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Turquia

Turquia celebra hoje o centenário da república

Há exatamente 100 anos, Mustafa Kemal Ataturk fundava a moderna república turca, depois de uma heroica guerra de libertação e independência contra vários potencias estrangeiras, que ambicionavam ficar com uma grande parte do que é hoje a Turquia, após o colapso do Império Otomano. Governo de Erdogan cancelou todos os eventos, mas milhões de turcos saíram as ruas para festejar o legado de Ataturk.

Turquia celebra hoje o centenário da república. Governo de Erdogan cancelou todos os eventos, mas milhões de turcos saíram as ruas para festejar o legado de Ataturk.
Turquia celebra hoje o centenário da república. Governo de Erdogan cancelou todos os eventos, mas milhões de turcos saíram as ruas para festejar o legado de Ataturk. © Hulton Archive/Getty Images
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Ataturk fundou a moderna república olhando para ocidente – a Turquia seria um país laico, com códigos legais copiados de países ocidentais, e uma constituição que ambicionava tornar a Turquia num moderno país europeu. A sharia islâmica foi abolida, assim como os trajes orientalistas, e o alfabeto árabe foi substituído pelo latino.

Ataturk morreu em 1938, mas o seu legado foi sendo mantido por uma Estado centralista e autoritário, controlado pelas elites urbanas de Ancara e Istambul. Nas décadas que se seguiram a Turquia ficou firmemente ancorada ao Ocidente, aderindo a NATO, trabalhando com o FMI e o Banco Mundial, pedindo a adesão à União Europeia já nos anos 60.

Ainda assim, o projeto civilizacional de Ataturk foi sendo bloqueado por sucessivas crises económicas e políticas, em parte porque o país real – a Turquia profunda, era muito menos laica e europeia do que a minoria que governava. O país real era muçulmano, etnicamente diverso, e socialmente conservador, o que levava a clivagens e tensões profundas na sociedade. O exército – que assumiu o papel de guardião dos princípios laicos de Ataturk, levou a cabo vários golpes de estado, em 1960, 1971, 1980 e 1997.

Em 2002, um novo partido islâmico moderado, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Recep Tayyip Erdogan, que já tinha sido presidente da camara de Istambul, e tinha passado tempo na prisão devido à sua militância no islão político, ganhou pela primeira vez as eleições, e tem controlado o regime desde então. O AKP levou a cabo um ambicioso e bem-sucedido programa de modernização social e económica do país, que transformou por completo a face da Turquia.

A nova Turquia de Erdogan (quase uma segunda república, tal a clivagem com o passado ataturkista) é hoje uma potência regional, de cariz muçulmano, que quis trilhar e desenvolver capacidades próprias, independente das instituições ocidentais. A par da sua economia, desenvolveu uma formidável indústria e capacidade militar, que lhe deram ambições geoestratégicas, de voltar a ser um líder regional, defensor da causa islâmica, num mundo multipolar.

Talvez por isso, Erdogan decidiu passar discretamente por este centenário da república – uma criação ataturkista, preferindo mesmo falar do “século turco”. Ainda assim, milhões de turcos saíram à rua espontaneamente para prestar homenagem à república, numa manifestação de esperança num futuro melhor.

A nova Turquia de Erdogan é um país cada vez mais ambicioso, mas que tem dois grandes limitações – sem grandes recursos naturais (tem pouco petróleo e gás natural), a sua economia, apesar de pertencer ao G20, tem falhas estruturais, que a fazem depender do exterior. Depois, a governação autocrática de Erdogan, com uma crescente erosão das liberdades individuais, e do estado de direito, enfraqueceu muitas das instituições turcas, que estão agora centralizadas num homem só, e que não estarão aptas a responder aos desafios de um mundo cada vez mais complexo.

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