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Artes

Cabo-verdiana Luciény Kaabral vai para a companhia de Pina Bausch

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A bailarina cabo-verdiana Luciény Kaabral vai integrar a companhia fundada pela coreógrafa alemã Pina Bausch, uma das referências da dança contemporânea. O convite surgiu depois de ter participado no projecto de recriação da peça de Pina Bausch, “A Sagração da Primavera”, com 38 bailarinos de 14 países africanos. O processo de criação, na "École des Sables", no Senegal, é retratado no documentário "Dancing Pina", de Florian Heinzen-Ziob, exibido este sábado, na cidade da Praia.

Imagem do filme "Dancing Pina", de Florian Heinzen-Ziob.
Imagem do filme "Dancing Pina", de Florian Heinzen-Ziob. © "Dancing Pina" - Dulac Distribution
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Luciény Kaabral tem 22 anos, começou a dançar no grupo cabo-verdiano Raiz Di Polon aos 17 e fez o primeiro espectáculo aos 18 anos. No final do ensino secundário, estava à espera de uma bolsa de estudo para estudar medicina em Portugal, mas acabou por abraçar o caminho da dança que hoje descreve como “uma forma de devoção”. Foi, então, estudar para a Escola Superior de Dança, em Lisboa, com o apoio do programa Procultura que apoia artistas dos PALOP e Timor-Leste.

Em 2019, Luciény Kaabral foi à audição para uma recriação da peça de Pina Bausch “Sagração da Primavera” e acabou por integrar o grupo de 38 bailarinos de 14 países africanos, dirigidos por bailarinos da companhia fundada pela coreógrafa alemã, o Tanztheater Wuppertal Pina Bausch. O grupo ensaiou durante meses na célebre "École des Sables", no Senegal, mas a pandemia impediu o arranque da digressão e só um ano e seis meses depois é que a peça estreou em Madrid, em Setembro de 2021. Dos 38 bailarinos, até agora, só a cabo-verdiana foi convidada a integrar a companhia actualmente dirigida pelo coreógrafo Boris Charmatz.

O convite tem um peso ainda mais simbólico porque Pina Bausch é “uma lenda” que acompanhou o percurso de Lucieny na dança e que a ensinou “a contar uma história verdadeira” com o corpo.

Fazer o belo, fazer para mostrar bonito não é o objectivo. Podemos chegar lá - ou aos olhos dos espectadores podemos chegar lá - mas nós não estamos a dançar para alguém. Eu lembro-me do que ela já tinha dito, e foi repassado pelos bailarinos que trabalharam com ela, que é: 'Dança como se ninguém estivesse a ver'. Ou seja, é realmente de dentro para fora e, muitas vezes, lá nos ensaios, é exactamente o que nós passávamos. Tantas horas a repetir a mesma coisa, mas não é repetir a fazer a mesma coisa. É repetir até que o corpo sinta e grave aquela emoção que gera esse movimento e todas as partes do corpo estão envolvidas. Através da respiração eu conseguia atingir isso, mas só conseguia porque havia uma emoção por trás, havia um sentimento que nem sempre tem a ver com a história da peça, mas que tem a ver comigo mesma, com a forma como eu me sinto naquele dia. Por isso é que eu digo que é contar uma história verdadeira”, explicou a bailarina à RFI, na entrevista que pode ouvir aqui.

12:51

Lucieny Kaabral "Dancing Pina"

Luciény Kaabral é uma das vozes do documentário "Dancing Pina", de Florian Heinzen-Ziob, que retrata o processo de recriação de duas peças de Pina Bausch: “A Sagração da Primavera”, na "École des Sables", onde Luciény ensaia ao lado de bailarinos de toda a África, e “Ifigénia entre os Tauros”, ensaiada pela companhia de bailado da Semperoper, na Alemanha. No filme, a cabo-verdiana recorda que a pessoa com quem começou a dançar no grupo Raiz Di Polon, o bailarino Nuno Barreto, lhe falava constantemente de Pina Bausch e, desde então, vê a coreógrafa, falecida em 2009, como “uma lenda”.

Comecei em 2018 a trabalhar com o bailarino Nuno Barreto, que faz parte da Raiz Di Polon, e ele chamava-me muito à atenção no sentido de que dançar não é reproduzir um determinado movimento, não é copiar. Tens que realmente procurar as emoções que são reais e, com isto, trabalhar o movimento porque, aí sim, é real. Então, sempre quando ele insistia nessa questão e eu não estava a compreender, ele mostrava os vídeos da Pina Bausch, os bailarinos da Pina Bausch e os ensaios dela. Eu sempre admirava muito o que ela fazia porque eram pequenos gestos do quotidiano que nem sequer ligamos, mas ela consegue tornar aquilo dança. Então, ela sempre esteve presente desde o início na forma como eu vejo a dança. (…) Para mim, Pina Bausch é sem dúvida uma referência de dança, uma lenda quase”, conta Luciény Kaabral.

O documentário "Dancing Pina" é exibido este sábado [9 de Setembro] na Praia, na ilha de Santiago, e no dia 15 de Setembro no Mindelo, na ilha de São Vicente, na presença da bailarina que se encontra em Cabo Verde, este mês, no âmbito de vários projectos, entre criações coreográficas, workshops e oficinas. O filme estreou em França em Abril deste ano e vai estar disponível nas plataformas VOD na próxima terça-feira, 12 de Setembro.

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