Acesso ao principal conteúdo
Convidado

Associação ajuda cães errantes de São Tomé

Publicado a:

Na cidade de São Tomé, “são muitos, muitos, muitos, muitos, muitos” os cães errantes, com fome, com sede, alvo de maus tratos e de atropelamentos frequentes. A Associação Amigos dos Animais (AMA) recebe e trata alguns e está a ser apoiada pela Fundação francesa Brigitte Bardot para esterilizar 800 cães até Julho de 2023.

Mafalda Iria de Sousa, Membro da AMA
Mafalda Iria de Sousa, Membro da AMA © Carina Branco/RFI
Publicidade
09:42

Reportagem Associação que cuida de cães errantes em São Tomé

Chama-lhes “pestinhas”, “princesas” e “bolinhas de amor”. Agarra-os ao colo e não se cansa de dar e receber beijinhos dos vários cães que “adoptou” provisoriamente. Mafalda Iria de Sousa é uma das duas veterinárias da Associação Amigos dos Animais (AMA), situada em Praia Lagarto, na capital são-tomense. É ali que vão parar alguns dos inúmeros cães errantes - e muito maltratados - da cidade de São Tomé.

Na sua maioria, os animais são levados para a associação e clínica veterinária depois de um grave acidente e muitos são mesmo salvos pelas veterinárias Mafalda e Helda Costa Neto, com a ajuda dos vários voluntários da AMA.

Mafalda Iria de Sousa juntou-se à associação em 2019, um ano depois de esta ter sido criada, e considera-se uma “mãe-galinha” de todos os animais que lhe passaram pelas mãos. Como não pode acolher todos, ela e os outros voluntários andam sempre com um saco de ração no carro. Há quem lhe chame “a maluca dos cães”.

Todas andamos com um saco de ração no carro. Há cães que já conhecem mesmo o barulho do motor do carro e, assim que chegamos na cidade, temos uma passerelle de cães a desfilar atrás do nosso carro, à espera que paremos. Há muita gente que nos chama as malucas dos cães, mas é por uma boa causa. Às vezes penso: ‘Eu não sou maluca, estou só a tentar ajudá-los!’. Outros dias é com muito orgulho. E muito amor, sobretudo”, conta.

A “principal luta” da associação é controlar o número de cães errantes nas ruas, através da esterilização. Neste momento, a AMA conta com o apoio da Fundação francesa Brigitte Bardot para esterilizar 800 animais até Julho de 2023.

A nossa principal luta é mesmo o controlo populacional de cães errantes na rua. É óbvio que temos lutas maiores como promover uma só saúde e garantir o bem-estar animal, mas a nossa principal luta é mesmo o controlo de cães errantes”, explicou a veterinária, acrescentando que têm, também, o apoio da World Veterinary Service.

Mafalda conta que não há uma estimativa de quantos cães existem nas ruas, adiantando apenas que “são muitos, muitos, muitos, muitos, muitos”. A veterinária faz questão de sublinhar que em São Tomé e Príncipe nunca foi registado um caso de raiva, ainda que seja classificado como país com raiva no site da Organização Mundial da Saúde Animal. “Para um país ser considerado livre de raiva, há determinadas fases e uma delas é o país ter um plano de vacinação instaurado há, pelo menos, cinco anos. É necessário fazermos amostragem de um determinado número de animais e enviarmos para laboratórios de referência na Europa. E nunca nenhum desses trabalhos foi feito. Por isso é que São Tomé não é considerado como um país livre de raiva. Mas, a verdade é que nunca houve nenhum caso detectado e assinalado de raiva em São Tomé”, sublinha.

O principal problema dos cães errantes é a fome e a sede, mas também os atropelamentos porque os carros raramente se desviam. O aumento de cães abandonados à sua sorte foi também causado pelo aparecimento de carraças, alegadamente “importadas” por um cão proveniente do Gabão.

Neste momento, nós estamos com um problema muito grave em São Tomé que são as carraças. Não havia carraças em São Tomé, foi um cão que entrou do Gabão contaminado. Não sabemos como aconteceu, mas acabou por contaminar todos os cães - inicialmente da cidade de São Tomé e agora já de áreas um bocadinho posteriores. As pessoas não conheciam aquele bicho [carraça]. As pessoas assustaram-se e muitas delas começaram a abandonar os cães com medo porque não sabiam como tratar. (…) Ainda temos muitos animais que acabamos por perder porque estão totalmente infestados por carraças e são abandonados no mato”, lamenta.

Neste espaço, funciona também a clínica veterinária, que foi equipada graças à ajuda do PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, e o novo objectivo é conseguirem uma máquina de anestesia e um aparelho de raio-x portátil. Depois, a associação e a clínica têm de encontrar novo lar porque dentro de um ano deverão abandonar as instalações actuais. Para isso, começaram uma recolha de fundos através de um “crowdfunding” disponível na página internet da associação.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Ver os demais episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.