Segunda volta das eleições presidenciais em França. Na corrida ao Eliseu está Emmanuel Macron, presidente-candidato do República em Marcha e Marine Le Pen, candidata da União Nacional. Os diferentes cenários traçados para esta noite apresentam a abstenção e os votos em branco como decisivos para o resultado deste escrutínio.
A contribuir para os números da abstenção deste domingo está Iolanda Fernandes, franco-portuguesa residente no 17° bairro de Paris há mais de 30 anos, que na primeira volta das presidenciais, em pela Assembleia de Voto ficou a saber que o seu nome já não constava dos cadernos eleitorais.
Apesar de ter reclamado junto das instâncias judiciais, nada foi feito em 15 dias e na melhor das hipóteses poderá voltar a exercer o direito de voto nas legislativas do mês de Junho.
Ao microfone da RFI, Iolanda Fernandes diz-se “triste e chateada” com a situação e sublinha que pediu a nacionalidade francesa precisamente para poder ter uma palavra a dizer quanto ao futuro político do país.
“Claro que fiquei mesmo chateada, fiquei mesmo chateada. Gostava de ir votar porque acho que uma pessoa tem a possibilidade de mudar as coisas.
Mas não fui eu só, fomos 260 mil pessoas [a terem sido retiradas dos cadernos eleitorais]”.
Quando é que descobriu que não podia votar?
“No dia em que ia votar [10 de Abril de 2022, primeira volta das eleições presidenciais]. Quando cheguei ali para votar disseram: Não, não você não está inscrita nas listas [cadernos eleitorais]. Eu disse, porquê? Disseram-me: mudou o endereço? Eu disse não, estou aqui há 26 anos, no mesmo sítio. E não me deram outras explicações.
Depois eu fui à mairie [câmara municipal] e ao Tribunal de Grande Instancia de Paris e não mudaram explicações”.
Qual é o processo agora para voltar a fazer parte dos cadernos eleitorais?
“Agora tenho de contestar outra vez e tenho de fazer outro pedido. Mas para conseguir tratar disto tudo, só posso voltar a votar para Junho [eleições legislativas].
Digo-lhe, fiquei mesmo muito contrariada”.
Do 17° bairro de Paris para cidade de Pantin, nos arredores da capital francesa, a reportagem da RFI encontrou Isabel Borges Voltine, uma cidadã franco-cabo-verdiana, muito implicada na vida política francesa, ela que integra os membros da Assembleia de Voto n.°7 da cidade de Pantin.
“Eu sou cabo-verdiana, nasci em Cabo Verde, cresci em Portugal e finalmente vim-me instalar em França e obtive a minha nacionalidade francesa.
O que eu costumo dizer aos meus filhos é que ninguém me convidou para aqui vir. Eu vim sozinha e por condições pessoais. Encontrei este país construído, mas foram homens e mulheres que se implicaram antes e que fizeram deste país o que me deixa bem orgulhosa. E eu também quero trazer o meu contributo. Quero dar a minha contribuição para a construção deste país e para o seu desenvolvimento.
Dou o meu contributo todos os dias. Já tenho dois filhos aqui, que são cidadãos franceses e que vão participar na vida deste país.
Trabalho todos os dias, pago os meus impostos mas para mim isso não chega. Para mim, também, é importante me implicar em todos os sentidos da vida da cidadania e dar o meu contributo como cidadã e como uma pessoa que tem ideias para o futuro de França. É claro que sozinha não posso fazer nada, mas trazendo a minha pedra, contribuo para o edifício”.
A comunidade cabo-verdiana está envolvida na vida política francesa?
“Não se pode dizer que há uma grande implicação, mas começa a haver. Como em todas as comunidades há pessoas que estão mais ou menos implicadas. Nós, por exemplo, as pessoas estamos mais implicadas costumamos apelar a que as pessoas saiam de casa e que venham porque é muito importante para o futuro de todos”.
Tal mãe, tal filha. Cindy Gomes, filha de Isabel Borges Voltine diz que é impensável não votar uma vez que também está a homenagear as mulheres da sua família que lutaram para que este direito lhe fosse assegurado, além de que como filha de imigrantes defende que todos devem contribuir para o panorama político do país de acolhimento.
“Para mim, parece-me óbvio que tenho que voltar. As políticas que vão ser implementadas hoje, vão ter consequências para minha geração, daqui a dez anos. Para mim, estou a votar pelo meu futuro, estou a votar pelas políticas que eu quero para o meu futuro.
Para mim, votar é um direito que as minhas avós e as colegas das minhas avós nos deram como mulheres e para mim é também uma homenagem para não esquecer que elas lutaram para que nós pudéssemos votar”.
Num outro ponto dos arredores da capital francesa, em Neuilly-sur-Marne, vota Orlando Livramento, também ele de origem cabo-verdiano que há mais de quarenta anos em França. Orlando sublinhou que “não votar é deixar os outros decidir por nós”.
“Posso dizer-lhe que tenho duas pátrias: a de adopção [francesa] e a de coração [cabo-verdiana]. Vivemos nesta sociedade e devemos tomar parte, não votar e deixar os outros a decidir por nós. Então, eu acho que é um direito que temos e devemos exercer esse direito. Temos que tomar parte de todos os pontos importantes desse dessa sociedade”.
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