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Mundo

Violência no Chile, Piñera fala de um país "em guerra"

Longas filas nos autocarros, o metro funciona parcialmente e um grande congestionamento marcam as primeiras horas desta segunda-feira, 21 de Outubro, em Santiago, no primeiro dia útil depois da violenta explosão social do fim-de-semana, com pilhagens, incêndios e confrontos nas ruas, que tiraram a vida a 11 pessoas.

A pior explosão social em mais de três décadas no Chile
A pior explosão social em mais de três décadas no Chile REUTERS/Jose Luis Saavedra
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Depois de uma noite um pouco mais tranquila do que as duas anteriores, marcadas por pilhagens, confrontos e incêndios, os chilenos tentam, com dificuldade, retomar as actividades habituais em Santiago.

A maioria dos trabalhadores foram trabalhar esta segunda-feira, mas as aulas continuam suspensas em praticamente todos os colégios e universidades. O fecho do metro, o principal transporte público, com cerca de três milhões de passageiros por dia - provoca maior dificuldade nesta cidade que conta com quase sete milhões de habitantes, agora obrigados a fazer longas filas para apanhar autocarros, ou para ter acesso às poucas estações de metro que voltaram a abrir.

A poucos metros da Casa de Governo, em pleno centro da capital, a estação de metro La Moneda abriu as portas depois das 7h locais, com vários soldados a controlar as entradas.

"Só há uma linha de metro a funcionar, a linha 1, que é uma das linhas principais. Há filas nos supermercados porque há muitos supermercados fechados. Há gente na rua a chamar para protestar, mas dá a sensação que há menos gente do que ontem", descreve Ana Figueiredo, professora universitaria na Universidad Academia de Humanismo Cristiano.

Esta segunda-feira, os chilenos parecem estar divididos; "uma parte está numa espécie de normalidade e outra continua a dizer não. Estão a convocar uma greve geral para quarta-feira, suspenderam aulas por toda a cidade de Santiago, ou seja, os protestos estão a augmentar. O governo continua a avançar com comunicados e cada vez que falam as pessoas revoltam-se ainda mais", descreve Ana Figueiredo.

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Ana Figueiredo, professora universitaria portuguesa na Universidad Academia de Humanismo Cristiano

"A cidade está em paz e na calma", afirmou esta segunda-feira o chefe militar responsável pela segurança, Javier Iturriaga. A declaração contraria o tom alarmista da declaração de domingo à noite do Presidente Sebastián Piñera, segundo o qual "estamos em guerra contra um inimigo poderoso, implacável, que não respeita ninguém e está disposto a usar a violência e a delinquência sem limite algum".

"A democracia tem a obrigação de se defender", afirmou Sebastián Piñera para justificar estas medidas de emergência, depois de uma reunião com os presidentes da Câmara dos deputados e do Senado.

"O governo fez anúncios, mas não falou muito. Eu acho que isso vai agravar o conflito. Porque mesmo que ele reconheça que a divisão social é um problema, não fez nenhuma proposta para reduzi-la", afirmou Gonzalo Winter, membro da oposição do Partido da Convergência Social.

No centro de Santiago, a presença de militares e de polícias continua forte. Os pequenos comércios começam parcialmente a abrir as portas, mas os grandes estabelecimentos; supermercados e centros comerciais decidiram continuar fechados.

Desde sexta-feira foi decretado o recolher obrigatório em Santiago entre as 19h e as 6h locais. Numa altura em que o "estado de emergência" está em vigor em cinco regiões, incluindo a capital de 7 milhões de habitantes.

Reivindicações alargadas

O Chile vive há três dias um estado de violência que não se registava há décadas. Levantaram-se confrontos entre manifestantes e polícia na Plaza Italia, no centro da capital, onde a polícia respondeu aos manifestantes com gás lacrimogéneo e jactos de água.

Ao mesmo tempo, as pilhagens propagavam-se em várias partes da capital. O acesso a vários hipermercados, que permaneceram fechados no domingo, foi forçado por manifestantes.

Os chilenos protestam desde sexta-feira contra o custo de vida e as desigualdades. À margem dos motins violentos, também decorreram protestos pacíficos.

"A maioria dos jovens e estudantes estão aqui porque vemos os nossos pais endividados e a trabalhar mais de 12 horas por dia. É um conjunto de coisas que faz com que nos mobilizemos hoje para lutar contra esse sistema!", apontam manifestantes à RFI.

Foi o aumento de 800 para 830 pesos (cerca de 4 cêntimos de euros) do preço dos bilhetes de metro em Santiago, a maior rede de transportes, com uma extensão de 140 quilómetros, e a mais moderna da América do Sul que transporta cerca de três milhões de passageiros por dia, que deu origem aos protestos.

Sebastián Piñera suspendeu o aumento do preço do bilhete de metro no sábado, mas os protestos e a violência continuaram, alimentados pela revolta das condições socio-económicas e das desigualdades no país, onde o acesso à saúde e à educação são predominantemente controlados pelo sector privado.

11 mortes e 1.500 detenções

Além dos 11 mortos, as autoridades informaram que pelo menos duas pessoas foram baleadas, e quase 1.500 detidas, na pior explosão social em mais de três décadas no país.

Perto de 10.000 policiais e militares foram destacados. Pela primeira vez desde o final da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), os chilenos voltaram a ter patrulhas militares nas ruas.

Passados três dias de violência, o centro da capital chilena e outras grandes cidades como Valparaíso e Concepción não escondem o caos que viveram nos últimos dias com semáforos no chão, autocarros carbonizados, lojas saqueadas e queimadas e milhares de pedras espalhadas nas ruas.

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