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Cimeira UE/UA: “As expectativas são sempre grandes”

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O chefe de Estado de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, representa o país na 6.ª Cimeira UE-UA que tem lugar esta quinta e sexta-feira, em Bruxelas. Durante dois dias os responsáveis políticos vão falar de parcerias económicas, questões de segurança, alterações climáticas, vacinas e impactos da crise sanitária. Carlos Vila Nova mostrando-se optimista quanto ao apoio que São Tomé e Príncipe pode receber da União Europeia

O chefe de Estado de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, representa o país na 6a cimeira da União Europeia/ União Africana. (Imagem de arquivo).
O chefe de Estado de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, representa o país na 6a cimeira da União Europeia/ União Africana. (Imagem de arquivo). LUSA - NUNO VEIGA
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RFI: Quais são as expectativas de São Tomé e Príncipe nesta  6.ª União Europeia/ União Africana?

Carlos Vila Nova: As expectativas são sempre grandes, até porque é sempre uma ocasião e um palco próprio para nós percebermos como é que todo este sistema funciona. Estão duas grandes organizações à frente desta cimeira e creio que estarão representados a maioria dos chefes de Estado da Europa e de África. É uma oportunidade, não só pelos temas a serem abordados, pelo formato dos encontros, mas também para à margem da cimeira encontrar maneiras de fazer novos amigos e com os amigos tradicionais rever a cooperação.

A União Europeia pretende lançar um plano ambicioso para o desenvolvimento do continente africano. A França, que assegura neste momento a presidência rotativa do Conselho Europeu, chegou mesmo a falar num New Deal para África. Não há um risco de mais uma vez esta ajuda se traduzir numa lógica de assistência ao continente?

Há sempre esse risco, mas a verdade é que dados são diferentes. A maioria dos países já se posiciona quanto a esta posição [assistencialismo], propõe alternativas para que o relacionamento seja feito de uma forma mais prática. Todos juntos analisaremos qual será o melhor formato para relançar este novo formato e esta nova forma de cooperar.

Não se devia antes discutir de que forma é que se muda a dependência do comércio africano em relação à Europa, por exemplo em termos de matérias-primas? 

Esse é um assunto que está sempre em cima da mesa, eu penso que o mais importante não é romper, com seja o que for, mas sim ir adaptando, melhorando e actualizando todas as formas de lidar com todas essas questões.

Eu acho que estamos todos preparados para, de uma forma clara, directa, consciente, avaliar a situação e implementá-la de forma a que seja mais correcta para as partes.

Será também uma ocasião para se falar do papel que a Europa pode desempenhar na industrialização do continente?

Sim, mas isso também é relativo. É  preciso que estejamos preparados para perceber o que é melhor para cada país. Uma industrialização em grande escala para África pode não corresponder àquilo que são as perspectivas de São Tomé, ou de um outro país. 

Entendo que precisamos de ser específicos, precisamos de propor uma forma de lidar e depois avaliar aquilo que são as realidades, ou especificidades locais, adoptando o melhor para cada país.

Na cimeira da União Africana vários chefes de Estado vieram defender o perdão da dívida africana, que agora tem outros credores e outras condições de reembolso. A crise económica, o aumento generalizado do preço das matérias-primas em geral veio expor as economias mais frágeis, como é o que caso de São Tomé e Príncipe. O que é que São Tomé pensa fazer para lidar com esta crise? Vão pedir ajuda à Europa?

Sim, certamente, à Europa e a todos os parceiros, porque precisamos de resolver esta situação. Os últimos anos têm sido mais difíceis, pelas razões que todos já sabemos, mas não nos podemos deixar levar por esta situação difícil. É preciso encontrar formas de sair e relacionar-se com todos, de forma a melhorar o que são as nossas condições. Se essa melhoria passa por pedir aos nossos parceiros, ou negociar um perdão da dîvida é por aí que vamos.

Nessa negociação não é importante que a Europa deixe de olhar para África como um parente pobre?

Claro. Numa relação a dois, ou uma relação multifacetada, é preciso que não haja um sentimento de pena em relação ao outro, é preciso que o relacionamento seja o mais equitativo possível. Sabemos que é muito difícil, mas se as negociações forem sérias, dentro do quadro do respeito mútuo, os resultados serão melhores para todos. Os países mais pobres também terão algo a oferecer e neste âmbito é preciso encontrar sempre formas de nos relacionarmos de uma forma mais equitativa.

A questão da segurança no continente será outro tema que vai marcar a ordem dos trabalhos. Com os recentes golpes de Estado no continente, a presença das forças Wagner no Mali, República Centro Africana e com a França a reduzir o dispositivo militar no Sahel. Que papel ainda pode desempenhar a Europa no continente?

Esta é uma questão que nos preocupa a todos, porque se eu não estou em segurança quer dizer que um vizinho mais próximo não está e um mais longínquo acabará por não estar. Precisamos que haja uma sinergia de esforços para ultrapassar estas questões que são globais. É preciso que as experiências de outros países, que conseguiram resolver esses assuntos, possam contribuir para que ao nível do continente possamos ultrapassar essa questão. Estas questões são muito importantes e não dignificam o que são hoje instituições republicanas.

Quando é que o continente africano será capaz de garantir a sua própria segurança?

Se dependesse de mim seria já. No entanto, há um trabalho que deve ser feito de sensibilização e de preparação, um trabalho que vai levar algum tempo. Mas vamos continuar a trabalhar nas pessoas, pois é para elas que nós os eleitos devemos servir. Com base nesse pressuposto vamos conseguir ultrapassar essa situação.

São Tomé viveu recentemente as piores cheias dos últimos 30 anos, mostrando a fragilidade do arquipélago face às alterações climáticas. A União Europeia já disse que quer estabelecer novas parcerias com o continente. O que é que a Europa e África podem fazer para minorar os efeitos das mudanças climáticas?

Todos somos responsáveis pelo que está a acontecer e nós temos tido provas de que as consequências das alterações climáticas podem tocar a qualquer um. Se cada um fizer a sua parte, poderemos minimizar essa situação, quem sabe resolvê-la. Há muito por fazer.

Temos estado a acompanhar as sessões de trabalho a nível mundial relativamente ao clima, às alterações climáticas - recentemente estivemos em Glasgow - e é preciso que se respeitem os compromissos.

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