Violentas manifestações contra Ortega na Nicarágua
Ontem à noite, ao fim do quinto dia de violentas manifestações contra o seu projecto de reforma do sistema de aposentações durante as quais 10 a 25 pessoas poderão ter morrido, o Presidente da Nicarágua anunciou o abandono deste polémico projecto.
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"Devemos restabelecer a ordem, não podemos permitir que que se imponham aqui o caos, o crime e as pilhagens" declarou ontem à noite o Presidente Ortega que nos últimos dias tem enfrentado a pior onda de contestação desde que regressou ao poder em 2007, com manifestações que degeneraram em cenas de pilhagens e confrontos com a polícia em vários pontos do país.
De acordo com o Centro Nicaraguano dos Direitos do Homem, 25 pessoas perderam a vida nestas violências, nomeadamente menores e também o jornalista Angel Gahona, 33 anos, morto a tiro em pleno directo televisivo na localidade de Bluefields, na costa caribenha. Este balanço, contudo, não foi confirmado por fontes oficiais cujas últimas informações, datando da passada Sexta-feira, dão conta de 10 mortos.
Esta situação não deixou de suscitar reacções. Os Estados Unidos condenaram "a violência e a força excessiva utilizada pela polícia", a União Europeia apelou "as forças da ordem à contenção" e o Papa Francisco apelou os nicaraguanos a "resolver o conflito pacificamente".
Na génese desta onda de violência esteve o projecto presidencial de reformar o sistema de aposentações. A ideia era aumentar as contribuições sociais dos trabalhadores mas igualmente das entidades patronais no intuito de reequilibrar o sistema de aposentações. Paralelamente, diminuía-se de 5% o valor das pensões de reforma no intuito de reduzir o défice da segurança social que se eleva actualmente a 76 milhões de Dólares, conforme recomendado pelo FMI.
Num contexto em que se tem reduzido o apoio financeiro da Venezuela, também em plena crise, este novo projecto de reforma cristalizou o descontentamento que tem vindo a aumentar no seio da população. Ortega tem sido acusado de ter progressivamente aumentado o seu controlo sobre as instituições do seu país. No seu dia-a-dia, os habitantes do país assistiram igualmente ao aumento das tarifas da electricidade e do combustível bem como à supressão de postos de trabalho no sector público.
Daí que para certos sectores de opinião, nomeadamente entre os estudantes -muito mobilizado- mas também o Conselho Superior do Sector Privado, entidade que até agora apoiava o executivo, o abandono do projecto de reforma do sistema de aposentações não seja considerado o suficiente, uma nova manifestação tendo sido agendada para esta tarde em Manágua, a capital.
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