Venezuela : eleição sob clima de tensão
Com em pano de fundo uma sociedade dividida e manifestações violentas no decurso dos útimos três meses, a Venezuela foi neste domingo às urnas para eleger uma Assembleia Constituinte fortemente contestada pela oposição. Esta última acusa o Presidente Maduro de querer controlar todos os poderes. O Chefe de Estado considera, por seu lado, que a Constituinte é única maneira de pôr um termo à crise porque os venezuelanos têm a oportunidade de exprimir a sua opinião.
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O escrutínio deste domingo caracterizou-se por uma alta tensão, como o atesta o assassínio a tiro de um candidato à Assembleia Constituinte na sua própria casa.A vítima de 39 anos,era advogado e candidato à Constituinte na Ciudad Bolivar ,cidade no sudeste da Venezuela.O candidato foi baleado à morte por indivíduos que invadiram a sua casa durante a noite . Paralelamente a oposição que lançou um apelo para que as pessoas manifestassem em Caracas e levantassem barricadas em todo o país,teve também uma vítima.No decurso de uma manifestação de protesto organizada pela oposição na cidade de Cumana,no nordeste do país, o secretário da juventude de um partido da oposição foi igualmente alvejado por balas mortalmente.
Eml Caracas, onde os protestos foram mais violentos,pelo menos quatro militares ficaram feridos, depois de uma explosão no leste da cidade.Segundo as agências noticiosas ,na região oeste da capital venezuelana, tropas da Guarda Nacional interviram com veículos blindados, balas de borrachas e gases lacrimogénios ,para dispersar os manifestantes que bloqueavam as ruas.Na segunda cidade do país, Maracaíbo, no oeste , bem como em Porto Ordaz no leste,os militares enfrentaram igualmente partidários da oposição que manifestavam contra o escrutínio de domingo.
Segundo a oposição ,o Presidente Nicolas Maduro convocou a eleição da Constituinte para manter-se indefinidamente no poder. Maduro acusa a oposição , reunida no seio da coligação MUD (Mesa da Unidade Democrática) maioritária no Parlamento , de fomentar a violência para desestabilizar o seu governo e de estar a soldo de interesses externos.
O Chefe de Estado venezuelano, Nicolàs Maduro foi a primeiro eleitor a votar numa mesa de voto situada no oeste de Caracas, acompanhado pela sua esposa Cilia Flores e por vários dirigentes do seu partido. Numa curta declaração aos media, ele defendeu o direito dos venezuelanos a votar livremente e acusou o seu homólogo americano Donald Trump, que Maduro qualificou de imperador, de tentar impedir o povo da Venezuela de exercer o seu direito de voto.
A votação para a Constituinte teve início às 6 horas locais( 10H00 GMT) e visa eleger 545 membros . Os militares foram mobilizados para assegurar a normalidade do escrutínio, rejeitado pela oposição que exige o fim do mandato de Nicolas Maduro e a organização de eleições gerais. Nicolas Maduro sucedeu na presidência à Hugo Chávez, falecido em 2013.
Os Estados Unidos, alguns países da Europa ocidental e da América latina(Argentina,Brasil,Colômbia, México e Panamá), condenaram a decisão tomada por Maduro de organizar a eleição para a Constituinte.Os referidos estados,membros da OEA(Organização dos Estados Americanos) afirmam que a Constituinte vai destruir a democracia venezuelana.
Na Espanha,o socialista e ex-chefe de governo José Luis Zapatero, insistiu sábado na necessidade de diálogo para resolver a crise venezuelana. Zapatero acusa a oposição venezuelana de fomentar um golpe de Estado com o apoio dos Estados Unidos e governos lacaios.A Colômbia e o Panamá, anunciaram que não vão reconhecer os resultados da eleição de domingo.
A MUD(oposição), que na semana passada realizou um referendo simbólico contra o projecto de Constituinte, decidiu boicotar o escrutínio de domingo, ao não apresentar nenhum candidato.
Na votação para a Constituinte, o escrutínio divide-se em duas modalidades, um voto territorial e outro sócio-profissional. Sessenta e dois porcento dos 19,8 milhões de eleitores venezuelanos poderão, por conseguinte, votar duas vezes.
Em declarações à RFI (jornalista Lígia Anjos), o Conselheiro das Comunidades Portuguesas na Venezuela Fernando Campos pôs em causa a credibilidade do escrutínio e sublinhou que o mesmo caracteriza-se por um clima de ameaças.
Fernando Campos, Conselheiro das Comunidades Portuguesas
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