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Portugal

Portugal: o 25 de Abril em tempos de coronavírus

Portugal assinalou hoje o 46° aniversário da revolução do 25 de Abril que pôs fim a meio século de ditadura, num contexto especial, em plena pandemia de coronavírus. O acto solene -mínimo- presidido por Marcelo Rebelo de Sousa ocorreu numa Assembleia da República cujos deputados mantiveram a distância de segurança. Face aos questionamentos surgidos nos últimos dias, designadamente do CDS-PP, sobre a pertinência desta celebração em tempos de confinamento, o Presidente português respondeu no seu discurso no parlamento que “o 25 de Abril é essencial e tinha de ser evocado”.

Por volta das 15 horas locais, na impossibilidade de assinalar o 25 de Abril com os seus tradicionais desfiles, alguns populares responderam ao apelo a celebrar à janela, cantando "Grândola, Vila Morena", o hino da revolução.
Por volta das 15 horas locais, na impossibilidade de assinalar o 25 de Abril com os seus tradicionais desfiles, alguns populares responderam ao apelo a celebrar à janela, cantando "Grândola, Vila Morena", o hino da revolução. © LUSA
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"O que seria verdadeiramente incompreensível e civicamente vergonhoso era haver todo um país a viver este tempo de sacrifício e de entrega e a Assembleia da República demitir-se de exercer todos os seus poderes" disse o Presidente português durante o seu discurso perante os parlamentares. "Deixar de evocar o 25 de Abril no tempo em que ele porventura mais está a ser posto à prova nos últimos 46 anos seria um absurdo cívico e o não fazer nesta casa da democracia na presença de todos os principais poderes do Estado, seria um mau sinal, um péssimo sinal de falta de unidade no essencial" considerou ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

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Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa durante o seu discurso assinalando o 25 de Abril

Ao defender a unidade nacional, no seu pronunciamento, o Chefe de Estado argumentou que é necessário “conjugar aberturas amadurecidas com precauções bem explicadas e bem compreendidas” e “acorrer aos desempregados, aos que estão em risco de o ser, às famílias aflitas, às empresas estranguladas”, num âmbito em que a crise económica e social, a seu ver, poderia fazer-se sentir "durante anos".

Reagindo a este pronunciamento, o Partido Socialista elogiou o discurso do Presidente e vincou o papel que, na sua óptica, a União Europeia deveria desempenhar no processo de mitigação dos efeitos da crise do coronavírus sobre a economia, consequências que "exigem uma resposta de protecção do emprego e relançamento da economia". No mesmo sentido, o Bloco de Esquerda considerou que o caminho deve ser "o avesso da austeridade", isto sendo uma das "lições do 25 de Abril". Ao igualmente defender a comemoração do 25 de Abril no parlamento apesar da pandemia, o Partido Comunista, não deixou igualmente de tecer advertências contra os discursos dos “cortes”, da austeridade e de quem faz sobressair “dificuldades reais”.

Do outro lado do hemiciclo, o Partido Social Democrata considerou que Portugal precisa preparar-se para evitar  "o pior", na eventualidade de uma segunda vaga da epidemia perante a qual ele considera que a economia do país "não aguentaria mesmo". Por seu turno, os conservadores do CDS-PP rejeitaram a existência de “uma divergência” com o chefe de Estado sobre a comemoração da "Revolução dos Cravos", este partido declarando contudo "não aceitar lições de democracia de ninguém”.

Portugal encontra-se em Estado de emergência sanitária desde o passado 19 de Março e até pelo menos ao dia 2 de Maio, o executivo estando, tal como os restantes países europeus a pensar na etapa seguinte, o levantamento progressivo das restrições aplicadas para fazer frente à epidemia de coronavírus. Apesar de não ter sido tão flagelada como outros países, como por exemplo a vizinha Espanha, onde se contabilizaram mais de quase 23 mil óbitos, Portugal recenseou mais de 23 mil casos positivos de coronavírus e deplora 880 mortos, o número de infecções não tendo ainda chegado a um patamar decrescente.

Paralelamente, face à pandemia, os indicadores económicos de Portugal não se anunciam auspiciosos. Apesar de a União Europeia ter adoptado uma série de medidas com vista a apoiar os países mais flagelados pela epidemia, a agência de notação financeira americana Standard and Poor's anunciou esta Sexta-feira ter baixado a perspectiva da nota da dívida de Portugal e estimou que a sua economia iria ser afectada pela recessão mundial que se anuncia. De acordo com o FMI, a recessão deveria chegar este ano aos 7,7% em Portugal, aos 7,5% na zona Euro e aos 3% a nível mundial.

 

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