Guaidó iniciou 1.000 quilómetros de “provocação”
Na Venezuela, o opositor Juan Guaidó partiu, esta quinta-feira, de Caracas para a cidade colombiana de Cucuta, na fronteira, para fazer entrar na Venezuela a ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos. Fernando Campos, Conselheiro das Comunidades Portuguesas na Venezuela, sublinha que esta viagem simbólica de cerca de 1.000 quilómetros tem "alguma dose de provocação".
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Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela a 23 de Janeiro e reconhecido por cerca de 50 países, deixou hoje Caracas em direcção à cidade colombiana de Cucuta. O seu objectivo é fazer entrar na Venezuela a ajuda humanitária aí estacionada, enviada pelos Estados Unidos e que o presidente Nicolás Maduro rejeitou.
O líder da oposição integrou uma caravana de uma dezena de veículos que deve percorrer os cerca de 1.000 quilómetros que separam Caracas da fronteira com a Colômbia. Uma viagem com intuitos humanitários mas também com “alguma dose de provocação”, na opinião de Fernando Campos, Conselheiro das Comunidades Portuguesas na Venezuela.
“De Caracas até à fronteira estamos a falar de quase 1.000 quilómetros de distância. As vias não são muito boas aqui na Venezuela e é pouco provável que ele possa chegar por via terrestre até lá porque vai haver muitos pontos de controlo, vão-lhe pôr muitos obstáculos e vão-lhe dificultar a chegada lá porque, no fundo, esta ida para a fronteira não deixa de ter alguma dose de provocação”, considerou Fernando Campos.
Fernando Campos, Conselheiro das Comunidades Portuguesas na Venezuela
Na quarta-feira, Nicolás Maduro voltou a denunciar a iniciativa como um “show político” e repetiu que o presidente norte-americano, Donald Trump, está a preparar uma intervenção militar para o tirar do poder: “Eles inventaram uma suposta ajuda humanitária com comida podre, cancerígena e querem fazê-la entrar à força”, afirmou.
Fernando Campos vê esta nova afirmação com incredulidade: “Sou-lhe muito sincero. Eu não acredito nisso. Quem é que vai acreditar numa coisa dessas? Como é que se lembraram que eles iam mandar comida contaminada?”
O português acrescentou que este tipo de argumentos está a descredibilizar Nicolás Maduro até junto dos que o apoiavam.
“A atitude do povo venezuelano – e quando falo do povo venezuelano falo do extracto mais baixo que era aquele que mais apoiava Nicolas Maduro – eu penso que a atitude da população mudou muito. A grande maioria das pessoas já não acredita nessas histórias”, acrescentou.
Nicolás Maduro, apoiado a nível internacional pela China e pela Rússia, prometeu impedir a entrada da ajuda humanitária na Venezuela e conta com o apoio do exército. Entretanto, um assessor militar adjunto da Venezuela junto da ONU, Pedro Chirinos, declarou, na quarta-feira, que reconhece Juan Guaidó como presidente interino. Esta semana, Juan Guaidó reiterou o apelo ao exército para se juntar a ele.
Para Fernando Campos, no “seio das Forças Armadas deve haver muitas vozes dissidentes” e “numa possível situação de confronto, as Forças Armadas não vão contra o povo”.
Juan Guaidó quer fazer entrar a ajuda humanitária na Venezuela no próximo sábado, precisamente um mês depois de se ter autoproclamado presidente interino do país.
Para sexta-feira, estão previstos dois concertos: o "Venezuela Aid Live", em Cucutá, organizado pelo milionário britânico Richard Branson, e "Hand off Venezuela", organizado pelo governo de Nicolas Maduro. O primeiro pretende apoiar a entrada da ajuda humanitária na Venezuela e o segundo quer granjear apoio contra essa iniciativa.
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