Macau: festival apostado na juventude
O 3° Festival internacional de cinema de Macau encerra nesta sexta-feira com o respectivo palmarés e consequente atribuição dos prémios. Foram seleccionados 11 filmes: a primeira ou a segunda longa metragem dos respectivos realizadores, uma aposta deste novo certame desde a edição 2017.
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Um certame ainda novo, pois, a apostar também na juventude ou, pelo menos, nas primeiras criações cinematográficas dos respectivos realizadores.
Macau optou, assim, desde o ano transacto, por não ser mais um novo festival a colocar os seus holofotes nos cineastas confirmados.
Nas duas primeiras edições, recorde-se, o prémio principal fora para dois filmes argentinos.
Da Argentina veio, precisamente, um dos onze filmes em competição "Sangre blanca" (sangue branco).
Trata-se da segunda longa metragem de Barbara Sarasola Day sobre um drama implicando as chamadas "mulas", pessoas que ingerem cápsulas de cocaína para a transportarem da Bolívia para a Argentina.
Uma expedição em que correm risco de vida: um drama com que se defronta a protagonista cujo namorado acaba por morrer e é obrigada a devolver a totalidade da droga transportada à rede que a contratou.
Aliás os dramas foram uma das principais tónicas dos filmes em competição no certame.
Foi o caso dos alunos franceses de uma escola secundária obcecados pela morte e pelo declínio da humanidade em "School's out/ L'heure de la sortie" (Hora do recreio) de Sébastien Marnier, por exemplo.
Mas também no reencontro de um ex refém com a sua raptora no coreano "Clean up" de Kwon Man Ki.
O traumatismo de uma violação por um conhecido de uma jovem alemã, obrigada a tornar-se colega de trabalho do agressor em "Alles ist gut" (tudo bem) de Eva Trobisch.
A ruptura dolorosa de dois casais, separados pela diferença de idade, num fim de semana passado à beira mar na localidade balnear inglesa de Scarborough foi, por sua vez, o mote do filme de Barnaby Southcombe.
A descida aos infernos da burguesia mexicana apanhada nas malhas da crise económica teve ilustração em "Las niñas bien" (Boas raparigas) de Alejandra Marquez Abella.
A morte do amigo de um jovem aluno japonês recém-chegado a uma escola cristã é o enredo do japonês Jesus de Hiroshi Okuyama.
Por seu lado o siberiano Ága, do búlgaro Milko Lazarov, filma o Norte polar e o definhar de uma idosa de um casal isolado nas paisagens da neve eterna.
Com os pais a tentarem reaproximar-se da filha que optara por ir para a cidade.
Uma noite de angústia nos serviços telefónicos de emergência da polícia é a proposta do brilhante "The guilty" (O culpado), quando um telefonista decide ir até às últimas consequências para desvendar um crime que lhe é relatado, filme do dinamarquês Gustav Moller.
O filme indiano "The man who feels no pain " (O homem que não sente dores), destoa deste leque ao propor, à moda do cinema de Bollywood, momentos musicais, pontuados por muita violência e artes marciais em torno do crescimento de dois jovens que não se querem perder de vista.
E isto numa obra de Vasan Bala.
Também o único filme chinês em competição, "Suburbian birds" (pássaros dos subúrbios", da autoria de Quiu Sheng, sai um pouco desse registo dramático.
Propondo contrapor dois universos: o de engenheiros adultos e o de um grupo de crianças da liga comunista, fascinados uns e outros pelos ninhos de pássaros.
Luís Urbano, da produtora portuguesa O som e a fúria, marca presença pelo segundo ano consecutivo no Festival internacional de cinema de Macau, como conselheiro internacional.
E isto para além de ter estado produzido o filme do seu compatriota Ivo Ferreira "Hotel Império", longa metragem que estreou neste certame e que tem como palco esta agora região administrativa especial da China.
Ele alega que o festival "está a crescer e a ganhar pernas para andar".
O também ex actor e realizador de curtas metragens afirma-se "feliz por estar a ajudar na consolidação de um festival".
Urbano aplaude a filosofia do certame em ter apostado em filmes de cineastas ainda não confirmados dizendo que, desta feita, o certame "cumpre um papel com uma selecção de filmes bem cuidada de plataforma de lançamento de novos talentos", o que, em seu entender, "é uma aposta ganha".
Este também ex actor e realizador de curtas metragens salienta, ainda o facto de este certame, propor à lusofonia uma janela aberta para a Ásia, nomeadamente em termos de co-produções.
Nesta edição de 2018, para além de "Hotel Império" esteve aqui em exibição "Diamantino" do português Gabriel Abrantes e do americano Daniel Schmidt, uma paródia de um futebolista luso, com forte sotaque micaelense, interpretado por Carloto Cotta.
Um filme com um universo pop a evocar Andy Warhol e os temas do momento como o afluxo de refugiados para a Europa ou a emergência de movimentos de extrema direita e a sacralização dos craques do futebol.
Uma obra que ganhou o Grande Prémio da Semana da crítica em Cannes, França, em Maio passado.
Ainda em termos de lusofonia, na edição de 2017 o filme brasileiro "As boas maneiras" de Juliana Rojas e Marcos Dutra esteve também aqui em exibição, numa mostra paralela, ou ainda o português "A fábrica de nada", premiado em Cannes, de Pedro Pinho.
O cinema das terras de Vera Cruz que foi premiado, na parte técnica, na competição, na edição inaugural, com "Elon não acredita na morte" do brasileiro Ricardo Alves Júnior.
Também o português "São Jorge" de Marco Martins ganhou dois prémios na estreia absoluta do certame em 2016.
O cineasta luso que marca presença este ano no festival, mas como membro do júri dos filmes asiáticos em cartaz.
Luís Urbano, produtor português, conselheiro internacional do Festival de cinema de Macau
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