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Somália

Somália organiza presidenciais no domingo em clima de divisão e insegurança

A Somália prepara-se para organizar eleições presidenciais no Domingo. Nestas eleições indirectas em que são os parlamentares que elegem o futuro Presidente, há 39 candidatos, entre os quais o Presidente cessante Mohamed Abdullahi Mohamed, dito "Farmajo'. Este escrutínio que decorre com vários meses de atraso, uma vez que o mandato do Presidente cessante já terminou há um ano, decorre em clima de profunda divisão e insegurança no país a braços há largos anos com a violência jihadista.

Região desértica do Puntland, na Somália.
Região desértica do Puntland, na Somália. Getty Images - Yannick Tylle
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39 candidaturas foram registadas para estas eleições presidenciais que vão decorrer sob alta vigilância num armazém do aeroporto da capital. Para ser eleito, um candidato tem que juntar pelo menos dois terços dos votos dos deputados e senadores (184 votos).

O chefe de Estado cessante Mohamed Abdullahi Mohamed, dito "Farmajo' é candidato a um novo mandato juntamente com outros 38 candidatos, entre os quais alguns antecessores, os antigos presidentes Hassan Cheikh Mohamud (2012-2017) e Sharif Cheikh Ahmed (2009-2012). Também é candidato o antigo Primeiro-ministro Hassan Ali Khaine (2017-2020).

O mandato do presidente 'Farmajo' eleito em 2017 chegou formalmente ao fim em Fevereiro do ano passado, sem que se tenha alcançado qualquer tipo de acordo com os diferentes dirigentes regionais sobre as modalidades de organização de novas eleições, com pano de fundo de profunda rivalidade entre o Chefe de Estado e o seu Primeiro-ministro, Mohamed Hussein Roble.

A tensão chegou ao rubro quando, depois de findar o mandato de 'Farmajo', parlamentares validaram a sua permanência no poder por mais dois anos (ou seja até 2023), o que provocou violências na capital do país. Estes incidentes e a pressão internacional acabaram por levar os actores políticos a enveredar pelo processo eleitoral.

"O contexto (deste processo) é o de uma luta terrível entre o Primeiro-Ministro e o Presidente cessante, o Presidente 'Farmajo' e o Primeiro-Ministro Mohamed Roble, porque eles representam facções diferentes e clãs diferentes com poder em Mogadíscio e este braço-de-ferro durou um ano, durante o qual a vida política da Somália esteve na prática suspensa", refere Manuel João Ramos, especialista do Corno de África ligado ao Instituto Universitário de Lisboa.

Esta situação de stagnação política e de incerteza, refere o investigador, "teve como efeito a retirada da Somália do conjunto de forças que lutavam contra o TPLF (separatistas do Tigray) na Etiópia e, finalmente, o Presidente 'Farmajo' aceitou aquilo que era óbvio, que as eleições estavam a atrasadas e tinham que ser realizadas sob pena de o país ser submetido a sanções por parte da União Europeia e dos Estados Unidos e, nomeadamente, a retirada de fundos de apoio humanitário e ao desenvolvimento que são vitais para a manutenção do regime em Mogadíscio".

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Manuel João Ramos, especialista do Corno de África

Ainda esta semana, numerosos parceiros da Somália, nomeadamente a ONU mas também a União Africana, a Liga Árabe, países ocidentais como os Estados Unidos e a França ou ainda países Árabes, assim como a Rússia e a Turquia exortaram as autoridades somalis a "concluir a última etapa do processo eleitoral rapidamente, pacificamente e de forma credível, para que as atenções se possam concentrar sobre as prioridades nacionais e de consolidação do Estado". 

O FMI avisou recentemente que iria interromper automaticamente o seu programa de ajuda ao país se no dia 17 de Maio não estivesse instalada uma nova administração em Mogadíscio. 

O futuro deste país extremamente dependente da ajuda exterior depende da realização destas eleições. 71% da população somali vice com menos de 1,90 Dólar por dia.

Somado à sua pobreza extrema, a população enfrenta há quinze anos uma situação de insegurança permanente com os ataques constantes do jihadistas 'Shebabs' ligados à Al Qaeda. 

Nestes últimos meses, o país tem igualmente enfrentado um das piores secas da história, organizações humanitárias receando que o país venha a atravessar um período de fome semelhante àquele que vivenciou em 2011 e em que morreram 260 mil pessoas. 

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