Atentados de Paris: “Com estas pessoas, que justiça se pode fazer?”
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Ouvir - 09:26
Paula Vieira mora ao lado do Bataclan e ainda não superou os atentados de 13 de Novembro de 2015. Perante o arranque do julgamento dos ataques, a portuguesa não tem qualquer expectativa que se faça justiça porque “com estas pessoas, que justiça se pode fazer?”
Quase seis anos depois dos atentados de 13 de Novembro de 2015 em Paris, e na véspera do arranque deste julgamento histórico, como estão as pessoas que viveram de perto os ataques e o que esperam do processo?
Paula Vieira ainda não ultrapassou o que aconteceu e admite que isso nunca irá acontecer. “Acho que me marcou para a vida. Ainda não superei isso e não sei se algum dia vou superar”, resume.
A portuguesa mora ao lado do Bataclan, no Boulevard Voltaire, num prédio que também tem uma porta para a ruela Passage Saint-Pierre Amelot, por onde dezenas de pessoas tentaram fugir da sala de espectáculos na noite de 13 de Novembro.
“Ele estava aqui, em frente à minha porta, e matava. Ele teve uma senhora pelos cabelos um pouco de tempo, ela a gritar para ele a soltar e ele deu-lhe um tiro na cabeça aqui no passeio. Eu ouvia tudo, a minha casa abanava, os vidros, a televisão, as portas. Eu disse para o meu marido: ‘Eles vão entrar e vão-nos matar a todos…”
“Ainda hoje me custa muito falar do que aconteceu e mesmo a dormir tenho a sensação que oiço as sirenes das ambulâncias e dos carros de bombeiros. Custa-me a falar. É muito difícil para mim. Parece assim um nó aqui no peito…”
Nessa noite, a portuguesa, que é porteira no prédio, abriu as portas do edifício à polícia que procurava suspeitos e que usou a entrada como retaguarda para o tiroteio com os terroristas. Sob as ordens dos polícias, e depois de estes lhe terem apontado uma arma, Paula teve de se fechar em casa com o marido, onde ouviram tudo. Tudo... No final, saiu à rua e, devido ao que viu, nunca mais conseguiu voltar a passar por ali.
Com o julgamento prestes a arrancar, Paula Vieira não tem grandes expectativas. “Com estas pessoas, que justiça é que se pode fazer? Não consigo ver como é que se poderá fazer justiça. Para mim não são pessoas, são monstros que vêm matar pessoas inocentes, pessoas que se estão a divertir. Como é que é possível isso? Não consigo entender.”
Entrevista a Paula Vieira
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