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Turquia

Eleições presidenciais e legislativas podem trazer surpresas na Turquia

Uma das eleições mais importantes do ano tem lugar este domingo na Turquia. Vinte anos de um reinado cada vez mais autocrático e polarizador do actual presidente estão ameaçados por uma oposição unida.

Eleições presidenciais e legislativas podem trazer surpresas na Turquia.
Eleições presidenciais e legislativas podem trazer surpresas na Turquia. © AFP - OZAN KOSE
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Desde que Recep Tayyip Erdogan ganhou, em Novembro de 2002, as suas primeiras eleições legislativas, como líder do novo Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), tornando-se então primeiro-ministro, o actual Presidente não conheceu qualquer derrota eleitoral.  Nos últimos 20 anos, Erdogan tem ganho tudo - 5 eleições legislativas, 3 locais, 2 presidenciais (em 2014 e 2018), e três referendos constitucionais, o último dos quais em 2019, e que transformou o regime turco num presidencialista, com todos os poderes executivos nas mãos do Presidente.

Erdogan, que tem actualmente 69 anos, candidatou-se para um último mandato, mas um que ele ambiciona mais do que tudo. Em Outubro comemora-se o centenário da moderna república turca, Erdogan ambiciona fechar o círculo e deixar a sua marca naquilo que ele considera ser o “século da Turquia”.

Mas desta vez, e apesar do controlo quase absoluto que Erdogan tem da máquina estatal e dos meios de comunicação social, a habitual vitória não está garantida. Muito pelo contrário - Kemal Kiliçdaroglu, 74 anos, líder há 12 do CHP - partido republicano do povo, o maior da oposição, da esquerda republicana laica, continua à frente nas sondagens, ainda que por uma margem pequena. 

Kiliçdaroglu conseguiu o impensável - unir 7 partidos da oposição, incluindo o partido curdo, um partido nacionalista, dois partidos dissidentes do AKP, e mesmo um partido islamita, numa frente anti-Erdogan, e tornar-se um catalisador para a mudança que metade do país anseia há muito. Mudança de regime e mudança de políticas num país indubitavelmente mais moderno, mais tecnológico, mais avançado, mas também mais dividido, mais tenso, menos próspero e justo.

A profunda crise económica, que mergulhou milhões de turcos na pobreza, a resposta lenta e atabalhoada das autoridades ao terrível sismo de Fevereiro passado, e a retórica populista e polarizadora de Erdogan - que levou a Turquia a afastar-se do Ocidente, e a cisões profundas na sociedade turca devido a temas religiosos, étnicos, ou de costumes, criou uma sede de mudança que Kiliçdaroglu tem aproveitado, apesar da desigualdade nos meios de propaganda ou no acesso aos meios de comunicação social.

A maior parte das sondagens apontam para uma vitória de Kiliçdaroglu por 46-48% na primeira volta (contra 44-46% de Erdogan), insuficiente numa primeira volta. Dois outros candidatos, Muharrem Ince, um dissidente do CHP, e antigo candidato presidencial em 2018, e Sinan Ogan, de um partido da extrema-direita anti-imigração, arrecadam os 5% que provavelmente levarão a um segundo escrutínio no dia 28 de Maio. As eleições legislativas, que também decorrerão no domingo, deverão ser ganhas, sem surpresa, pela coligação liderada pelo AKP.

Erdogan começou a campanha fatigado, e até teve problemas de saúde, mas nos últimos dias ganhou forma e pujança, e desfez-se em promessas para mobilizar o seu eleitorado - aumento de 45% a todos os funcionários públicos, um segundo aumento do salário mínimo (actualmente nos 400€), aumento de pensões e gás natural gratuito durante um mês para todos os consumidores domésticos. Resta saber se isto é suficiente para o manter no poder.

Ouça a Reportagem de José Pedro Tavares, o nosso correspondente.

01:40

Correspondência da Turquia 10-05-2023

Istambul, Turquia. Imagem de Arquivo.
Istambul, Turquia. Imagem de Arquivo. © AP - Emrah Gurel

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