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França/Islão Radical

França: perfil de Adboullakh Anzorov, assassino do professor Samuel Paty

Abdoullakh  Abouyezidovitch Anzorov é o jovem russo-checheno de 18 anos de idade, que na passada sexta-feira, 16 de Outubro, foi abatido a tiro pela polícia, depois de ter decapitado em Conflans-Sainte-Honorine, nos arredores de Paris, o professor de 47 anos Samuel Paty, após este ter apresentado a 5 de Outubro aos seus alunos de cerca de 14 anos e durante uma aula sobre liberdade de expressão, caricaturas do profeta Maomé, publicadas pelo semanário satírico Charlie Hebdo.

Homenagem dos alunos da escola secundária Bois d'Aulne, em Conflans-Sainte-Honorine, onde Samuel Paty era professor, e perto do qual foi decapitado a 16 de Outubro pelo jovem de origem ruso-chechena Abdoullakh Anzarov.
Homenagem dos alunos da escola secundária Bois d'Aulne, em Conflans-Sainte-Honorine, onde Samuel Paty era professor, e perto do qual foi decapitado a 16 de Outubro pelo jovem de origem ruso-chechena Abdoullakh Anzarov. AFP
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Abdoullakh Anzorov nasceu em Moscovo a 12 de Março de 2002 de nacionalidade russa mas de origem chechena, chegou a França em 2008, com 6 anos de idade e a 4 de Março de 2020 obteve autorização legal de permanecer em França até Março de 2030 e até lá tinha o estatuto de refugiado, tal como o seu pai desde 2011 e residia em Evreux, no distrito de Eure, na Normandia.

Desde 2008 que ele não mantinha ligações com Moscovo, segundo um porta-voz da embaixada da Rússia em Paris, que garante que "este crime não tem nada a ver com a Rússia, dado que o indivíduo vivia em França desde há 12 anos e tinha sido acolhido pelo país", acrescentando que ao obter o estatuto de refugiado perdeu a nacionalidade russa.

Mas a comunidade chechena em França é alvo de vigilância apertada pelos serviços de segurança interna, pois representa entre 15 e 20% dos islamitas radicalizados, segundo Laurent Nuñez, coordenador dos serviços secretos e da luta contra o terrorismo.

A comunidade chechena, por sua vez, mostra-se preocupada com a sua "estigmatização" e o crime foi firmemente condenado pela Assembleia dos Chechenos da Europa, afirmando que "nenhuma comunidade pode ser tida como responsável pelos actos isolados cometido pelos seus conterrâneos". 

Um jovem do bairro em que vivia Abdoullakh Anzorov, afirmou à agência de notícias francesa AFP "não sei o que se passou com ele, deve ter sido manipulado ou ter visto demasiados filmes em video, mas isso não tem nada a ver com a nossa comunidade".

Os vizinhos de Abdoullakh Azorov afirmaram à AFP, que ele era um jovem "discreto", "solitário" e "mergulhado na religião" desde há 3 anos, praticava as suas orações, mas pouco saía de casa.

Segundo Jean- François Ricard, o procurador-geral anti-terrorista, o jovem era conhecido pelos serviços de polícia por antecedentes de delito comum, como degradação de bens públicos e cenas de violência em reuniões, actos cometidos quando era ainda menor de idade, mas nunca tinha sido condenado, nem apresentava qualquer sinal externo de radicalização e a sua família nunca colocou problemas, acrescentou um eleito de Evreux. 

Mas a radicalização de Abdoullakh Anzorov é evidente e Jean-François Ricard, explicou que os investigadores descobriram no seu telefone portátil, o texto de reivindicação enviado via Twitter e escrito antes do ataque às 12h17', bem como a fotografia da cabeça decapitada do professor Samuel Paty enviada também pela rede Twitter às 16h57', acompanhada por uma mensagem dirigida ao Presidente Emmanuel Macron, o "cão dos infiéis" explicando querer vingar-se e "executado um cão do inferno" que "tentou menosprezar o profeta Maomé" e ter agido em nome de Allah.

Nas redes sociais Abdoullakh Anzorov não escondia a sua radicalização, segundo o procurador Jean-François Ricard, numa das suas quatro contas Twitter - @Tchetchene_270 - ele não só publicou a reivindicação do crime e a fotografia do professor decapitado, mas internautas identificaram esta conta desde 30 de Agosto, devido a uma foto-montagem encenando precisamente uma decapitação

Na sexta-feira, 16 de Outubro, antes do crime, o jovem Anzorov tinha distribuido cerca de 300 euros a vários alunos, para obter a localização exacta do professor Samuel Paty, um deles, com apenas 15 anos de idade, está aliás sob custódia da polícia.

Segundo o site de investigação francês Mediapart, várias sinalizações Pharos - Plataforma de harmonização, análise, cruzamento de dados e orientação de denúncias -tinham sido efectuadas nos últimos meses e o exame de alguns tweets, designadamente em Julho último, um sobre apologia do terrorismo, que foi considerado conteúdo ilícito e transmitido aos serviços de segurança interna, que não o consideraram suficiente para alerta, mas também os subscritores e amigos desta conta Twitter, permetiam desenhar o perfil de uma pessoa muito consagrada à religião e "provavelmente no jihad".

O Ministério Público anti-terrorista abriu um inquérito por assassínio flagrante e em relação com uma organização terrorista e associação de malfeitores, 11 pessoas estão indiciadas do homicídio de Samuel Paty e a França vai expulsar 231 pessoas radicalizadas e prestar-lhe homenagem nacional nesta quarta-feira 21 de Outubro.

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