Brasileiros escolhem Presidente a medo
Os brasileiros votam este domingo 7 de Outubro para eleger um Presidente numa primeira volta cheia de incertezas e marcada pelo avanço importante da extrema-direita. As últimas sondagens apontam o candidato Jair Bolsonaro como favorito com mais de 35% de votos frente ao principal rival, Fernando Haddad, que substituiu o antigo presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, preso e inelegível neste escrutínio.
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Este domingo, 147 milhões de brasileiros são chamados para eleger o próximo Presidente, governadores e uma parte dos parlamentares federais. Até ao último momento, os candidatos tentaram conquistar os indecisos. Este escrutínio decorre num contexto de crise económica e política sem precedente.
Do ponto de vista formal o acto eleitoral está a correr bem aponta Emerson Cervi, professor de ciências políticas na Universidade federal do Paraná, sul do Brasil, mas de um ponto de vista político o Brasil vive uma crise de representação profunda.
Emerson Cervi, professor de ciências políticas na Universidade federal do Paraná, sul do Brasil
Os brasileiros sofreram decepções com escândalos de corrupção, mais divididos do que nunca, o país representa um tereno fértil para a subida de extremismos.
Pela primeira vez, um candidato de extrema-direita é o grande favorito na primeira volta. Jair Bolsonaro não participou em nenhum debate com os outros candidatos. Machista, racista, homofóbico, o candidato do Partido Social Liberal (PSL) conseguiu afastar o rival Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT). Em segundo lugar, bem atrás, encontra-se o candidato que substituiu do antigo Presidente Lula.
Fernando Haddad teve dificuldades em juntar eleitores populares do antigo chefe de Estado e criar uma dinâmica à esquerda. O PT escolheu como slogan "Haddad é Lula e Lula é Haddad". A mensagem funcionou parcialmente. O candidato do PT teve dificuldade em guardar os 40% dos brasileiros que estavam prontos a votar em Lula. Jair Bolsonaro conquistou simpatizantes mesmo sem o bastão PT do Nordeste, a região mais pobre do Brasil.
Fernando Haddad decidiu mudar a agenda este sábado, 6 de Outubro, e fez campanha no Estado da Bahia, que conta tradicionalmente com apoiantes do PT. Depois de ter poupado o rival com comentários críticos, Haddad passou ao ataque e comparou Jair Bolsonaro a Hitler num vídeo.
Ainda assim, Bolsonaro conseguiu manter os seus eleitores, recebeu, inclusive, importantes apoios, como o do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo. O líder da Igreja Universal manifestou apoio e abriu espaço para entrevista exclusiva no dia do debate da Globo. Segundo o Instituto Datafolha, metade dos apoiantes de Bolsonaro são evangélicos.
"É o medo que conduz os eleitores de Bolsonaro", diagnosticou a politóloga brasileira Beatriz Pedreira. Vão votar nele porque têm medo do Lula, uma personalidade que continuou presente na campanha. A maioria dos eleitores que apoiam Bolsonaro fazem-no por represálias ao PT.
Segundo uma sondagem do instituto Datafolha, 68% dos brasileiros mostram-se chateados com as eleições, 88% dizem não se sentirem seguros e 79% estão tristes com a situação do país. Este escrutínio, que escolhe uma mudança política, está a ser dominado pelo medo e não pela esperança.
A campanha subiu de tom com o candidato do PSL a conquistar as redes sociais. Hospitalizado depois de ter sido esfaqueado durante um comício, Jair Bolsonaro aproveitou a convalescença para enviar vídeos e mensagens nas redes sociais. Omnipresente na internet, ganhou o sobrenome de "candidato Whatsapp". Os seus ângulos de ataque não mudaram: "o PT é responsável pela situação do país, no plano político, económico mas também moral".
Este discurso apoiado em argumentos anti-sistema conseguiu passar para os seus fiéis apoiantes nas redes sociais. E apesar de tudo, Jair Bolsonaro recebeu o apoio de uma boa parte desse "sistema", isto é o mundo das finanças e parlamentares com ligaçes à agro-indústria.
A luta das mulheres brasileiras
Ao perspectivar uma possível vitória do antigo militar numa segunda volta, ou até mesmo este domingo, as mulheres brasileiras fizeram-se ouvir. Edna Jatoba, advogada e militante no Recife, no norte do país, juntou-se ao movimento "Ele não". A sociedade civil mostrou-se contra as ideias do candidato de extrema-direita; "houve uma mobilização que nasceu de baixo para cima, organizada por mulheres em todas as principais cidades do Brasil que recusam aceitar o projecto de Jair Bolsonaro", declarou a activista.
Os resultados do escrutínio começam a ser divulgados depois do encerramento das urnas no estado do Acre, às 19h00 no horário da capital, Brasília.
Cerca de 147,3 milhões de eleitores escolhem o próximo Presidente do Brasil que no dia 1 de Janeiro vai subsituir o Presidente Michel Temer (MDB), o mais impopular desde o fim da ditadura militar (1964-1985).
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