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Angola: " A corrupção é um escândalo para o nosso futebol"

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A imagem do futebol angolano está a ser abalada por casos de corrupção. Em causa está a divulgação de mensagens áudio que revelam que o clube Petro de Luanda pagou três milhões de Kwanzas ao Académico do Lobito para vencer o Primeiro de Agosto na Taça de Angola. A polémica levou a Federação Angolana de Futebol a suspender o Petro de Luanda e a castigar o treinador do Académico do Lobito, Agostinho Tramagal.

A imagem do futebol angolano está a ser balada por escândalos de corrupção.
A imagem do futebol angolano está a ser balada por escândalos de corrupção. © Pexels
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Também acusado de corrupção, o Kabuscorp do Palanca desceu de divisão e o presidente do clube, Bento Kangamba, foi suspenso por quatro anos.  Em entrevista à RFI, o jurista e professor universitário, Lindo Bernardo Tito, fala em corrupção endémica, admitindo que esta situação mancha a imagem do futebol angolano.

RFI: O que é que representam estes casos de corrupção para o futebol angolano? 

Lindo Bernardo Tito, jurista e professor universitário em Angola: O futebol angolano vive momentos difíceis por causa da revelação de escândalos de corrupção que existem há décadas. Agora, tomámos conhecimento de que há resultados que são combinados, jogadores que são pagos para não produzir e prejudicar as equipas. Há treinadores que são pagos para prejudicar as equipas e facilitarem outras. Enfim, há um conjunto de situações de corrupção que constituem um escândalo para o nosso futebol. 

Na mensagem áudio divulgada é revelado que o Petro de Luanda pagou três milhões de Kuanzas ao Académico do Lobito para vencer o Primeiro de Agosto na Taça de Angola. Isto revela que já não interessa a qualidade das equipas, mas sim quem tem dinheiro para as gerir? 

Isto já acontece há muitos anos no futebol angolano. Hoje, o futebol angolano não vive da prestação das equipas para ganhar os jogos. Vive daquele que tem poder financeiro, que pode corromper outros, ganhando assim os jogos. 

Esta situação vem sendo provada com a qualidade do nosso futebol. O nosso futebol não tem qualidade nenhuma por causa dessas práticas de corrupção que existem, ainda, em algumas equipas de futebol.

Pode falar-se em “corrupção endémica” no futebol angolano? 

Para falarmos da corrupção que existe no futebol angolano, temos também de falar da corrupção na política, na economia, ou seja, na sociedade angolana. Infelizmente, a sociedade angolana está marcada por graves actos de corrupção. 

Os longos anos de governação do MPLA acabaram por trazer esta “doença” para a nossa sociedade. Hoje, não há nada que se faça neste país sem que não haja suborno, nem corrupção. Para acabarmos com esta situação é necessária uma alteração política da governação do país. O que se passa no futebol reflecte o que se passa na sociedade angolana. 

Considera que a decisão da Federação Angolana de Futebol foi razoável ou haveria uma outra via? 

A gravidade da situação levou a que o Conselho de Disciplina da Federação Angolana de Futebol tomasse essa medida, aplicada de acordo com os factos. Os factos estão visíveis, provados, então os implicados têm de ser sancionados.

O que vai acontecer a estas equipas e aos seus jogadores? 

Se se mantiver a decisão- o Petro de Luanda, o Kabuscorp, apresentaram um recurso ao Conselho Jurisdicional- claro que os jogadores serão livres para ir para outras equipas. Em Angola, não temos apenas várias equipas, mesmo no Girabola.

O Girabola foi suspenso. Qual será o futuro do campeonato angolano de futebol? 

Na minha opinião, não deviam suspender o Girabola. Deviam ter permitido o arranque normal do Girabola e que as decisões fossem definitivas. O futebol não pode esperar por equipas e jogadores que estão a ser acusados de corrupção! O futebol deve ser uma modalidade desportiva que é socialmente útil e que as pessoas, na perspectiva da diversão, têm o direito de ver o campeonato em andamento. Trata-se de um erro grave. A própria composição da Federação Angolana de Futebol e dos clubes é feita por opções político-partidárias.

Que implicações podem ter estes casos de corrupção no futebol angolano junto da FIFA? 

Eu tenho acompanhado nas redes sociais. Muitos angolanos querem mobilizar-se e enviar um abaixo-assinado para a Federação Internacional de Futebol. A FIFA como órgão reitor do futebol internacional deve tomar conhecimentos destes factos e intervir nas decisões. Precisamos de reorientar o futebol angolano, impedindo que quem tem dinheiro possa tomar decisões sobre o desfecho do campeonato.

O Presidente angolano considerou “muito grave” a decisão da Federação Angola de Futebol de ter suspendido os clubes. João Lourenço, o defensor da luta contra a corrupção, com esta postura não está a relativizar os escândalos de corrupção? 

O Presidente, em relação a esta questão, saiu-se muito mal na fotografia. Quem diz que tem uma agenda clara de combate à corrupção, não pode minimizar a corrupção no futebol. Os efeitos da corrupção são nefastos. Tanto para o futebol como para a sociedade angolana. Ele [João Lourenço] tem de ser o primeiro a tomar medidas claras para que não haja corrupção em nenhum sector da nossa sociedade. Não se pode minimizar a corrupção no futebol. A corrupção no futebol deve ser combatida e os prevaricadores devem ser sancionados.

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