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Artes

'Abotcha', a mediateca que deu outra vida a Malafo, no centro da Guiné-Bissau

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Malafo é uma pequena povoação do interior da Guiné-Bissau. Chega-se lá por caminhos de terra sombreados de espessa floresta e, no meio de um terreno de onde brotam árvores de fruto, fica a mediateca 'Abotcha' que significa literalmente 'sobre o chão'. Um espaço que desde a sua inauguração há pouco mais de um ano, em Setembro de 2022, trouxe mudanças na vida da comunidade.

Amadeu Pereira na Onça, na mediateca da qual é director, em Malafo, na Guiné-Bissau, Setembro de 2023
Amadeu Pereira na Onça, na mediateca da qual é director, em Malafo, na Guiné-Bissau, Setembro de 2023 © Liliana Henriques / RFI
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Criada com o apoio do realizador guineense Sana Na N'Hada, e da cineasta portuguesa Filipa César, a mediateca 'Abotcha' dispõe nomeadamente de uma biblioteca e de computadores, onde se pode ler e estudar. Algo notável nesta comunidade relativamente isolada, refere o impulsionador e director da mediateca, Amadeu Pereira na Onça, antigo funcionário e primo de Sana Na N'Hada, que realizou o sonho de dar algo mágico à sua aldeia.

"De facto, tivemos dificuldades no princípio para conquistar as pessoas porque não sabiam que havia uma biblioteca. Elas perguntavam 'porque é que trouxeste esta mediateca para cá na floresta, na tabanca isolada?' Mas viram que as pessoas começaram a vir cá visitar e tomar conhecimento de alguns livros. Este é um projecto ambicioso. Naturalmente que temos alunos aqui. Esta biblioteca e mediateca podem proporcionar um aumento de nível porque a tabanca tem outras tabancas em redor", começa por referir o fundador dessa estrutura.

"As pessoas aprendem a ler, a escrever, a ler as histórias de outras partes do mundo. Também fizeram aqui um workshop de instrumentos musicais tradicionais. As crianças vêm aqui aprender a tocar cora, balafom, viola dos Balantas, Ngoni e muitos outros. Aqui também há arquivos que falam da luta de libertação e as pessoas têm muito interesse em ver estas imagens também", explica Amadeu Pereira na Onça referindo-se nomeadamente às projecções dos primeiros filmes de Flora Gomes e de Sana Na N'Hada sobre o período da guerra de independência, uma das actividades organizadas pela mediateca.

Relativamente a outra componente muito forte da mediateca Abotcha, o cultivo da terra e a sensibilização para a protecção do meio ambiente, o director da estrutura refere que "palmeiras foram derrubadas para fazer o edifício, mas que como ambientalistas, é preciso replantar as árvores. Por cada árvore abatida aí, são repostas 10 a 14 novas plantas para substituir", nomeadamente árvores de frutas.

Amadeu Pereira na Onça, que não esconde sentir orgulho por dirigir a mediateca, sublinha que ela "tem um grande impacto. Alerta as pessoas que vale a pena ter uma escola. Faz com que as pessoas tenham mais ambição. Isto aqui é uma maravilha. Quem vem aqui, vê os materiais que estão ali, os livros, os computadores e a impressora -que não havia nesta zona- as pessoas têm a ideia que vale a pena ter uma escola em condições".

Para o dirigente da mediateca, de olhos postos noutros projectos, trata-se agora é desenvolver actividades de formação nesse espaço. "A ambição de tenho agora é elevar o nível da escola para o 12° ano e consequentemente chegar até ao nível da universidade, porque as tabancas vizinhas não têm liceu. Também tenho a ambição de ter cursos de formação. As pessoas, depois de concluir o 12° ano, deveriam poder fazer uma formação em diferentes áreas, porque essa comunidade é muito pobre, não tem meios financeiros para custear os estudos lá fora em Bissau ou Mansoa. Se houver esta possibilidade de acrescentar escolas de formação na construção, mecânica, agricultura, pecuária, seria muito importante" conclui Amadeu Pereira na Onça.

Eis a visita da mediateca com imagens:

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