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Alemanha

Bento XVI acusado de inacção perante pedofilia quando era arcebispo de Munique

Um relatório encomendado pela igreja alemã apontou o dedo sobre a actuação do antigo Papa Bento XVI, na época em que era arcebispo de Munique e Freising, no sul da Alemanha, entre 1977 e 1982. O antigo Sumo Pontífice é acusado de nada ter feito perante casos de pedofilia envolvendo clérigos que estavam sob a sua responsabilidade.

Papa Bento XVI em Roma em Fevereiro de 2012.
Papa Bento XVI em Roma em Fevereiro de 2012. Reuters/Tony Gentile
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Neste documento cujos resultados foram divulgados ontem, são contabilizados um total de 497 vítimas entre 1945 e 2019 na arquidiocese de Munique e Freising, principalmente meninos e adolescentes bem como 235 supostos culpados, na sua maioria padres, num total de 173.

Mas segundo Martin Pusch, advogado dos autores do relatório,"esse número não reflecte a dimensão total" destas agressões de que tinham conhecimento alguns responsáveis eclesiásticos, segundo afirma ainda o relatório.

Entre as figuras apontadas, encontra-se o antigo papa Bento XVI, 94 anos, que actualmente vive retirado no Vaticano desde a sua renúncia em 2013. Na época dos factos, quando era arcebispo de Munique e Freising, na Baviera, no sul da Alemanha, entre 1977 e 1982, o então Dom Joseph Ratzinger terá fechado os olhos sobre a actuação de alguns sacerdotes, nomeadamente o Padre Hullermann cujo passado pedófilo era conhecido quando foi transferido de Renânia para a Baviera em 1980.

Acusado de graves abusos sobre menores, os seus actos foram evocados na sua reunião de admissão na arquidiocese de Munique e Freising, uma reunião na qual estava presente o antigo Papa.

Apesar de um tratamento psiquiátrico, o Padre Hullermann continuou a agredir menores, acabando por ser condenado a uma pena de prisão suspensa em 1986. Esta condenação não o impediu de ser transferido para outra cidade da Baviera onde os abusos só pararam em 2010 quando foi forçado a aposentar-se.

Reagindo de forma indirecta a este relatório, Bento XVI disse estar "chocado e envergonhado" perante a pedofilia na Igreja alemã, mas numa declaração transmitida aos advogados dos autores da investigação, o antigo Papa rejeitou "estritamente" qualquer responsabilidade no sucedido.

O Vaticano, por sua vez, ao afirmar pretender estudar detalhadamente este relatório, também deu conta do "seu sentimento de de vergonha e de remorsos" perante as violências cometidas, o Papa Francisco não tendo contudo aceite o pedido de demissão do Cardeal Reinhard Marx, outro dos clérigos acusados de ter sido negligente perante a pedofilia na igreja alemã.

Há quatro anos, um relatório indicou que a nível nacional pelo menos 3.677 menores foram vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero desde 1946, cada diocese tendo vindo a fazer as suas próprias investigações desde então.

Na Alemanha, o catolicismo continua a ser uma das principais religiões, muito embora os fiéis tenham passado de praticamente 25 milhões em 2010 para 22,2 milhões em 2020.

Este relatório sobre a Igreja alemã é uma das numerosas investigações que têm sido feitas pelo mundo fora sobre os crimes pedófilos cometidos por sacerdotes. Aqui em França, no passado mês de Outubro, foi publicado um relatório estimando que cerca de 216 mil menores foram vítimas de abusos sexuais por parte de 3 mil padres e outros religiosos desde 1950.

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