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Vida em França

Os rostos, histórias e navios da Grande Armada de Rouen de 2023

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Desde o passado dia 8 e até ao próximo domingo decorre em Rouen, cidade do noroeste de França atravessada pelo rio Sena, a oitava edição da "Grande Armada", uma mostra reunindo mais de quarenta barcos de vela, antigos navios de pesca e galeões vindos do mundo inteiro, nomeadamente dois barcos de Portugal, o Santa Maria Manuela e o Vera Cruz.

Vista panorâmica da Grande Armada de Rouen, no dia 14 de Junho de 2023
Vista panorâmica da Grande Armada de Rouen, no dia 14 de Junho de 2023 © Liliana Henriques / RFI
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Criada em 1989 sob o nome de "Velas da Liberdade" no âmbito da celebração do bicentenário da revolução francesa, esta manifestação decorreu de 5 em 5 anos até 2019, altura em que passou a ser quadrienal.

Inicialmente de pequenas dimensões, este evento foi crescendo com o passar dos anos. Gratuita para o público, esta mostra oferece não só a possibilidade de visitar alguns dos mais belos veleiros do mundo, como também abrange actividades anexas, como animações musicais e vendas diversas.

Este evento que -segundo dados oficiais- trouxe a Rouen mais de 4 milhões de visitantes na sua última edição, em 2019, move imensos meios financeiros privados e apoios públicos. Move também meios humanos, nomeadamente várias centenas de voluntários nos mais diversos domínios.

Falamos com José Soares, português radicado em Rouen que durante a Armada faz o trabalho de oficial de ligação junto do navio português Santa Maria Manuela. Ele explicou-nos no que consiste.

"Trabalhamos de modo que todas as pessoas do barco sejam satisfeitas. Quando precisam de um carro, quando precisam de água, quando precisam de tudo, somos nós que temos de fazer a ligação entre a organização e o barco", explica o recém-aposentado que ao evocar aos motivos que o levaram a envolver-se no evento, refere que pretende "ir ao encontro das outras pessoas" e que a Armada "é uma grande aventura humana".

No interior de uma Santa Maria Manuela renovada

Passando por entre inúmeras filas de visitantes, entramos no Santa Maria Manuela. Construído em 1937, de velas e casco brancos, com 4 mastros e 55 metros de comprimento, este antigo barco de pesca do bacalhau restaurado no início dos anos 2000 e que hoje é propriedade do grupo português Jerónimo Martins, efectua agora viagens de turismo, de formação e de pesquisa científica, como refere o seu comandante, Artur Ribeiro.

"Este navio é multi-tarefas. Nós fazemos viagens de carácter científico. Acabamos a última no início do mês de Março, fomos para as Ilhas Selvagens com uma equipa de cientistas patrocinados pelo governo regional da Madeira. Estivemos lá uma semana. Todos os anos também temos feito viagens coordenadas pela Fundação Oceano Azul, quer seja nos Açores, na zona de Cascais, Ericeira. Outra vertente é viagens turísticas normais em que as pessoas viajam connosco, vêem e podem participar na vida normal do navio", refere nomeadamente o responsável.

Ao evocar o período da covid-19 em que as actividades do navio -á semelhança do resto do mundo- estiveram paradas, o comandante reconhece que este foi um momento difícil para toda a tripulação, mas refere por outro lado que o proprietário do Santa Maria Manuela optou por operar melhorias técnicas e estéticas no barco.

"Houve a decisão de aproveitar esse tempo para uma melhoria de condições do navio, um embelezamento que foi feito entre 2021 e 2022. Foi um trabalho complicado porque nós somos marinheiros, queremos navegar e desde que começou a pandemia, de 2020 a 2022, nós tivemos muito pouco tempo de navegação", conta o comandante. "Quando voltamos dos Paízes Baixos (onde foram feitas as obras de melhoramento) para Lisboa e resolvemos esticar as velas, foi um momento que toda a tripulação estava no convés para ver", acrescenta ainda Artur Ribeiro.

Vera Cruz, caravela-museu e navio-escola

No cais oposto àquele onde se encontra atracado o Santa Maria Manuela, está um barco mais pequeno, o Vera Cruz, que é uma réplica de uma caravela do século XV com um comprimento de um pouco mais de 20 metros construída no ano 2000. Propriedade da APORVELA – Associação Portuguesa de Treino de Vela, esta caravela funciona como museu mas igualmente como navio-escola para jovens no âmbito de projectos sociais, como explica o seu comandante Filipe Costa.

"Este barco foi construído de facto nos anos 2000 também como intuito de mudar a vida dos jovens do século XXI. Este barco pertence à APORVELA, uma associação sem fins lucrativos que vive quer do seu museu vivo que é a caravela, quer de projectos sociais que fazemos a bordo com instituições. Fizemos projectos com a Casa Pia de Lisboa, com a Fundação Gulbenkian, com muitos outros parceiros, com jovens que aqui também aumentaram a linha do seu horizonte", refere o responsável.

"Criamos projectos em que os jovens vêm navegar uma ou duas semanas e aqui, como em qualquer outro barco de navegação oceânica, navegamos 24 horas sobre 24. Os jovens aprendem a fazer leme, aprendem a marear estas enormes velas, mas aprendem principalmente a confiar em si próprios", diz o comandante que não esconde o orgulho no trabalho desenvolvido pela tripulação e também se alegra por essa que é a primeira participação do Vera Cruz na Grande Armada.

O acolhimento que tem sido reservado ao Vera Cruz é "incrível", diz o comandante que dá especial realce ao carinho demonstrado pela comunidade portuguesa de França. "Quando chegámos a Honfleur na foz do rio Sena, tínhamos portugueses já à nossa espera. Fomos subindo o rio e houve sempre buzinas a tocar e gritos de portugueses", emociona-se Filipe Costa.

Recorde-se que o Vera Cruz, o Santa Maria Manuela e os cerca de 40 outros navios vindos nomeadamente de França, Holanda, México, Espanha e Indonésia ficam atracados em Rouen até ao dia 18 de Junho, dia em que a sua partida irá ocasionar um desfile rio abaixo até ao Havre para cruzar o alto-mar.

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