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França: Professores vivem “trauma terrível” depois de ataque a escola

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A França homenageia, esta segunda-feira, dois professores assassinados em ataques a escolas, um há três dias, Dominique Bernard, e outro há três anos, Samuel Paty. Este é “um trauma terrível” para os docentes, explica António Oliveira, professor de português na região de Paris, que diz não ter medo de ensinar, mas que admite ter colegas que “receiam abordar certos assuntos”. António Oliveira diz que “a escola é um símbolo” contra o obscurantismo e é, por isso, “o maior inimigo” dos extremistas.

Placa a lembrar Samuel Paty, o professor assassinado a 16 de Outubro de 2020. Bordéus, França, 16 de Outubro de 2023.
Placa a lembrar Samuel Paty, o professor assassinado a 16 de Outubro de 2020. Bordéus, França, 16 de Outubro de 2023. © AFP - CHRISTOPHE ARCHAMBAULT
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Esta segunda-feira, em França, as escolas observaram um minuto de silêncio, às 14h, em memória dos professores Dominique Bernard e Samuel Paty, assassinados na escola por extremistas islâmicos, a 13 de Outubro de 2023 e a 16 de Outubro de 2020. Este é um “trauma terrível” para a classe docente, conta António Oliveira, professor de português na região de Paris, para quem a escola “é um símbolo” contra o obscurantismo e é, por isso,“o maior inimigo” dos extremistas.

A escola é um inimigo porque na escola aprende-se a reflectir. A escola é a civilização e, como vimos no Afeganistão, a primeira coisa que os extremistas fizeram foi recusar a escola às mulheres. A instrução é reflexão, é pôr em causa os preconceitos e os extremistas não querem que haja reflexão, eles querem é que as pessoas obedeçam ao que eles querem impor. Isto não tem nada a ver com religião, eles não conhecem nada na religião (…) Eles querem utilizar a religião para impor um certo terror, mas nós não podemos confundir a religião e o sectarismo daqueles que não querem que as pessoas pensem por elas próprias”, considera este professor.

Depois do ataque de sexta-feira, o governo francês subiu para o nível máximo o alerta contra atentados e mobilizou 7.000 soldados para todo o território. A segurança também foi reforçada em torno das escolas, mas o sentimento é de choque e de trauma, com professores a admitirem receio de dar aulas.

Infelizmente há uma certa autocensura, professores que receiam abordar certos assuntos - como em História, mas também em Ciências Naturais, em tudo o que está ligado à sexualidade, etc – e isso é problemático. Infelizmente os professores não se deviam autocensurar, mas fazem-no porque têm a pressão dos alunos, dos pais e da sociedade (…) Eu, por agora, não tenho medo de ensinar e não me vou limitar. Nós devemos continuar a nossa missão, embora eu compreenda perfeitamente que haja professores que tenham medo”, acrescenta.

Para António Oliveira, não chega reforçar a segurança nas escolas, é preciso ir à raiz do problema: “Há que repensar toda a segurança das escolas, isso é primordial. Mas, além disso, não é só proteger uma escola, é uma reflexão total sobre a educação, sobre o que se passa na sociedade, sobre porque é que há extremistas.

Oiça a entrevista no programa CONVIDADO de hoje.

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