Turquia: "Parece haver uma espécie de deriva democrática em Ancara"
Publicado a:
Ouvir - 07:05
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou este sábado que os embaixadores de 10 países, incluindo França, Alemanha e Estados Unidos da América, que apelaram à libertação do seu opositor Osman Kavala, seriam declarados 'persona non grata' e acabariam por ser expulsos do país, mas ontem voltou atrás na sua decisão.
A RFI falou com Filipe Pathé Duarte, professor e investigador de geopolítica da Nova School of Law, da Universidade Nova de Lisboa, que começou por apontar as principais razões que levaram o presidente turco a adotar, num primeiro tempo, um posicionamento agressivo para com os países que demonstraram apoio à oposição.
"Há aqui várias questões a ter em conta. Em primeiro lugar é um posicionamento cada vez mais forte por parte de Erdogan. Aparentemente, parece haver uma espécie de deriva democrática em Ancara, sendo que este apoio por parte do ocidente relativamente ao opositor é em si um aparente desafio ao poder de Erdogan".
No decorrer do dia de ontem, o presidente turco acabou por voltar atrás na sua decisão. Segundo Filipe Pathé Duarte, há vários motivos que podem ter tido peso neste recuo.
"As razões que levaram o presidente a recuar são óbvias. Estamos a falar do aliviar de uma das maiores crises diplomáticas de quase 20 anos do poder do AKP, portanto, estamos a falar de declarar 'persona non grata' os embaixadores de vários países. Estamos a falar de uma crise diplomática significativa e, ao mesmo tempo, temos também de considerar que, na próximo fim de semana, no sábado, vai haver reunião do G20 em Roma e no domingo, dia 31, uma reunião do COP26, da conferência sobre o clima da ONU na Escócia", disse ainda o especialista em geopolítica.
De acordo com o investigador, estas reuniões internacionais 'pressionaram' o presidente turco a voltar atrás na sua decisão.
"Tendo em conta os encontros internacionais do próximo fim de semana, obviamente que Erdogan, sendo também um pragmático, recuou na sua decisão", complementou o professor.
Nos últimos meses, a Turquia está a braços com uma crise económica sem precedentes. Segundo Filipe Pathé Duarte, existem várias estratégias que o país pode adoptar para que a sua situação económica evolua favoravelmente.
Para que o país possa melhorar a nível económico é necessário que exista "uma abertura, de âmbito comercial, um tentar valorizar a moeda e um ajuste das políticas económico-financeiras", rematou o investigador.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro