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França

França: Confrontos entre a polícia e manifestantes em Paris

Cerca de 220 manifestações dos profissionais da saúde decorreram um pouco por toda a França. A intenção dos manifestantes era protestar contra a falta de meios, visível durante a pandemia de Covid-19, e uma revalorização dos salários.

Confrontos entre polícia e manifestantes durante os protestos dos profissionais da saúde.
Confrontos entre polícia e manifestantes durante os protestos dos profissionais da saúde. © AFP - ALAIN JOCARD
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Em quase todo o território francês as manifestações decorreram num bom ambiente, no entanto em Paris e em Nantes ocorreram confrontos violentos entre as forças da polícia e manifestantes, que segundo as autoridades eram elementos exaltados que integraram as manifestações dos profissionais da saúde.

Patrick Pelloux, Presidente da Associação dos médicos dos serviços de urgências em França, estava furioso com os acontecimentos e explicou que as violências ocorreram por causa de elementos exteriores aos profissionais da saúde: «Pessoas exaltadas infiltraram-se na manifestação, muitas delas disfarçadas com batas para se parecerem com médicos ou enfermeiras. Os profissionais da saúde não são violentos e não atacaram os polícias. A polícia reagiu às provocações de pessoas exaltadas, acho normal eles reagirem aos ataques. Nas próximas manifestações vamos ter de nos organizar com um serviço de segurança mais amplo».

Uma manifestação autorizada pelo chefe da polícia de Paris, que partiu pelas 14h30, hora local, do Ministério da saúde e devia dirigir-se até a Assembleia Nacional, no entanto acabou na zona de Invalides, no Museu da Guerra.

Promessas por cumprir

Os profissionais de saúde ouviram durante toda a crise sanitária o Governo a prometer mudanças nos hospitais e uma melhoria das condições de trabalho, no entanto até agora nada mudou.

Luzia Matos, enfermeira portuguesa em Paris, grevista mas obrigada a trabalhar para assegurar os serviços mínimos, lembrou as reivindicações dos manifestantes.

«Uma revalorização do salário e do nosso trabalho. Um reconhecimento também, em vez de serem empregos precários, e o fim da desigualdade de género entre homens e mulheres.Sinto que os funcionários hospitalares em França são mal pagos. visto que temos um trabalho de risco. Trabalhamos por turnos, trabalhamos aos fins de semana, feriados, festas, até combatemos o Covid-19», afirmou, acrescentando que durante a pandemia: «Toda a gente ficou fechada em casa, obrigada a não sair para evitar a propagação da epidemia, enquanto nós estamos na linha da frente».

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Luzia Matos, enfermeira portuguesa em Paris

No que diz respeito aos salários, Luzia Matos explicou que, um enfermeiro no início da sua carreira recebe apenas mais 200 a 300 euros do que o SMIC, o salário mínimo em França.

Para a enfermeira há um movimento de solidariedade da parte da população, mas a memória de alguns parece ser curta: «Os aplausos? Os aplausos, isso agora acabou. Penso que as pessoas têm a noção que o pessoal que trabalha nos hospitais esteve em dificuldade durante esses meses, isso é bom, mas acho que isso tudo também é esquecido muito rapidamente», deplorou.

Luzia Matos foi grevista, no entanto teve de trabalhar, ela explicou-nos porquê: «Em dias de greve, temos que assegurar o serviço mínimo, ou seja trabalhar, é o chamado grevista só em assinatura. Quer dizer que contamos na percentagem dos grevistas, porque eu pessoalmente estou a apoiar o movimento de greve. Na saúde há uma obrigação de trabalhar», assumiu.

Por enquanto o Governo de Edouard Philippe está a pedir a opinião dos profissionais de saúde, o dito ‘plano Ségur’ (nome da rua onde está sedeado o ministério francês da saúde), antes de tomar qualquer decisão. Uma demora que não agrada aos manifestantes que desejam um gesto forte das autoridades e do ministro da saúde, Olivier Véran.

O primeiro passo seria um aumento dos ordenados de 300 euros por mês para as enfermeiras ou outros profissionais de saúde.

Os outros pontos importantes a referir nestas manifestações serão o reforço do investimento nos hospitais, que certos estabelecimentos não encerrem, ou até que serviços ou camas disponíveis não sejam diminuídos. Isto sem esquecer a abertura de certos estabelecimentos para responder às necessidades sanitárias.

Profissionais da saúde em risco

Durante a crise sanitária os profissionais de saúde mostraram-se preocupados com a falta de material, eles que se encontravam na primeira linha perante o novo coronavírus, sendo que alguns médicos, enfermeiras e outros profissionais nos hospitais acabaram por falecer devido ao vírus.

Falta de máscaras, de luvas, de gel hidroalcoólico, ou a escassez destes elementos essenciais, foram bem visíveis, isto para além da falta de ventiladores e de camas para receber doentes durante o pico da epidemia, o que levou a França a ‘exportar’ pessoas infectadas para países vizinhos, como a Alemanha, ou até a transferências internas entre províncias em situação de colapso e outras em que a situação estava controlada.

Uma resposta do Governo é esperada pelos profissionais de saúde. François Salachas, neurologista no hospital ‘Pitié-Salpêtrière’ em Paris, lembrou que segundo a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico -, os salários dos profissionais de saúde em França ocupam, segundo a média, o 28° lugar mundial.

Recorde-se que o durante a crise sanitária, às 20h, todos os dias, uma parte da população francesa saía às janelas para aplaudir os profissionais de saúde, no entanto desde o desconfinamento isso já não ocorre.

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