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Mundo

Brasileiros escolhem Presidente a medo

Os brasileiros votam este domingo 7 de Outubro para eleger um Presidente numa primeira volta cheia de incertezas e marcada pelo avanço importante da extrema-direita. As últimas sondagens apontam o candidato Jair Bolsonaro como favorito com mais de 35% de votos frente ao principal rival, Fernando Haddad, que substituiu o antigo presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, preso e inelegível neste escrutínio.

Brasileiros esperam para votar no Rio de Janeiro, 7 de Outubro de 2018
Brasileiros esperam para votar no Rio de Janeiro, 7 de Outubro de 2018 REUTERS/Sergio Moraes
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Este domingo, 147 milhões de brasileiros são chamados para eleger o próximo Presidente, governadores e uma parte dos parlamentares federais. Até ao último momento, os candidatos tentaram conquistar os indecisos. Este escrutínio decorre num contexto de crise económica e política sem precedente.

Do ponto de vista formal o acto eleitoral está a correr bem aponta Emerson Cervi, professor de ciências políticas na Universidade federal do Paraná, sul do Brasil, mas de um ponto de vista político o Brasil vive uma crise de representação profunda.

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Emerson Cervi, professor de ciências políticas na Universidade federal do Paraná, sul do Brasil

Os brasileiros sofreram decepções com escândalos de corrupção, mais divididos do que nunca, o país representa um tereno fértil para a subida de extremismos.

Pela primeira vez, um candidato de extrema-direita é o grande favorito na primeira volta. Jair Bolsonaro não participou em nenhum debate com os outros candidatos. Machista, racista, homofóbico, o candidato do Partido Social Liberal (PSL) conseguiu afastar o rival Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT). Em segundo lugar, bem atrás, encontra-se o candidato que substituiu do antigo Presidente Lula.

Fernando Haddad teve dificuldades em juntar eleitores populares do antigo chefe de Estado e criar uma dinâmica à esquerda. O PT escolheu como slogan "Haddad é Lula e Lula é Haddad". A mensagem funcionou parcialmente. O candidato do PT teve dificuldade em guardar os 40% dos brasileiros que estavam prontos a votar em Lula. Jair Bolsonaro conquistou simpatizantes mesmo sem o bastão PT do Nordeste, a região mais pobre do Brasil.

Fernando Haddad decidiu mudar a agenda este sábado, 6 de Outubro, e fez campanha no Estado da Bahia, que conta tradicionalmente com apoiantes do PT. Depois de ter poupado o rival com comentários críticos, Haddad passou ao ataque e comparou Jair Bolsonaro a Hitler num vídeo.

Ainda assim, Bolsonaro conseguiu manter os seus eleitores, recebeu, inclusive, importantes apoios, como o do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo. O líder da Igreja Universal manifestou apoio e abriu espaço para entrevista exclusiva no dia do debate da Globo. Segundo o Instituto Datafolha, metade dos apoiantes de Bolsonaro são evangélicos.

"É o medo que conduz os eleitores de Bolsonaro", diagnosticou a politóloga brasileira Beatriz Pedreira. Vão votar nele porque têm medo do Lula, uma personalidade que continuou presente na campanha. A maioria dos eleitores que apoiam Bolsonaro fazem-no por represálias ao PT.

Segundo uma sondagem do instituto Datafolha, 68% dos brasileiros mostram-se chateados com as eleições, 88% dizem não se sentirem seguros e 79% estão tristes com a situação do país. Este escrutínio, que escolhe uma mudança política, está a ser dominado pelo medo e não pela esperança.

A campanha subiu de tom com o candidato do PSL a conquistar as redes sociais. Hospitalizado depois de ter sido esfaqueado durante um comício, Jair Bolsonaro aproveitou a convalescença para enviar vídeos e mensagens nas redes sociais. Omnipresente na internet, ganhou o sobrenome de "candidato Whatsapp". Os seus ângulos de ataque não mudaram: "o PT é responsável pela situação do país, no plano político, económico mas também moral".

Este discurso apoiado em argumentos anti-sistema conseguiu passar para os seus fiéis apoiantes nas redes sociais. E apesar de tudo, Jair Bolsonaro recebeu o apoio de uma boa parte desse "sistema", isto é o mundo das finanças e parlamentares com ligaçes à agro-indústria.

A luta das mulheres brasileiras

Ao perspectivar uma possível vitória do antigo militar numa segunda volta, ou até mesmo este domingo, as mulheres brasileiras fizeram-se ouvir. Edna Jatoba, advogada e militante no Recife, no norte do país, juntou-se ao movimento "Ele não". A sociedade civil mostrou-se contra as ideias do candidato de extrema-direita; "houve uma mobilização que nasceu de baixo para cima, organizada por mulheres em todas as principais cidades do Brasil que recusam aceitar o projecto de Jair Bolsonaro", declarou a activista.

Os resultados do escrutínio começam a ser divulgados depois do encerramento das urnas no estado do Acre, às 19h00 no horário da capital, Brasília.

Cerca de 147,3 milhões de eleitores escolhem o próximo Presidente do Brasil que no dia 1 de Janeiro vai subsituir o Presidente Michel Temer (MDB), o mais impopular desde o fim da ditadura militar (1964-1985).

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