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Ciência

Cágado bencú pode ter chegado ao Príncipe em navio de escravos, descobrem investigadores

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O cágado bencú, uma pequena tartaruga de água doce, já era conhecido e repertoriado em São Tomé, mas uma equipa de investigadores descobriu que este animal também está presente no Príncipe e que as suas origens podem remontar aos navios que faziam o tráfico de escravos entre África e as Caraíbas.

No Príncipe, os cágados bencús podem ter vindo das viagens de tráfico de seres humanos.
No Príncipe, os cágados bencús podem ter vindo das viagens de tráfico de seres humanos. © David Stanley
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Patrícia Guedes é investigadora do CIBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, da Universidade do Porto e publicou em Junho deste ano, juntamente com a sua equipa, um artigo sobre as origens dos bencús existentes na ilha da Príncipe.

O bencú, como é conhecido em São Tomé e Príncipe, é uma tartaruga de lama ou cágado de água doce, que pode ser encontrado  em rios, lagos, charcos temporários ou pantânos. É omnívero e abundante na África Central e Ocidental, chegando a medir 30 centimetros.

A tartaruga bencú existe em muitos países da África Central e Ocidental.
A tartaruga bencú existe em muitos países da África Central e Ocidental. © Wikicommons

Esta tartaruga de lama ou cágado é abundante em países como a Nigéria, Costa do Marfim, Serra Leoa ou Congo, mas em São Tomé e Príncipe as suas origens podem estar ligadas ao tráfico de escravos que passou durante séculos por este arquipélago, como explicou a investigadora em entrevista à RFI.

"Descobrimos que São Tomé não terá sido o ponto de partida para a população que há no Príncipe, ou seja, foram colonizações independnetes, terão chegado de forma separada. E depois encontramos uma coisa curiosa, tanto no exemplar do Príncipe como no exemplar de São Tomé, os bencús estão mais próximos de uma população nas Caraíbas que sabemos que é introduzida e outros eram mais parecidos com exemplares na Serra Leoa ou Costa do Marfim. Para estes exemplares mais parecidos com as das Caraíbas, é possível que esta espécie tenha chegado até aqui através da rota dos escravos", explicou Patrícia Guedes.

Outras espécies como alguns macacos existentes no arquipélago têm a mesma origem. Patrícia Guedes explica que estes animais eram utilizados como comida durante longas viagens marítimas e que por viverem muito e serem resistentes, muitos marinheiros se alimentavam das mais diversas tartarugas, levantando assim a hipóteses de como os bencús chegaram ao arquipélago.

É necessário agora continuar a investigar as origens deste cágado para saber mais sobre a sua conservação e o seu impacto no ecossistema, já que se se tratar efectivamente de uma espécie trazida pelo homem, será preciso estudar o seu impacto nas espécies autóctones.

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