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Ruanda

Herói do filme "Hotel Ruanda" declarado culpado de terrorismo

Paul Rusesabagina, cuja história inspirou o filme "Hotel Ruanda" e que se tornou um crítico ao regime do Presidente Paul Kagame, foi declarado culpado de "terrorismo", num julgamento considerado como "político" pelos seus simpatizantes.

Paul Rusesabagina assiste a uma audiência em Kigali, no Ruanda.
Paul Rusesabagina assiste a uma audiência em Kigali, no Ruanda. © AP - Muhizi Olivier
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"Fundou uma organização terrorista e contribuiu economicamente para actividades terroristas", afirmou a juíza Beatrice Mukamurenzi sobre o caso de Rusesabagina, pelo seu suposto apoio à Frente de Libertação Nacional (FLN), um grupo rebelde acusado de cometer ataques fatais entre 2018 e 2019 no Ruanda.

Paul Rusesabagina tornou-se famoso com o filme "Hotel Ruanda", que estreou em 2004. O filme relata como este hutu moderado salvou mais de 1.000 pessoas no genocídio de 1994, que tirou a vida a mais de 800.000 pessoas, principalmente tutsis.

Rusesabagina foi detido em condições controversas em Kigali, em Agosto de 2020. Entre os meses de Fevereiro a Julho deste ano, o opositor de Kagame foi julgado com outras 20 pessoas, por nove acusações, incluindo  terrorismo.

Em 2017, Rusesabagina participou da fundação do Movimento de Ruanda pela Mudança Diplomática (MRCD), do qual a FLN é considerada o braço armado. Sempre negou, no entanto, qualquer envolvimento nos ataques.

Nem o réu, que pode recorrer da decisão, nem os seus advogados estavam presentes durante a leitura da sentença, que boicotam as audiências desde Março, quando denunciaram um processo "político".

A família e simpatizantes afirmam que o julgamento é "um espectáculo montado pelo governo de Ruanda para silenciar um crítico e impedir qualquer dissidência futura".

"Sequestro"

Os Estados Unidos, que concederam a Rusesabagina a Medalha Presidencial da Liberdade em 2005, o Parlamento Europeu e a Bélgica expressaram preocupações com a legitimidade do julgamento.

Numa recente entrevista, o presidente de Ruanda Paul Kagame respondeu às críticas e declarou que Rusesabagina "seria julgado da forma mais justa possível".

Este processo "não tem nada a ver com o filme, ou com o seu status de celebridade. Trata-se de vidas de ruandeses perdidas, por causa de acções e pelas organizações, às quais pertencia, ou dirigia", afirmou Kagame.

Em reposta, Rusesabgina acusa o Presidente de autoritarismo e de promover sentimentos anti-hutu. Desde 1996, viveu exilado nos Estados Unidos e na Bélgica, onde obteve a nacionalidade do país europeu, até ser detido em Kigali em 2020, quando viajava de avião para o Burundi.

O governo de Ruanda admitiu ter "facilitado a viagem" a Kigali, mas afirmou que a prisão foi "legal" e que os "seus direitos nunca foram violados".

No julgamento, que durou cinco meses, testemunhos contraditórios sobre seu papel foram ouvidos; um porta-voz da FLN afirmou que Rusesabgina "não deu ordens aos combatentes" do grupo rebelde. Outro réu alegou que ordens procediam do ex-gerente de hotel.

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