Angola: a febre da denúncia
Em Angola os utilizadores das redes sociais lançaram um movimento sob o lema “acaba de me matar” ou “bloco na cabeça” para mostrar o descontentamento com as políticas aprovadas recentemente pelo governo de João Lourenço.
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São várias fotografias onde se vê pessoas com blocos de cimento, botijas, caixões, colunas de som e outros objectos pesados em cima do corpo. As imagens associadas ao hashtag “acaba de me matar” ou “bloco na cabeça” são sempre acompanhadas por um texto onde o internauta denuncia alguma situação.
O movimento que surgiu há cerca de uma semana, logo a seguir à aprovação do Orçamento Geral de Estado 2018, pretende mostrar a indignação com as políticas do governo de João Lourenço.
Em entrevista à RFI, a socióloga Maria dos Santos refere-se a este tipo de comportamento como “um fenómeno social” que está a ser aproveitado pelos mais jovens para se fazerem ouvir junto da classe política.
“ Este tipo de comportamento com as fotografias com blocos e outros objectos pesados é como se fosse uma forma de manifestar. Já que as pessoas falam e não são ouvidas, as pessoas tentam expressar-se de outras maneiras. Alguns dirigentes denominam a juventude de frustrados (…) se eles estão frustrados é porque alguma coisa não está bem”, admite.
A socióloga reconhece que numa sociedade as manifestações são reprimidas pelo uso de gás lacrimogénio e pelo recurso à violência, as redes sociais surgem como alternativa para dar voz a quem não tem.
“ Os jovens tentam manifestar e as pessoas do poder vão atirando gás lacrimogéneo, vêm com cães e batem às pessoas. As redes sociais, normalmente, dão palco e dão voz a quem não tem”, acrescenta.
Maria dos Santos, socióloga angolana
Activistas cívicos, militares e músicos já aderiram a esta iniciativa, como é o caso do kudurista Nagrelha dos Lamba.
Com a colaboração de Daniel Frederico.
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