Encontro em Angola com aqueles que ficaram à margem do desenvolvimento
Depois do final da guerra civil em 2002, o governo angolano comprometeu-se a fazer grandes projectos que visam o desenvolvimento das infraestruturas do país, projectos por vezes contrários ao direito dos cidadãos à dignidade. Perto de três mil famílias que vivem na proximidade da via férrea na cidade de Lubango, capital de província, foram violentamente expulsas no mês passado.
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Nicolas Champeaux, enviado especial da RFI ao Lubango
As vítimas estão demasiado furiosas para aceitarem dar o seu testemunho. Os tanques de guerra demoliram as suas casas há um mês e hoje cerca de três mil famílias, os que tiveram mais sorte, dormem em tendas num terreno a seis quilómetros da cidade, longe das escolas e longe do centro de Lubango onde vendem os seus produtos no mercado clandestino.
Além disso a estrada esta cheia de buracos . " Isto dói-me no coração, não posso trabalhar mais, não tenho mais comida, durmo ao relento e está a chover, e inaceitável", protesta Alberto António, um dos desalojados, com 29 anos.
A responsável de província pelos assuntos sociais admite que o número de tendas é insuficiente, para além disso, algumas não são impermeáveis e agora é a época das chuvas em Angola.
Eduardo Inácio tem 62 anos e é um dos antigos combatentes do movimento rebelde UNITA durante a guerra civil. "Eu lutei para que o meu país ficasse em paz, mas nós não colhemos os frutos da paz, nós sofremos, e ainda por cima somos maltratados pelo governo".
Oposição denuncia expulsões
O Ministro da Saúde, José Vieira Dias Van Dunen, estima que as famílias tenham sido deslocadas para o seu próprio bem. "Viver assim perto de uma via férrea traz muitos riscos para as crianças", explica o ministro. O governo da província prometeu materiais de construção para permitir às famílias construir as suas casas num novo lugar. "Porque não o fizeram antes das expulsões?" , pergunta o partido da oposição.
A UNITA apoia o desenvolvimento das infraestruturas angolanas, mas mediante certas condições, explicou o deputado Almerindo Jaka Jamba que falou com as famílias expulsas do Lubango.
"Isto terá de ser feito durante a estação seca e não durante a época das chuvas e deve-se estudar a nova região onde a população irá ser realojada .Trata-se de uma situação verdadeiramente dramática , deve-se proteger a população desalojada que se encontra frequentemente sem defesa, porque não podemos brincar assim com as pessoas", afirmou à RFI Almerindo Jaka Jamba, antigo embaixador de Angola na Unesco.
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