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Segurança dos sistemas de informação e telecomunicações em contexto de conflito

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A Ucrânia tem sido palco há quase três semanas de um conflito armado que se joga tanto no terreno, como também em matéria de informação ou propaganda, telecomunicações e sistemas informáticos.

Mapa dos cabo submarinos no mundo no dia 9 de Março de 2022.
Mapa dos cabo submarinos no mundo no dia 9 de Março de 2022. © https://www.submarinecablemap.com/
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Face à Rússia cuja forte aposta há largos anos na pirataria informática é largamente documentada, os países ocidentais têm vindo a desenvolver respostas. O grupo de hackers 'Anonymous' nomeadamente, tem levado a cabo acções de sabotagem contra os sistemas informáticos de entidades públicas russas.

Por outro lado, em matéria de prevenção de ciberataques, José Manuel Anes, especialista de terrorismo e questões de segurança ligado à Universidade Lusíada em Lisboa, refere que no caso de Portugal, "existe na polícia judiciária, uma unidade de cibersegurança muito competente que está bem equipada, embora seja sempre necessário actualizar todo esse equipamento e que tem respondido bem a esses ataques. Também ao nível das forças armadas, também há essa capacidade e já existe uma capacidade de resposta a esse tipo de ataques", o especialista em segurança sublinhando que "a Espanha tem unidades e a França tem toda a capacidade de opor-se a esse tipo de ataques e neutralizá-los".

Noutra vertente, um grupo de engenheiros informáticos polacos desenvolveu uma plataforma denominada 1920.in sustentada por uma base de dados de 20 milhões de números de telemóveis e 140 milhões de endereços de correio electrónico russos através da qual ocidentais podem enviar mensagens aos habitantes da Rússia sobre o que está a acontecer na Ucrânia e tentar contornar a versão de Moscovo sobre o conflito. Para José Manuel Anes, esta iniciativa não deixa de fazer sentido. "Tudo ajuda, também mensagens para os telefones dos soldados russos, isso também pode ter interesse e está a ser feito, embora de uma maneira limitada", considera o professor.

Ao referir-se ao facto de o Kremlin ter apresentado a ofensiva na Ucrânia como sendo uma 'operação militar especial' e ter igualmente acusado os Estados Unidos de desenvolver secretamente armas biológicas em laboratórios na Ucrânia, uma narrativa que tem sido retomada pela China, José Manuel Anes considera que "a China está a ser solidária com a Rússia nesta campanha, talvez não do ponto de vista militar, mas a nível da propaganda e contra-informação". Contudo, ao ser questionado sobre as práticas do lado ocidental, o investigador refere que "não podemos ser ingénuos. Naturalmente que também há contra-informação da parte dos países ocidentais".

Nesta 'guerra' das tecnologias da informação, também não fica de fora um cenário extremo, o corte dos cabos submarinos de telecomunicações dos países europeus. Este acontecimento que provocaria um 'black-out' total, tem sido evocado por especialistas desta matéria e foi inclusivamente abordada pelos Ministros Europeus das Comunicações Electrónicas durante uma reunião realizada nos dias 8 e 9 de Março no âmbito da Presidência francesa do Conselho da União Europeia.

"Temos de estar preparados para tudo. Depende do estado de desespero da Rússia", considera José Manuel Anes não deixando porém de sublinhar que "isso poderia dar uma reposta da NATO porque já seria um patamar superior em que a NATO tinha de ter uma resposta e uma reacção forte relativamente a isto". Para o investigador, "durante muito tempo, os europeus pensaram que bastavam, para além dos recursos próprios a nível de defesa, o 'chapéu-de-chuva' dos americanos", mas "a Europa tem que investir nas suas forças armadas". A Alemanha "já mudou completamente a sua filosofia e está decidida a desenvolver toda uma estratégia de defesa muito forte", nota o professor referindo que tal sucede igualmente com países como a Dinamarca e a Finlândia. "Esta invasão da Ucrânia assustou muitos países europeus e vai levar a que se pense seriamente no reforço das capacidades de defesa" da Europa, estima ainda José Manuel Anes.

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