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Colômbia

Expectativa de mudança na segunda volta das presidenciais colombianas

Cerca de 39 milhões de eleitores colombianos são hoje chamados às urnas na segunda volta das presidenciais. Na corrida estão o opositor de esquerda Gustavo Petro que chegou em primeiro lugar na primeira volta com 40% dos votos e, do outro lado do xadrez político, o empresário e candidato independente Rodolfo Hernandez que obteve na primeira volta 28% dos sufrágios.

Candidatos à segunda volta das presidenciais colombianas: à esquerda, Gustavo Petro e à direita Rodolfo Hernandez.
Candidatos à segunda volta das presidenciais colombianas: à esquerda, Gustavo Petro e à direita Rodolfo Hernandez. REUTERS - LUISA GONZALEZ
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A expectativa é a palavra-chave numa eleição que decorre sob alta tensão, face ao receio de confrontos em caso de resultados renhidos, depois de três semanas de uma campanha agressiva, com desinformação e acusações de toda a ordem. Nesta óptica, foram destacados para o terreno 320 mil agentes policiais e militares para garantir a segurança do escrutínio que decorre igualmente sob a vigilância de numerosos observadores internacionais.

Seja qual foi o desfecho, esta eleição é marcada desde já pela ruptura, esta sendo a primeira vez que nenhum candidato do campo conservador está qualificado para a segunda volta das presidenciais. O Presidente cessante, o conservador Ivan Duque, não se candidatou às presidenciais, a Constituição não lhe permitindo brigar um segundo mandato.

Na corrida este domingo está o candidato de esquerda, Gustavo Petro, 62 anos, ex-guerrilheiro convertido na social-democrata, antigo autarca de Bogotá e ex-senador cujo programa preconiza a universidade gratuita, sistemas públicos de saúde e de aposentação, uma transição ecológica, a promoção de uma economia baseada na agricultura e no turismo e a retoma das negociações com os grupos armados no intuito de apaziguar o país que permanece dilacerado pela violência apesar da assinatura de acordos de paz. O candidato de esquerda obteve 40% dos votos na primeira volta das presidenciais no mês passado. Se for eleito, ele será o primeiro presidente de esquerda alguma vez eleito na Colômbia.

Do outro lado do xadrez está o magnata do imobiliário e candidato independente Rodolfo Hernandez, 77 anos, que se deu a conhecer dos eleitores através de vídeos na rede TikTok. Referindo ter como prioridade a luta contra a corrupção, o antigo presidente da câmara de Bucaramanga (norte do país) expressa-se com frases lapidares, como “não roube, não minta, não traia”, e tem propostas que vão desde encerrar algumas embaixadas colombianas para amortizar empréstimos estudantis até exigir que todos os colombianos pratiquem desporto. Apesar de ser apresentado como candidato independente, Este candidato que alcançou 28% dos votos na primeira volta, obteve imediatamente o apoio da direita tradicional e da sua figura tutelar, o antigo Presidente Alvaro Uribe.

Neste contexto tenso e dividido entre dois candidatos radicalmente diferentes, Cristina Matias, artista portuguesa radicada há quase 40 anos em Bogotá, dá conta de uma vontade de mudança da população do país.

"As expectativas são muitas porque os dois estão muito empatados. Há uma diferença de poucos votos. Há uma grande expectativa em torno do Petro. Há uma grande maioria que vota por ele que quer uma mudança verdadeira, a nível político, a nível social, que vá ajudar um pouco mais as pessoas desfavorecidas que são as pessoas que moram no campo. Por outro lado, está o engenheiro (o independente Rodolfo Hernandez) que apareceu do nada e cuja forma de ser e de falar tem sido um êxito. As pessoas gostaram disso, dizem que é mão dura, que é preciso ter uma mão forte na Colômbia. Os dois estão muito, muito, empatados. Então eu não sei o que vai acontecer", declara Cristina Matias.

Questionada sobre os desafios que esperam quem sair vencedor destas presidenciais, esta habitante de Bogotá considera que "vai haver muitas dificuldades seja quem for o presidente. Há muita corrupção, então tem que fazer essa mudança. Por outro lado, há também as guerrilhas, os narcotraficantes que têm muita força e isto é um problema muito grande no campo. Por outro lado, há as matanças que são o pão de cada dia na Colômbia, assassinatos de líderes sociais, das pessoas que protegem a terra, a ecologia, os rios, os mineiros... Isto é uma mistura de tudo. Então, eu acho que para o próximo Presidente não vai ser fácil".

De referir que este país produtor de petróleo, carvão, pedras preciosas e café tem sido flagelado pela corrupção, a violência dos grupos armados e o narcotráfico. Sob a autoridade de Ivan Duque, o país não viu a situação evoluir pela positiva, os quatro anos do seu mandato tendo sido marcados pela crise pandémica e pelo agravamento da recessão bem como das tensões sociais. A nível económico, apesar de o Banco Mundial antever um crescimento de 4,4% para o país este ano, a Colômbia enfrenta uma dívida pública rondando os 70%, uma taxa de desemprego de um pouco mais de 11% e calcula-se que cerca de mais de um terço dos cerca de 51 milhões de habitantes do país se debata com problemas de pobreza extrema.

Os primeiros resultados das presidenciais deste domingo deveriam ser conhecidos ainda esta noite.

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