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Mundo

Presidente chileno pede "desculpa" e propõe medidas para acabar com indignação

Apesar do Presidente chileno ter anunciado uma viragem social, as principais organizações de trabalhadores e estudantes chilenas apelam a uma greve geral esta quarta e quinta-feira. O país protesta contra à presença das forças militares nas ruas.

Presidente chileno Sebastián Piñera discursou esta terça-feira, 22 de Outubro, em Santiago do Chile.
Presidente chileno Sebastián Piñera discursou esta terça-feira, 22 de Outubro, em Santiago do Chile. AFP Photos/Chilean Presidency/HO
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"Ouvimos as vozes dos que exprimem dor e esperança". Esta terça-feira à noite, no culminar do quinto dia de manifestações massivas nas maiores cidades do país, Sebastian Piñera voltou a dirigir-se aos chilenos. "Não fomos capazes de reconhecer a dimensão das desigualdades e abusos. Peço-vos desculpa por essa falta de visão", admitiu o Presidente de direita.

O aumento em 20% das reformas mais baixas, a revalorização do salário mínimo, a redução do salário dos deputados, a estagnação do preço de electricidade, aredução do preço dos medicamentos, o aumento do imposto sobre os rendimentos mais ricos... Piñera, que reuniu com vários presidentes de partidos políticos esta terça-feira, desdobrou uma longa lista de medidas ainda por submeter ao Senado ou por decreto presidencial. "Esta agenda social não vai resolver todos os problemas dos chilenos, mas é um esforço necessário e significativo para melhorar a qualidade de vida dos mais vulneráveis", declarou o chefe de Estado.

"Viva a greve ! Dizemo-lo em voz alta: chega de aumentos e de abusos !", tweetou a Centrale unitária dos trabalhadores (CUT), principal confederação sindical do Chile. Cerca de vinte organizações de trabalhadores e de estudantes apelam à greve geral hoje e amanhã, apesar das medidas apresentadas pelo Presidente chileno. Uma greve que ameaça ampliar a violenta crise social que, em seis dias, já tirou a vida a 18 pessoas. Os protestam condenam a decisão do Presidente em impor o estado de emergência em nove das 16 regiões do país, o recolher obrigatório e intervenção das forças militares. Cerca de 20.000 militares e agentes da polícia foram destacados.

Instituto Nacional de Direitos Humanos denúncias tortura

O Instituto Nacional de Direitos Humanos (NHRI) está a acompanhar dezenas de denúncias de tortura conduzidas pela polícia chilena. O Instituto Nacional de Direitos Humanos entregou 26 acções judiciais, em defesa de 129 pessoas que denunciam tortura, tratamento desumano pelas forças de segurança chilenas.

A estação de metro Baquedano teria servido como centro de detenção e tortura. A denúncia foi feita esta quarta-feira por uma equipa composta por membros do Instituto de Direitos Humanos da Polícia Investigativa do Chile, juntamente com funcionários da NHRI, que abriram investigações quanto a possíveis violações da lei.

"Conheço a jornalista que em conjunto com o instituto de direitos humanos, que é uma instituição independente do Estado, levantou as denúncias de um jovem que garante ter sido torturado juntamente com outras pessoas na estação de metro Baquedano, na Praça de Itália. A justiça está a investigar o caso", confirma o antropólogo chileno no metro de Santiago, Matías Wolff.

Segundo o antropólogo, a repressão aumentou e é mais intensa nos bairros sociais; "há muitos relatos nas redes sociais que mostram a brutalidade com que actuam a polícia militarizada e as forças armadas, destacadas nas ruas. Contabilizam-se 5 mortes provocadas pelas forças repressivas, a violência pode ainda escalar. Piñeratentou acalmar a população com as medidas, mas nas ruas eu vejo que as pessoas não acreditam nestas medidas".

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antropólogo chileno no metro de Santiago, Matías Wolff

Apontadas falhas ao actual modelo económico

Pensões, saúde, salários... As reformas prometidas por Sebastian Piñera focam-se em temas importantes para os manifestantes. Esta terça-feira, milhares de chilenos juntaram-se pacificamente em Santiago, na capital chilena, enquanto aguardavam pelas medidas do chefe de Estado.

O aumento das pensões mais baixas passa de 110.000 para 132.000 pesos chilenos (de 136 a 163 euros). Um aumento que poderá aliviar, ainda que de insuficiente, a carteira de alguns reformados. Os anúncios não vão chegar para desmobilizar os protestos sociais, apontam manifestantes. O apelo a uma nova greve geral esta quarta e quinta-feira foi lançado por várias organizações sociais e sindicatos.

Interpelações violentas

Além das prometidas reformas, Sebastian Piñera não respondeu, terça-feira, ao principal pedido dos chilenos: a retirada das forças militares das ruas. "Sei que alguns querem acabar com o estado de emergência e com o recolher obrigatório. Todos queremos isso", declarou o Presidente. "Como Presidente do Chile, só poderei levantar o estado de emergência quando tiver a garantia de que a ordem pública, a tranquilidade e a segurança dos chilenos sejam respeitadas".

Na terça-feira vários representantes de partidos da esquerda recusaram-se a participar em reuniões com o Presidente, nomeadamente, por causa desta questão de manutenção do estado de emergência no país.

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