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Quito Tembe acredita que se está a viver "momento histórico" na dança

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O moçambicano Quito Tembe, director da Plataforma Internacional de Dança Contemporânea KINANI, é um dos cinco comissários do fórum de curadores internacionais da Bienal de Dança de Lyon que vai preparar projectos para a próxima edição de 2025. O fórum é um espaço de reflexão de novas formas de criação e, na sua opinião, poderá “mudar a forma de se estar na dança” e é “um momento histórico” também para Moçambique.

Quito Tembe, Director do Festival Internacional de Dança Contemporânea Kinani
Quito Tembe, Director do Festival Internacional de Dança Contemporânea Kinani © Carina Branco/RFI
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A Bienal de Dança de Lyon, dirigida pelo português Tiago Guedes, tem pela primeira vez um fórum de curadores internacionais que é um espaço de reflexão para criar novas formas de cooperação e para criar de forma colectiva. Foram convidados cinco comissários de Moçambique, Brasil, Austrália, Taiwan e Estados Unidos que vão acompanhar artistas dos seus países para apresentarem os seus projectos na Bienal de 2025. O programador moçambicano Quito Tembe é o director da Plataforma Internacional de Dança Contemporânea KINANI e é um dos comissários deste fórum.

RFI: Que artista ou colectivo escolheu para co-criar um projecto a ser apresentado na próxima edição da Bienal de Dança de Lyon? 

Quito Tembe, Director da Plataforma Internacional de Dança Contemporânea KINANI: Essa pergunta é muito específica, mas eu gostaria de vos deixar na dúvida e na curiosidade porque justamente o nosso trabalho é acompanhar e contribuir para que a programação do Tiago [Guedes] seja feita de boa forma. Então, acho que essa resposta será dada mesmo por ele. A nossa missão, na verdade, é discutir, é reflectir e é buscar novas formas de mostrar, ou reflectir sobre novas formas de criação, e contribuir com este fórum para que a gente possa apoiar justamente a programação do Tiago.

Por outras palavras, além do Quito Tembe, vamos ter artistas moçambicanos em Lyon em 2025?

Certamente que sim. Acho que é estando aqui e tendo tido esta oportunidade que o Tiago nos deu. Deixa-me dizer que é confiar em nós, é confiar no nosso trabalho. E dar-nos esta oportunidade para a gente propor coisas aqui em Lyon abre outros caminhos e outras possibilidades e oportunidades para artistas moçambicanos.

Como bem disse, não estou aqui em nome do Quito Tembe, estou aqui em nome de Moçambique, no fim das contas - para não dizer de África - e levar desta porta que o Tiago nos abre uma porta de oportunidade. Somente estar - deixa-me frisar isto - só este fórum montado por ele e estar neste fórum de discussão, só isso, já é uma oportunidade enorme e soberba de intercâmbio, de reflexão, de acolher e de partilhar diferentes temáticas artísticas.

E também de integrar artistas extra-europeus neste festival eurocentrado?

É muito ousado o Tiago! (Risos) Neste sentido, penso que é uma grande inovação de, não somente convidar artistas para pôr em pacotes, mas pôr num lugar de reflexão, num lugar de contribuir e tendo-nos posto este desafio também mostra esta abertura e sensibilidade para os diferentes lugares e continentes como os nossos. Estamos aqui para ouvir, não estamos aqui somente para receber o que é bom e o que é mau. Estamos dentro, isto é, eu estando aqui, estou dentro da mesa de reflexão para construção de uma programação colectiva.

O objectivo da bienal com este fórum, segundo o seu director Tiago Guedes, é afastar-se das práticas de programação extractivista. Como é que isso vai ser feito na prática? Como é que vocês vão trabalhar?

Eu penso que já começámos. O simples facto de estarmos os cinco sentados na mesma mesa e de vermos as diferenças da reflexão de cada um, de vermos as diferentes formas com que cada um de nós olha para este objectivo, isto já é um processo colaborativo imenso. E é extraordinário termos este processo de descer ou subir até aos artistas, de transmitirmos estas discussões para os artistas que nos põem a representar de uma forma mais ousada ou menos ousada. 

Já têm alguma linha de força, alguns temas que queiram trabalhar? Pode revelar-nos?

Começámos com várias linhas de força. Acho que esta foi a grande conclusão que tirámos esta manhã, é que abrimos muito e fomos para além do que nos foi pedido. O trabalho que fizemos é justamente afunilar e encontrar um ponto de equilíbrio entre as diferentes formas de abordar este processo colaborativo para definirmos daqui para frente o que é que nós queremos como resultados destes encontros, não o resultado artístico ou resultado da mostra ou de uma programação, mas destes encontros artísticos, o que é que nós queríamos tirar como suco.

Como é que surgiu este convite e o que representa para si?

É um convite que me abre outras oportunidades, outras possibilidades e só estar neste grupo e com esta gente incrível, para mim, isto já é uma vitória muito grande. Como deve imaginar, Lyon é uma das maiores bienais do mundo da dança e, para mim, estar dentro deste fórum, vindo de um país que é Moçambique, que é lá naquele canto do continente africano, é para mim sem sombra de dúvida um motivo de muito orgulho e tanta honra que tenho de estar a discutir e a partilhar ideias com este fórum.

Para mim, acho que 2025 vai ser um dos anos mais importantes na minha carreira, dizer que finalmente fiz parte, não só como público, mas fiz parte da reflexão de alguma coisa que não sabemos o que é que vai dar, mas só esta ousadia de estarmos juntos a reflectir mudanças de formas, de como fazer, para mim é um momento histórico.

E como é que o Quito Tempo foi convidado?

Tenho um percurso local em Moçambique a nível de abrir para a internacionalização muito grande. Isto permitiu-me estar aqui e, posso dizer isto com muito orgulho, que o que me permite estar aqui é o trabalho que tenho vindo a desenvolver ao longo de todos estes anos em Moçambique.

Este ano estamos a celebrar a nossa 10ª edição da Bienal Kinani e que também é um dos anos mais importantes para nós porque vamos acolher a bienal ‘Danse l’Afrique Danse’ em Moçambique. Estes anos são anos - se fosse religioso eu diria de bênçãos! Estar aqui estar a ser entrevistado significa que soubeste que existe um Quito que está metido num grupo que está a fazer alguma coisa. Para mim,  são vitórias e é com muita satisfação que faço esta entrevista. Significa que já despertaram que existe alguém por detrás de todo aquele trabalho que acontece. Então é um motivo de muito orgulho.

Este fórum poderá abrir portas para uma maior visibilidade das artes de palco moçambicanas ou é só uma gota de água no deserto?

Não é uma gota de água, isto é uma viragem muito importante. Deixa-me dizer que a abertura que nós temos através deste fórum abre outras perspectivas. Se calhar estamos a mudar a forma de se estar na dança. Não estou a querer prometer nada e nem estou a querer divulgar nada, mas estou a dizer que a reflexão que está a surgir deste fórum pode mudar alguma coisa no panorama da dança contemporânea. E pode mudar alguma coisa na forma como nós fazemos as nossas programações, as nossas curadorias. É um momento histórico e é um momento importante. Vamos, sim, contribuir, não com uma gota, mas, se calhar, com um oceano!

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