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Artes

"Ópera hip-hop" angolana é “manifesto político” para maior diversidade em palco

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“As aventuras do Angosat” é uma “ópera hip-hop” do artista angolano Ísis Hembe que acompanha a jornada de um astronauta em busca de vida inteligente além da Terra. A obra cruza códigos das culturas urbanas com elementos mais clássicos e tenta redefinir a noção de belo a partir da diversidade funcional e do design universal, dois conceitos centrais que fazem da peça um “manifesto político”, como nos explicou o seu autor.

As aventuras do Angosat.
As aventuras do Angosat. © Ísis Hembe
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“As aventuras do Angosat é uma hip-hop ópera que conta a história do Man Ré que é um astronauta angolano que vai para fora da Terra à procura de vida inteligente. No percurso, perde-se e faz elucubrações filosóficas a respeito da nossa busca por vida inteligente fora da Terra que, eventualmente, não encontramos dentro de nós, nem ao nosso redor”, começa por resumir Ísis Hembe.

O que é uma ópera hip-hop? O autor e músico de hip-hop resume que se trata de “um musical dramático” que resulta de “um mix de linguagens”, em que se cruzam “a linguagem épica da ópera” com a cultura do hip-hop, com o “reciclar de modelos de consumo como o TikTok” e com o uso de “samples”.

A síntese desses dois universos [ópera e hip-hop] é uma coisa bonita. Nós, do hip-hop, somos mesmo provocadores. Nós gostamos de sair das definições pré-estabelecidas e provocar os críticos para, eventualmente, expandirem a sua percepção em relação à efervescência da arte na vida real”, acrescenta Ísis Hembe.

O autor da peça, que também é a personagem principal, sublinha que além de provocarem, os participantes também se deixaram influenciar por provocações inerentes à própria obra. Uma das “provocações” que mais mexeu com ele, por exemplo, foi a utilização, como personagem da peça, de “um coro de linguagem gestual angolana”, ou seja, “um coro visual” para um público mais habituado a ouvir.

Ísis Hembe conta, ainda, que a obra junta várias pessoas com deficiência e tem "uma abordagem de design universal” dentro e fora do palco, ou seja, “um máximo de pessoas possíveis com deficiência podem assistir” e participar.

A nossa motivação foi mesmo trazer o belo a partir dessa perspectiva do olhar da diversidade e incluir as pessoas em diversidade funcional, sem a tónica daquela representatividade um pouco cliché que é de só estar lá por estar. Nós conseguimos trazer uma abordagem um pouco diferente - que é a tónica do projecto inteiro - que é o design universal, em que todos podemos participar com as nossas valências, com as nossas possibilidades e potencialidades e criar uma coisa bonita, onde a ênfase não está necessariamente nos corpos não normativos, mas sim na beleza.

Este é também um olhar político que derruba cânones estéticos e sociais, acrescenta Ísis Hembe. “É um pouco esse olhar que nós queremos promover: é que as pessoas em diversidade funcional podem agregar muita beleza nos palcos e na vida. É um manifesto político, sim, porque nós entendemos que a diversidade seria o projecto social mais interessante e através das nossas artes levantarmos essa bandeira.”

“As aventuras do Angosat” foi encenado pela artista brasileira Fernanda Farah e esteve em cartaz no Festival inclusivo de artes “No Meu Mundo’’, que decorreu no Animart, Centro de Animação Artística do Cazenga, em Luanda, no mês de Outubro.

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