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Vida em França

“Contágios”, contos e crónicas da pandemia

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Foi lançado este mês de Abril o livro “Contágios”, contos e crónicas escritos durante a pandemia. 65 autores de quatro países de expressão portuguesa e respectivas diásporas participam na obra, que é o resultado do projecto online "Mapas do Confinamento", nascido há um ano, pelas mãos de Gabriela Ruivo e Nuno Gomes Garcia.

Capa do livro “Contágios”.
Capa do livro “Contágios”. © DR
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Ela é escritora portuguesa radicada em Londres, ele, escritor português residente em Paris. Em conjunto, a vontade de construir para memória futura uma cartografia literária do confinamento e da pandemia no mundo lusófono.

A língua portuguesa é o denominador comum do projecto que conta com autores provenientes de Angola, Brasil, Moçambique, Portugal e respectivas diásporas.

Um projecto global numa língua portuguesa “plástica e rica” como disse à RFI Nuno Gomes Garcia, um dos co-fundadores do projecto.

"Este "Contágios'' é o resultado, exactamente, desse projecto que eu e a Gabriela [Ruivo] começamos há um ano que é o “Mapas do Confinamento''. Temos cerca de 150 artistas, escritores, poetas e muitos tradutores, ilustradores, fotógrafos e actores que também fazem leituras. 

Todos os trabalhos de prosa, crónicas e contos são publicados neste livro. Portanto, são 65 autores, 65 textos, quatro países e as respectivas diásporas. Temos moçambicanos a viver em França, brasileiros a viver no Reino Unido, portugueses a viver nos Estados Unidos… é um projecto global em língua portuguesa. É isso que o “Contágios” representa". 

São textos sobre o confinamento? Sobre a forma como cada um deles estava a viver esse período. 

"Exactamente. O objectivo do “Mapas do Confinamento” é que seja feito um trabalho de memória, do ponto de vista artístico e literário. Ninguém se lembra da gripe espanhola de 1918, mas nada do género foi feito. Eu gostaria, por exemplo, de ver como é que os escritores em língua portuguesa viveram a epidemia de 1918.

Nós queremos fazer isso para a grande pandemia de 2020/2021. Como é que os artistas de língua oficial portuguesa, vivendo em continentes diferentes, em sociedades completamente diferentes, mesmo diferentes do ponto de vista do combate dos organismos de saúde à pandemia, viveram este drama. É exactamente isso que nós queríamos saber.

Com total liberdade artística, os escritores abordaram a temática da epidemia. Não exatamente, se calhar, esta epidemia, mas com total liberdade artística e, portanto, isso é o resultado". 

Um ponto comum é a língua portuguesa. A língua portuguesa nos seus múltiplos sotaques. 

"Sim, claro! O denominador comum deste projecto é a língua portuguesa. É tudo feito em língua portuguesa, apesar de agora termos traduções para mais três línguas: inglês, francês e chinês. São parcerias com Oxford, com a Universidade de Pequim e com a Universidade de Jean Monnet, aqui em Franca. 

É uma língua portuguesa plástica, uma língua portuguesa rica, em que todas as literaturas feitas em português, todos os povos que se exprimem artisticamente em português, deram o seu contributo e nós podemos ver aí a absoluta riqueza que a língua portuguesa tem: a sua elasticidade, a sua riqueza vocabular influenciada pelas línguas africanas, pelas línguas ameríndias… Realmente está aí tudo, é um quase um compêndio de como falar os vários “portugueses” que existem em todos os continentes".

Falamos de quantos autores? Provenientes de que países?

"65 autores de quatro países. Por ordem alfabética, Angola, Brasil, Moçambique e Portugal. Depois temos vários autores expatriados, imigrantes, como é o meu caso, o caso do Agnaldo Bata que é moçambicano". 

Da Luísa Semedo, por exemplo, também. 

"A Luísa Semedo é de origem cabo-verdiana. Ela é portuguesa de origem cabo-verdiana a viver em França. Portanto é a única ligação que temos um quinto país que é o caso de Cabo Verde".

Este projecto que lançaram em 2021, que faz agora um ano, acabou por ter uma recepção ou uma procura muito maior do que aquela que vocês estavam à espera. Como é que conseguiram gerir essa afluência? 

"Perde-se muito tempo e isto é trabalho “pro bono''. A certa altura perdemos o controlo. Excedeu as nossas expectativas. Não estávamos a pensar que fosse ter este alcance, mesmo a nível de parcerias. Parcerias com a Gulbenkian, com a Universidade de Pequim, com Oxford ou Jean Monnet, nunca pensamos!

Excedeu em muito o que esperávamos e excedeu-se de uma boa maneira. Foi tudo muito positivo, muito rápido e enriqueceu extraordinariamente o projecto". 

E como é que saltaram de um site para um livro? 

"Vivemos num mundo em que há uma tendência à desmaterialização. Tudo é desmaterializado na internet. A internet tem as suas vantagens, mas o site inevitavelmente um dia irá desaparecer, porque nem tudo é eterno. O livro não. O livro em papel é algo que fica. Nós precisamos materializar este projecto exactamente por ser um projecto de memória que queremos de longa duração, para daqui a 100 anos sabermos como é que os artistas que falam português viveram a pandemia de 2021/2022.

O papel, apesar das pessoas dizerem que é um suporte em extinção, acho que nunca se vai extinguir. Nunca passará de moda o livro em papel e, portanto, é algo que vai durar. Daqui a 100, 200 anos as pessoas poderão ter acesso mais facilmente ao livro, do que àquilo que está desmaterializado na internet".

Rui Almeida, fundador da editora Visgarolho, compara este livro “Contágios” a uma “extensa mesa de acepipes”.

É assim que eu encaro este conjunto de textos. Porque são 65 autores; todos lusófonos, mas uns africanos de Angola, Moçambique, Cabo Verde, uns brasileiros, uns portugueses a viver em diferentes sítios, há quem esteja a viver na Europa e outros nos seus países de origem…

Os textos são todos em português, mas é um português que tem várias musicalidades muito diferentes. A forma de escrever em Moçambique é diferente da forma de escrever no Brasil e em Portugal. Portanto, há diferentes maneiras de despertar ideias, de como se constroem as frases e é como se tivesse uma vasta mesa, tipo um banquete, cheia de salgados e de doces e uma pessoa pode ir experimentando um pouco de tudo.

Mesmo em termos de estilos literários, há estilos muito diversos. Há autores muito novos, há autores já com uma certa idade, há autores consagrados e que venceram prémios literários importantes e há quem esteja a publicar pela primeira vez um conto neste livro. É uma miscelânea muito grande.

No fim de cada conto ou de cada crónica há uma pequena biografia do autor, onde estão referidos os trabalhos que ele já tem publicados".

 

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