Presidente chileno pede "desculpa" e propõe medidas para acabar com indignação
Apesar do Presidente chileno ter anunciado uma viragem social, as principais organizações de trabalhadores e estudantes chilenas apelam a uma greve geral esta quarta e quinta-feira. O país protesta contra à presença das forças militares nas ruas.
Publicado a: Modificado a:
"Ouvimos as vozes dos que exprimem dor e esperança". Esta terça-feira à noite, no culminar do quinto dia de manifestações massivas nas maiores cidades do país, Sebastian Piñera voltou a dirigir-se aos chilenos. "Não fomos capazes de reconhecer a dimensão das desigualdades e abusos. Peço-vos desculpa por essa falta de visão", admitiu o Presidente de direita.
O aumento em 20% das reformas mais baixas, a revalorização do salário mínimo, a redução do salário dos deputados, a estagnação do preço de electricidade, aredução do preço dos medicamentos, o aumento do imposto sobre os rendimentos mais ricos... Piñera, que reuniu com vários presidentes de partidos políticos esta terça-feira, desdobrou uma longa lista de medidas ainda por submeter ao Senado ou por decreto presidencial. "Esta agenda social não vai resolver todos os problemas dos chilenos, mas é um esforço necessário e significativo para melhorar a qualidade de vida dos mais vulneráveis", declarou o chefe de Estado.
"Viva a greve ! Dizemo-lo em voz alta: chega de aumentos e de abusos !", tweetou a Centrale unitária dos trabalhadores (CUT), principal confederação sindical do Chile. Cerca de vinte organizações de trabalhadores e de estudantes apelam à greve geral hoje e amanhã, apesar das medidas apresentadas pelo Presidente chileno. Uma greve que ameaça ampliar a violenta crise social que, em seis dias, já tirou a vida a 18 pessoas. Os protestam condenam a decisão do Presidente em impor o estado de emergência em nove das 16 regiões do país, o recolher obrigatório e intervenção das forças militares. Cerca de 20.000 militares e agentes da polícia foram destacados.
Instituto Nacional de Direitos Humanos denúncias tortura
O Instituto Nacional de Direitos Humanos (NHRI) está a acompanhar dezenas de denúncias de tortura conduzidas pela polícia chilena. O Instituto Nacional de Direitos Humanos entregou 26 acções judiciais, em defesa de 129 pessoas que denunciam tortura, tratamento desumano pelas forças de segurança chilenas.
A estação de metro Baquedano teria servido como centro de detenção e tortura. A denúncia foi feita esta quarta-feira por uma equipa composta por membros do Instituto de Direitos Humanos da Polícia Investigativa do Chile, juntamente com funcionários da NHRI, que abriram investigações quanto a possíveis violações da lei.
"Conheço a jornalista que em conjunto com o instituto de direitos humanos, que é uma instituição independente do Estado, levantou as denúncias de um jovem que garante ter sido torturado juntamente com outras pessoas na estação de metro Baquedano, na Praça de Itália. A justiça está a investigar o caso", confirma o antropólogo chileno no metro de Santiago, Matías Wolff.
Segundo o antropólogo, a repressão aumentou e é mais intensa nos bairros sociais; "há muitos relatos nas redes sociais que mostram a brutalidade com que actuam a polícia militarizada e as forças armadas, destacadas nas ruas. Contabilizam-se 5 mortes provocadas pelas forças repressivas, a violência pode ainda escalar. Piñeratentou acalmar a população com as medidas, mas nas ruas eu vejo que as pessoas não acreditam nestas medidas".
antropólogo chileno no metro de Santiago, Matías Wolff
Apontadas falhas ao actual modelo económico
Pensões, saúde, salários... As reformas prometidas por Sebastian Piñera focam-se em temas importantes para os manifestantes. Esta terça-feira, milhares de chilenos juntaram-se pacificamente em Santiago, na capital chilena, enquanto aguardavam pelas medidas do chefe de Estado.
O aumento das pensões mais baixas passa de 110.000 para 132.000 pesos chilenos (de 136 a 163 euros). Um aumento que poderá aliviar, ainda que de insuficiente, a carteira de alguns reformados. Os anúncios não vão chegar para desmobilizar os protestos sociais, apontam manifestantes. O apelo a uma nova greve geral esta quarta e quinta-feira foi lançado por várias organizações sociais e sindicatos.
Interpelações violentas
Além das prometidas reformas, Sebastian Piñera não respondeu, terça-feira, ao principal pedido dos chilenos: a retirada das forças militares das ruas. "Sei que alguns querem acabar com o estado de emergência e com o recolher obrigatório. Todos queremos isso", declarou o Presidente. "Como Presidente do Chile, só poderei levantar o estado de emergência quando tiver a garantia de que a ordem pública, a tranquilidade e a segurança dos chilenos sejam respeitadas".
Na terça-feira vários representantes de partidos da esquerda recusaram-se a participar em reuniões com o Presidente, nomeadamente, por causa desta questão de manutenção do estado de emergência no país.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro