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Médio Oriente

Aumenta a pressão internacional sobre Israel para negociar um cessar-fogo em Gaza

Responsáveis americanos, egípcios, israelitas e do Qatar devem reunir-se a partir desta terça-feira no Cairo para se debruçarem sobre um hipotético acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde cerca de 1,5 milhões de palestinianos refugiados no sul do enclave sobrevivem em condições precárias e sob a ameaça de uma ofensiva terrestre israelita de grande envergadura.

Um bairro de Rafah completamente destruído após a intervenção do exército israelita para libertar dois reféns detidos pelo Hamas, no dia 12 de Fevereiro de 2024.
Um bairro de Rafah completamente destruído após a intervenção do exército israelita para libertar dois reféns detidos pelo Hamas, no dia 12 de Fevereiro de 2024. AP - Fatima Shbair
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De acordo com testemunhas locais, as tropas israelitas bombardearam durante a noite o leste da cidade de Rafah, no extremo sul do enclave, último reduto da Faixa de Gaza onde se refugiou metade da população do território. O exército israelita afirma ter morto dezenas de combatentes palestinianos no centro e no sul do território nestas últimas 24 horas.

No seu último balanço, o Hamas que controla o território dá conta de 164 mortos desde ontem e um total de 28.340 mortos desde o dia 7 de Outubro, altura em que 1.160 pessoas foram massacradas em Israel e cerca de 250 outras foram raptadas.

A somar-se a este balanço, a ONU expressa o receio que possa ocorrer uma catástrofe humanitária de grandes dimensões no enclave, no caso de se concretizar a ameaça do Primeiro-ministro israelita de lançar uma ofensiva terrestre em Rafah. Na sexta-feira, ele ordenou às forças israelitas que se preparassem neste sentido.

Neste contexto, à semelhança de outros organismos e países, os Estados Unidos têm vindo a aumentar pressão sobre Israel para ir sentar-se à mesa das negociações. Evocando esta "pressão enorme", Ivo Sobral especialista do mundo árabe e coordenador de mestrado sobre programas militares na universidade de Abu Dhabi, comenta que "é natural que os Estados Unidos, neste momento, tentem pacificar Israel, o que é algo bastante difícil. Continua ainda a ser uma missão quase impossível porque Israel, apesar disso, continua as suas operações sem qualquer pausa, sem qualquer possibilidade de pensar num futuro onde possa existir uma paz duradoira, pelo menos neste momento".

Na tentativa de arrancar um cessar-fogo que possa desembocar numa paz duradoira, os Estados Unidos afirmaram ainda ontem estar a trabalhar no sentido de propor uma pausa de seis semanas com a possibilidade de troca de prisioneiros. Mas "Israel está neste momento com uma lógica perfeitamente militar. A lógica é que para Israel existem ainda pontos que devem ser comprimidos, no objectivo de controlar Gaza e a missão não estaria concluída, sem concluir a invasão de Rafah", constata o estudioso que ao aludir ao projecto israelita de evacuar os civis de Rafah não esconde alguma perplexidade.

"Este é um grande problema que parece quase impossível resolver. Onde irão essas pessoas? Vão para o Egipto? O Egipto já disse várias vezes que não iria aceitar esses mesmos refugiados. O Presidente Sissi já afirmou isto várias vezes. Disse que a zona do Egipto para onde as pessoas iriam, que é o Sinai, não tem condições para alojar uma população tão grande e, inclusive, disse que seria uma ameaça muito grande para a estabilidade do Egipto em si como país. (...) A outra possibilidade seria a Jordânia. Talvez 50% da população da Jordânia é de origem palestiniana e existe um delicado equilíbrio étnico no país. Portanto, um aumento da população palestiniana iria fazer pressão interna para outro país que é a Jordânia. Para onde irão estas pessoas? Outras partes de Gaza?" interroga-se Ivo Sobral.

Reagindo à possível ofensiva terrestre de Israel contra Rafah, a África do Sul informou ter apresentado ontem um novo recurso junto do Tribunal Penal Internacional para que examine com urgência a eventualidade deste ataque e de "uma nova violação dos direitos".

Entre as vozes também críticas, a China habitualmente reservada, exortou hoje Israel a cessar imediatamente a sua ofensiva em Gaza. Na óptica de Ivo Sobral, a China tem interesse no restabelecimento de alguma estabilidade na região, dado que as suas trocas comerciais têm sofrido o impacto indirecto do conflito que se estendeu ao Mar Vermelho, com relatos de ataques huthis contra navios mercantes.

"A China tem alguns interesses em Israel, mas a esmagadora maioria dos interesses chineses estão no Golfo, assim como no Mar Vermelho. Uma pacificação imediata em Gaza, obviamente significa que provavelmente os ataques contra os navios no Mar Vermelho efectuados pelos huthis iriam diminuir. Isso seria bom para a economia chinesa que está a necessitar um 'boosting' económico o mais rapidamente possível. Em segundo lugar, o objectivo estratégico da China, a médio prazo, é ocupar o lugar dos Estados Unidos no Médio Oriente. Isto já é realidade no Iraque, no Irão e muitos países do Golfo estão dentro da esfera chinesa. A China ouve o que os parceiros do Golfo dizem em relação a este conflito e quer juntar um pouco a sua voz também a esta chuva de críticas em relação a Israel", refere o universitário português baseado em Abu Dhabi.

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