar Moçambique em Setembro, uma deslocação que pode ajudar o mundo a não se esquecer do país, depois da passagem do ciclone Idai, que matou pelo menos 598 pessoas e devastou o centro do país. O arcebispo da Beira, Claudio Dalla Zuanna, relativiza qualquer leitura política desta visita por coincidir com a campanha eleitoral, antes das eleições gerais de 15 de Outubro.
Arcebispo da Beira, Claudio Dalla Zuanna
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