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Brasil

Derradeiro dia de campanha para a segunda volta das presidenciais no Brasil

Esta sexta-feira é o último dia de campanha eleitoral no Brasil antes da segunda volta das presidenciais de domingo em que estão frente-a-frente o Presidente cessante Jair Bolsonaro, na extrema-direita, e do outro lado do espectro político, o antigo Presidente Lula da Silva, do Partido Trabalhista. Na primeira volta, Lula que acaba de celebrar os seus 77 anos, chegou à frente com um pouco mais de 48% dos votos, face ao seu rival, Bolsonaro com um pouco mais de 43% dos escrutínios.

A tensão está ao rubro num Brasil dividido entre Bolsonaro (à esquerda) e Lula (à direita).
A tensão está ao rubro num Brasil dividido entre Bolsonaro (à esquerda) e Lula (à direita). REUTERS - REUTERS PHOTOGRAPHER
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Apesar de Lula ter sido quem recolheu mais votos naquela fase, os seus apoiantes não esconderam alguma decepção, depois de as sondagens terem anunciado durante semanas a fio que ele poderia vencer logo na primeira volta das presidenciais do dia 2 de Outubro. Uma decepção da qual se aproveitou o campo adverso, segundo Boaventura Sousa Santos, director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

"A segunda volta começou muito mal para o campo do Lula, uma vez que o campo estava completamente convencido que Lula ia ganhar na primeira volta. Ele não ganhou, apesar de ter tido uma maior votação, parecia mais uma derrota do que uma vitória. Não foi, foi uma vitória. Os primeiros momentos foram um pouco difíceis, porque houve algum luto e isso foi aproveitado pela campanha do Bolsonaro para realmente cantar vitória e avançar", começa por recordar o sociólogo.

Contudo, ao evocar os últimos dias, designadamente um incidente que envolveu um próximo do Presidente cessante, o ex-deputado federal Roberto Jefferson que no domingo passado disparou com uma arma de fogo contra agentes da polícia que tinham ido até à sua residência no Rio de Janeiro para prendê-lo, Boaventura Sousa Santos considera que o final da campanha de Bolsonaro ressentiu-se desse episódio.

"À medida que a campanha avançou, Lula foi recuperando, foi voltando a lutar (...). Entretanto, surgiram também algumas péssimas notícias para Bolsonaro, como a agressão de um dos seus protegidos e amigos à polícia federal com armas, o que foi extremamente negativo. E por outro lado, o facto de se ter ficado a saber que depois das eleições, Bolsonaro tencionava baixar o salário mínimo, baixar as pensões e iria deixar de indexá-las à inflação (...). Estas duas notícias tiveram um impacto negativo muito grande no Bolsonaro" refere o universitário que todavia prefere mostrar-se prudente quanto aos eventuais resultados desta eleição. "A liderança (de Lula) é uma liderança muito pequena" sublinha.

Questionado sobre a eventualidade de o desfecho desta eleição dar azo a um contencioso, Boaventura Sousa Santos mostra-se seguro de que, no caso de perder, Lula aceitará a derrota. "Agora, não é o mesmo no Bolsonaro. Ele segue a cartilha da extrema-direita global. Portanto, ele vai tentar fazer o mesmo que o Donald Trump fez nos Estados Unidos" antevê o sociólogo para quem "a grande incógnita é de saber qual vai ser a reacção do exército. Se realmente acontecer, como aconteceu nos Estados Unidos, que as forças armadas se recusaram a participar, a coisa vai ser relativamente passageira" considera o universitário.

Refira-se que estas eleições acontecem numa conjuntura particularmente tensa em termos sociais e políticos, depois de anos em que se foi acentuando a polarização de opiniões no país.

Eleito para um primeiro mandato em 2002, o antigo sindicalista Lula da Silva foi reeleito para um segundo mandato em 2006. A "era Lula" é essencialmente recordada como sendo o período em que foram implementados os programas "fome zero" e "bolsa família", programa através dos quais, as camadas mais fragilizadas da sociedade brasileira tiveram acesso a uma alimentação de base e ajudas financeiras directas.

Em 2010, foi eleita uma das suas antigas ministras, Dilma Rousseff que após ser reeleita em 2014, já não chega a terminar o seu segundo mandato interrompido em 2016 por um processo de destituição. Pouco depois, no âmbito da operação 'Lava jato', Lula é acusado de corrupção, preso e impedido de concorrer às presidenciais de 2017, até ser ilibado e solto em Novembro de 2019 após quase dois anos de detenção.

Durante esse mesmo período, fortemente marcado pelas múltiplas acusações e condenações de responsáveis políticos por corrupção, Jair Bolsonaro, até então pouco conhecido, apresentou-se como um candidato 'anti-sistema' mas com uma forte base nas igrejas evangélicas e venceu as presidenciais. Investido em 2018, o antigo militar com um discurso abertamente nostálgico do período da ditadura ilustrou-se nomeadamente pelos ataques contra as camadas mais pobres do país, os homossexuais, os negros, as mulheres e os indígenas, bem como uma degradação acentuada da protecção do meio ambiente e em particular da floresta amazónica.

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