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Ciência

Homem de Neandertal conseguia fazer "praticamente tudo" que o Homem actual há 40 mil anos

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O Prémio Nobel da Medicina reconheceu este ano a pesquisa de Svante Pääbo que conseguiu sequenciar o ADN do Homem de Neandertal alargando assim o espectro da investigação sobre esta espécie humana desaparecida há mais de 35 mil anos, que apesar de muitas diferenças físicas, não seria assim tão diferente de nós na forma como agia e resolvia problemas.

Uma reconstituição do Homem de Neandertal, numa museu croata.
Uma reconstituição do Homem de Neandertal, numa museu croata. Reuters/Nikola Solic
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Para o investigador João Cascalheira, que trabalha no Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano da Universidade do Algarve, a atribuição deste prémio ao seu colega sueco é um "marco muito significativo" para quem estuda a pré-história e reconhece uma série de descobertas que não só permitem conhecer o genoma do Homem de Neandartal, mas também perceber porque é que só o homem actual chegou aos nossos dias.

"Agora temos praticamente o genoma completo, o que significa que podemos fazer uma série de outras análises para perceber porque somos a única espécie [de hominídeo] hoje em dia a sobreviver no planeta. Uma das descobertas que se veio a fazer depois de sequenciar o genoma dos neandertais foi, por exemplo, que hoje em dia, com excepção do continente africano, a maior parte das pessoas, tem em média 2% de ADN de Neandartal", afirmou João Cascalheira.

Os vestígios mais antigos do Homem de Neandertal indicam que esta espécie terá cerca de 400 mil anos, tendo-se extinguido há cerca de 35 mil anos. Com diferenças acentuadas a nível físico, como uma cabeça inclinada e um corpo mais quadrado e mais robustos do que o homem actual, o Homem de Neandertal teria uma capacidade cognitiva como a nossa, segundo João Cascalheira.

"Do ponto de vista cognitivo, há muito debate, mas o que se tem vindo a descobrir é que poderá não haver diferença nenhuma [em relação ao homem actual] porque do ponto de vista dos vestígios arqueológicos que se tem encontrado, os neandartais conseguiam fazer praticamente tudo que nós fazíamos há 40 mil anos. Um dos grandes exemplos disto, é a arte Neandartal, encontrada há alguns anos em Espanha", indicou o investigador.

João Cascalheira e a sua equipa de pesquisa da Universidade do Algarve receberam recentemente uma bolsa de 1,9 milhões de euros para através do projecto FINISTERRA descobrir as causas do desaparecimento desta espécie, com a pesquisa a situar-se no Sul da Península Ibérica.

"A primeira hipótese são as alterações climáticas, porque sabemos que nos período do desaparecimento dos neandartais há um acentuar das condições mias drásticas de clima, mais frio, mais seco. A segunda hipótese é a competição directa com o homo sapiens sapiens, já que a partir do momento em que estas populações estão no mesmo território e competem com os mesmos recursos talvez os homo sapiens sapiens tivessem uma vantagem  adaptativa. E a última hipótese é a questão demográfica, porque ao contrário da nossa espécie, os neandartais parecem ter tido tendência para viver em grupos mais isolados", concluiu João Cascalheira.

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