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Ucrânia

Na rota dos migrantes africanos entre a Polónia e a Bielorrússia

Na Polónia, um dos grandes temas da actualidade é a tensão na fronteira com a Bielorrússia. O governo de Varsóvia reforçou presença militar devido à presença do grupo Wagner do outro lado da fronteira, mas ali há também uma acentuada crise migratória com a Polónia a acusar a Bielorrússia de incentivar a entrada ilegal de migrantes de África, Ásia e Médio Orientes em solo polaco.

Muro erigido pela Polónia faz a fronteira durante 186 kms com a Bielorrússia.
Muro erigido pela Polónia faz a fronteira durante 186 kms com a Bielorrússia. © RFI/ José Pedro Frazão
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É um dos grandes temas da actualidade na Polónia. O governo de Varsóvia reforçou a presença militar junto à Bielorrússia, alegadamente devido à presença do grupo Wagner do outro lado da fronteira. Mas ali há também uma acentuada crise migratória desde 2021, com a Polónia a acusar a Bielorrússia de incentivar a entrada ilegal de migrantes de África, Ásia e Médio Orientes. 

Abel, nome fictício para proteger a sua identidade, camaronês, de 26 anos, é um desses milhares de migrantes africanos que tentam a sorte na Europa. Fugido de um conflito interno, foi para a Rússia há quatro anos e pela Bielorrússia tentou entrar várias vezes na Polónia e também na Lituânia.

“A Rússia foi a minha opção porque tinha um membro da família que estava na Rússia e ela propôs contactos na Rússia e com a universidade dela onde me podia me ajudar”, explica-nos numa cidade polaca onde se encontra em situação ilegal.

Conta-nos como os guardas bielorrussos o encaminharam sempre para as fronteiras e como várias vezes caminhou sem água e sem comida na floresta na fronteira polaca.

“Sofri muito na floresta, onde andei durante um mês. Fui agredido pela guarda fronteiriça polaca, só porque atravessei ilegalmente. Prenderam-me, bateram-me, tiraram-me algumas coisas e mandaram-me para trás para a Bielorrússia”, explica-nos em inglês fluente. Este camaronês acabou por pedir asilo na Polónia onde esteve seis meses num centro de detenção.

Muitos não resistem à viagem. Pelo menos 49 pessoas morreram desde Agosto de 2021 nesta travessia por pântanos, lagos, floresta densa e animais selvagens. 

“Sabemos que mais de 10 mil pessoas passaram a fronteira, mas temos relatos de muitas outras situações de corpos que os migrantes passaram durante a travessia da floresta “, relata Ala Qandil, da plataforma de ONG Grupa Granica, que opera na fronteira. A activista explica que o apoio humanitário resume-se a fornecer comida e roupas aos migrantes. Mais do que isso é crime - o de ajuda à imigração ilegal.

Os activistas dizem que a Polónia que tão bem acolheu os ucranianos não é aquela que lida com estas pessoas. Esta crise ficou na sombra da migração dos ucranianos, dizem-nos as diversas organizações.

“As autoridades violam a lei”, diz Mateus Luftz da ONG católica KIK. “Fecham os olhos aos pedidos de asilo dos migrantes. E complicam tudo com documentos. Era suposto que estas pessoas tivessem ao menos uma possibilidade de conseguir protecção”, acrescenta.

É no fundo a história de Abel, camaronês com a cabeça a prémio na sua terra. No dia a seguir a esta entrevista recebeu pela segunda vez uma recusa de pedido de asilo na Polónia.

“Sei que a minha vida será na Europa. Só preciso que me aceitem os documentos. Tudo é melhor do que voltar para os Camarões. Se for deportado serei morto”, confessa com receio pelo futuro próximo. 

Abel procura agora um advogado que o ajude. Se se confirmar a recusa polaca, vai continuar na ilegalidade e talvez procure a sua sorte noutro país europeu.

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