Moçambique: Ciclone Freddy intensifica insegurança alimentar
Em Moçambique, desde sexta-feira, o ciclone Freddy provocou 21 mortos na província da Zambézia, no centro. O balanço preliminar é avançado pelo Instituto Nacional de Gestão de Desastres. A destruição de culturas deverá agravar a insegurança alimentar, conta um residente de Quelimane, que descreve os estragos mais visíveis na cidade. O Presidente da República, Filipe Nyusi, desloca-se, esta quarta-feira, a Quelimane.
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A segunda passagem do ciclone Freddy por Moçambique provocou, pelo menos, 21 mortos desde sexta-feira, de acordo com o Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD). Esta é a província mais afectada no país e, segundo as autoridades, a prioridade passa agora por acudir aos sobreviventes que se queixam de falta de água, comida e de condições de higiene nos centros de acolhimento.
Recorde-se que na primeira passagem da tempestade, a 24 de Fevereiro, já tinham sido contabilizados 10 mortes em Moçambique.
Desde então foram abertos 65 centros de acolhimento. De acordo com o INGD, esses centros abrigam 41.300 pessoas em diferentes pontos do país.
Ainda segundo o instituto, foram destruídos 49 mil hectares de culturas agrícolas. Tendo em conta que estas são a principal fonte de alimentação das famílias e que a comida armazenada nas casas também se perdeu, há receios de um agravamento da insegurança alimentar.
Carlos Lima, professor de geografia e director da Faculdade de Educação da Universidade Licungo, em Quelimane, reiterou à RFI que há um sério risco de agravamento da insegurança alimentar da população.
"A maior parte das culturas são consideradas perdidas. Isto faz com que a segurança das pessoas em termos alimentares vai ficar bastante comprometida, numa dimensão que se pode chamar de grave. Se for numa escala de um a cinco, é por volta de quatro ou quatro e meio. Aquelas comunidades, que já tinham um défice alimentar, ainda vão experimentar piores dias porque terão que aguardar que haja a descida das águas para fazerem novas sementeiras, o que significa que os próximos três a quatro meses serão difíceis", explica.
Esta quarta-feira, o Presidente Filipe Nyusi vai deslocar-se a Quelimane e a expectativa é mais em termos simbólicos, de uma "presença consoladora" para a população, até porque os prejuízos foram imensos e o chefe de Estado "não traz nenhuma vara mágica". Carlos Lima acrescenta que a solidariedade da sociedade civil tem funcionado e que muitas pessoas foram alojadas em centros de acomodação, como em escolas e igrejas. De resto, os danos mais visíveis são a nível das infra-estruturas porque "a maior parte dos tectos voou", mas também as "inundações urbanas muito sérias" e o impacto na rede eléctrica.
Carlos Lima, Testemunho de Quelimane
O mau tempo não parece querer dar tréguas. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, as províncias de Niassa e Zambézia vão continuar com chuvas intensas.
As chuvas até 100 milímetros em 24 horas estão previstas para as províncias da Zambézia, onde o alerta vai para os distritos de Molumbo, Lugela e Milange.
Em Niassa, o INAM chama atenção para os distritos de Mecanhelas, Mandimba, Ngaúma, Chimbonila, Lago, Sanga, Muembe, Majune, Maúa, Metarica e cidade de Lichinga.
No Malawi, a segunda passagem do ciclone já matou quase 200 pessoas. Em causa as chuvas torrenciais que provocaram desabamentos de terras no sul do país. O estado de catástrofe foi declarado pelas autoridades e o exército e a polícia estão mobilizados para encontrar sobreviventes. Quase 59.000 pessoas foram afectadas pelo ciclone neste que é um dos países mais pobres do planeta. Cerca de 20.000 pessoas ficaram sem casa e houve escolas e igrejas a serem transformadas em centros de acolhimento.
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